A prefeitura de Balneário Camboriú, no litoral catarinense, iniciou nas últimas semanas o plantio de restinga na Praia Central, após o alargamento da faixa de areia do local. A instalação da vegetação, que já estava prevista no projeto como uma condicionante do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) para a autorização da obra, agora está sendo questionada por um grupo liderado por Edson Renato Dias, ex-prefeito da cidade, conhecido como Piriquito, que chegou a criar um abaixo-assinado sobre o assunto. O tema mobilizou os usuários do Twitter nesta quinta-feira (16).
Conforme as publicações nas redes sociais do ex-prefeito e o texto do abaixo-assinado, a principal demanda é pela realização de uma audiência pública para discutir o plantio, que, em seu entendimento, mudaria "bruscamente as caraterísticas dessa praia que é totalmente urbana". Ele alerta que a medida poderia atrair animais peçonhentos e gerar insegurança.
Em vídeo publicado em seu Instagram nesta quinta, Piriquito citou suas contribuições para o meio ambiente quando era prefeito, mas ressaltou que é contrário ao plantio de restinga na Praia Central e à implantação de dunas. Ele afirmou que quer "que seja discutido com a cidade o que vai acontecer com o futuro de Balneário Camboriú", pois não concorda que se façam acordos "sem contar para a comunidade o que vai acontecer".
Segundo a secretária do Meio Ambiente de Balneário Camboriú, Maria Heloísa Lenzi, qualquer pessoa pode convocar uma audiência pública para tratar sobre qualquer tema, mas que o plantio de restinga foi uma condicionante do IMA para a emissão do licenciamento ambiental para o alargamento da faixa de areia, com a anuência do Ministério Público de Santa Catarina, e que, por isso, só pode ser revisto se ambos assim o desejarem.
— Temos tido uma discussão muito técnica relacionada à plantação da restinga. Além do espaço para a circulação das pessoas que o alargamento da faixa de areia proporcionou, o objetivo do projeto também era recuperar as condições naturais que a praia tinha. A obra movimentou o ambiente natural da praia e queremos respeitar essa condicionante técnica, para que a obra siga tendo sucesso, como já teve — destaca a secretária.
Nesta primeira etapa, está sendo plantada restinga em uma área de 6 mil metros quadrados, no trecho onde fica a Barra Sul. Este será um projeto-piloto, a fim de testar como as mudas vão se comportar, para, em um segundo momento, continuar com o plantio em paralelo a obras de urbanização. Se o desenvolvimento das mudas for bem-sucedido, o trecho servirá de banco de mudas para o restante da praia. Foi feita uma licitação e contratada a empresa Igara Engenharia Ambiental Ltda., que receberá R$ 1,2 milhão para produzir e plantar as mudas.
Conforme Maria Heloísa, não há motivo para preocupação com a segurança no local, uma vez que o tipo de restinga que está sendo plantado é uma vegetação rasteira, que não passa de 30 centímetros.
Paula Martinez Falcão Pereira, que é oceanóloga, mestre em Gerenciamento Costeiro e doutoranda em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que a mata da restinga faz uma barreira de contenção da elevação do nível do mar e, por isso, é fundamental.
— Essa mata tem uma função ecológica insubstituível, que é a de fixar as dunas. Além de fazer a proteção, esse ecossistema também garante a qualidade da água, porque filtra a água que entra no lençol. É um ambiente que precisa ser preservado e não está sendo, por conta, principalmente, do processo de urbanização das praias — pontua Paula.
A oceanóloga relata que na Praia do Cassino, em Rio Grande, por exemplo, outro tipo de manejo foi feito – o das dunas costeiras — para proteger o ecossistema local e as edificações próximas do nível do mar. Segundo a profissional, as dunas foram sendo retiradas ao longo do processo de urbanização e especialistas perceberam o risco que isso causava.
— O plantio de vegetação é importante, em Balneário Camboriú, até para não se perder tudo o que foi feito durante essa grande obra de alargamento. A única barreira natural contra o nível do mar são as dunas e a vegetação — sinaliza Paula.