O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), decretou situação de emergência no Estado nesta terça (10) devido ao aumento nos incêndios florestais. A medida foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE). O decreto permite que o governo estadual compre equipamentos, adquira bens sem licitação e suspenda contratos administrativos. Em agosto, Amazonas e Acre também decretaram situação de emergência devido à onda de queimadas que tomou o país.
No decreto, Mendes aponta um aumento nas queimadas somado ao período de estiagem na região, que chega a quatro meses. A umidade relativa do ar variou entre 7% e 20% na última semana, índices que podem causar riscos a saúde, como a intensificação de problemas respiratórios e de alergias. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), uma região já deve ficar em estado de observação quando os valores chegam entre 30 % e 40%.
Como consequência, todos os atrativos turísticos do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, foram fechados na segunda-feira (9). A cachoeira do Véu de Noiva, a mais conhecida da região, também foi interditada para garantir a segurança dos visitantes.
Um incêndio anterior no parque foi combatido no dia 29 de julho, mas novos focos voltaram a afetar o local no domingo (8). As chamas descontroladas atingiram e mataram animais e provocaram engarrafamento na rodovia Emanuel Pinheiro (MT-251) que liga a região à capital mato-grossense.
No primeiro incêndio, as chamas alcançaram 13% da vegetação. Ainda não há estimativa de o quanto foi atingido pelos novos focos.
Turismo prejudicado
Os comerciantes de Chapada dos Guimarães reclamam que os incêndios que afetam o Estado desde julho afastaram os turistas.
— No ano passado não vimos fogo, o governo fez medidas de contenção (aceiro) na rodovia. O tempo ajudou também, choveu mais. Neste ano nem fez frio, só calor e fogo. Agora é rezar para não chegar aqui, porque não podemos ter medo e deixar o nosso lugar — afirma Romies Rodrigues, proprietário do Balneário Vale Verde, no rio Paciência, vizinho à região atingida pelo fogo no domingo.
Duas aeronaves sobrevoaram o parque durante toda terça-feira. Os aviões atuam como apoio aos 24 homens que combatem diversos incêndios na região. O grupo aguarda mais duas aeronaves vindas de Rondônia.
O Mato Grosso foi o estado líder em queimadas neste ano em comparação com 2018. Até 21 de agosto, mais de 13.600 focos de calor haviam sido registrados no estado, segundo dados do ICV (Instituto Centro de Vida), com base na plataforma do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Quando comparados os focos de calor dos primeiros oito meses de 2019 com o mesmo período no ano anterior, o aumento foi 87%.
Considerando o período proibitivo (de julho a setembro), quando é ilegal fazer queimadas em todo o Mato Grosso, o aumento em relação ao ano passado é de 205%.
Desde 15 de julho, esse é o quinto incêndio a ameaçar o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente, o fogo na unidade de conservação teve início por meio de "ignição proposital", na região do Portão do Inferno, um paredão de arenito usado como mirante para os turistas.
A assessoria do governo de Mato Grosso afirma que uma região de 29.528,34 hectares foi autuada por conta de incêndios criminosos. Seis pessoas foram multadas durante a fiscalização em 31 regiões, com apreensão de 15 tratores e 13 motosserras.
Além da destruição da floresta amazônica, os incêndios no Mato Grosso ameaçam também comunidades indígenas como a aldeia Japuíra do povo myky, na Terra Indígena Menku, em Brasnorte, que quase foi destruída pelo fogo.
Neste ano, cortes de 38% (R$ 17,5 milhões) das verbas para o Prevfogo, programa de prevenção às queimadas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), reduziram as brigadas em terras indígenas. Segundo o projeto Queimadas, do Inpe, pelo menos 40 terras indígenas foram afetadas pelo fogo desde janeiro.
Os cinco estados com mais focos de incêndio em 2019
- Mato Grosso: 13.682
- Pará: 9.487
- Amazonas: 7.003
- Tocantins: 5.751
- Rondônia: 5.533
Fonte: Programa Queimadas - Inpe