Correção: no total, foram 28.610 hectares engolidos pelo fogo entre janeiro e julho de 2022, e não 28.619 hectares como publicado entre as 18h34min de 18 de agosto e as 13h32 de 19 de agosto. O texto já foi corrigido.
A seca extrema que atingiu o Rio Grande do Sul no verão de 2022 acabou contribuindo para o aumento de 3.372% nas queimadas no Bioma Pampa entre janeiro e julho de 2022, segundo o Monitor do Fogo do MapBiomas, divulgado nesta quinta- feira (18).
No total, foram 28.610 hectares engolidos pelo fogo, principalmente, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano. Conforme o pesquisador do MapBiomas Eduardo Vélez, as queimadas não são frequentes no bioma gaúcho.
— O que este dado mostra é exatamente o que ocorreu no verão passado, quando o Estado estava sob efeito do La Niña. Se olharmos o percentual, apavora. Mas ao olharmos a área em hectares, não é algo tão grande assim. As queimadas em outros biomas, como Amazônia, Cerrado e Pantanal, foram muito maiores — acrescenta.
Vélez explica que, ao longo dos anos, foram registradas poucas grandes queimadas no Pampa por dois motivos: o bioma tem mais agricultura em seu território do que vegetação nativa, e na agricultura não é usado o fogo como prática para limpeza da área para novo plantio, e o bioma é campestre e não florestal, seus campos nativos são usados para pecuária. E, neste caso, como o gado pasteja o campo, não há acúmulo de vegetação que poderia formar uma biomassa seca em grande quantidade, facilitando o fogo num período de estiagem.
— Em 2021, o Pampa teve apenas 200 hectares queimados. Neste ano, por conta do La Niña, estas áreas acabaram se ampliando. Elas ficaram concentradas na Fronteira Oeste e em algumas áreas de banhado — comenta Vélez.
No Brasil, o Bioma Pampa só existe no Rio Grande do Sul, onde ocupa uma área de aproximadamente 193.836 quilômetros quadrados, que corresponde a 69% do território estadual e a 2,3% do território brasileiro. O bioma, segundo a Embrapa, se estende pelo Rio Grande do Sul, pela Argentina e pelo Uruguai, ocupando uma área total de 700 mil quilômetros quadrados.
Mais queimadas
Três em cada quatro hectares queimados no Brasil nos primeiros sete meses de 2022 foram de vegetação nativa, sendo a maioria em campos naturais. A maior parte está no bioma Amazônia, onde 16% da área queimada corresponderam a incêndios florestais, ou seja, áreas de floresta que não deveriam queimar. O Mato Grosso foi o Estado que mais queimou (771.827 hectares), seguido por Tocantins (593.888 hectares) e Roraima (529.404 hectares). Esses três estados representaram 64% da área queimada afetada no período.
No Cerrado, a área queimada (1.250.373 hectares) foi 9% menor que no mesmo período do ano passado, porém 5% acima do registrado em 2019 e 39% maior que em 2020. O mesmo padrão foi identificado na Mata Atlântica, onde houve uma queda de 16% em relação a 2021 (ou 14.281 hectares), mas um crescimento de 11% em relação a 2019 e 8%, na comparação com 2020. O Pantanal, por sua vez, apresentou a menor área queimada nos últimos quatro anos (75.999 hectares), com 19% de redução de 2022 para 2021 em relação a área queimada de janeiro a julho.
Novo modelo
Os dados apresentados nesta quinta (18) pelo Monitor de Fogo fazem parte de uma nova versão do levantamento disponibilizado na plataforma do MapBiomas. A partir de agora, a entidade passará a fazer uso de imagens do satélite europeu Sentinel 2. A cada cinco dias, o satélite, que tem resolução espacial de 10 metros, passa sobre o mesmo ponto, aumentando a possibilidade de observação de queimadas e incêndios florestais.
Os dados começarão a ser divulgados mensalmente. O Monitor do Fogo do MapBiomas difere e complementa o monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) porque avalia as cicatrizes do fogo, e não os focos de calor. O motivo é simples: dados de focos de calor representam a ocorrência de fogo (e potencialmente contribuem para seu combate) mas não permitem avaliar a área queimada.
O Monitor de Fogo, por sua vez, revela em tempo quase real (diferença de um mês) a localização e extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição que é apontada pelos focos de calor da plataforma do INPE.