Um grupo de pesquisadores brasileiros anunciou a identificação do primeiro caso de dicefalia — duas cabeças — em um tubarão-bagre da espécie Squalus acanthias no mundo. O animal foi encontrado por pescadores entre as cidades de Itanhaém e Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, e doado ao Instituto de Biologia Marinha e Meio Ambiente (Ibimm), que conduziu a pesquisa juntamente com a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto de Pesca de Santos.
De acordo com o artigo sobre a descoberta, que foi publicado no Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, o animal pode ser também o primeiro registro de gêmeo siamês da espécie. Edris Queiroz, professor e biólogo responsável pelo estudo ao lado da bióloga Luana Felix (ambos do Ibimm) e dos professores Alberto Amorim e Eduardo Malavasi (do Instituto de Pesca), explica que, além das duas cabeças, o espécime apresenta dois corações e duas colunas vertebrais independentes, bem como outros órgãos internos duplicados.
Registros de tubarões com duas cabeças são raros no mundo, mas há alguns documentados. No entanto, neste caso, trata-se do primeiro da espécie encontrado na natureza e descrito na literatura. Queiroz afirma que, infelizmente, esses animais costumam viver pouco tempo, pois se tornam presas fáceis logo após o nascimento.
Segundo o biólogo, anomalias congênitas podem ser modificações ou malformações encontradas na fase de desenvolvimento embrionário do animal. E, apesar de não existir motivos definidos, por se tratar de um acontecimento muito raro, essas alterações podem ser causadas por fatores ambientais e genéticos.
— (Pode estar relacionado à) poluição dos oceanos, alterações genéticas, compressão do útero da mãe e má divisão do óvulo — esclarece.
Para Queiroz, a descoberta pode ajudar a chamar atenção para os problemas observados nos ambientes marinhos, considerando que o surgimento de anomalias pode sinalizar que algo preocupante está acontecendo. Além disso, pode auxiliar outros pesquisadores e cientistas a entender as anomalias desses animais, para então buscar medidas para a preservação das espécies.