Os focos de incêndio de 2019 na Amazônia se concentram em propriedades privadas, de acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Essas áreas cobrem 18% da Amazônia e concentram 33% dos focos de fogo registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 1º de janeiro e 29 de agosto deste ano.
O país, como um todo, registrou até agosto o maior número de incêndios desde 2010. Mais de metade dos focos de fogo estão na Amazônia.
Segundo o estudo do Ipam, considerando-se terras privadas e as áreas de proteção ambiental (APAs) — nelas é possível ocupação e alguns tipos de uso —, o valor chega a 39%.
Também houve concentração de focos de incêndio (cerca de 20%) em florestas públicas não destinadas — nas quais qualquer desmatamento e incêndio é ilegal — e em áreas sem informação cadastral (10%).
O presidente Jair Bolsonaro chegou a associar, sem provas, as queimadas a ações de ONGs. Algum tempo depois também falou sobre a possibilidade de incêndios espontâneos e da participação do agronegócio nos incêndios.
— O pessoal mesmo faz essa queimada. É quase uma tradição — disse, no último dia 24.
Alguns dias depois, porém, contrariando o que Bolsonaro falou, o canal oficial em redes sociais da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República fez uma publicação na qual afirma que "é oportunismo relacionar focos de incêndio na Amazônia com a produção rural local".
A nota técnica do Ipam também mostra que assentamentos rurais concentram outros 18% dos focos de incêndio, que estão concentrados em poucas dessas áreas.
Por outro lado, as áreas que menos sofreram com os focos de fogo registrados até o momento foram as terras indígenas e as Unidades de Conservação (UC), respectivamente com 6% e 7% dos incêndios.
Mesmo mais protegidas, a nota técnica do Ipam aponta que os focos de incêndio dobraram nas UCs em relação à média dos últimos oito anos. Destaca-se nesse contexto a Floresta Nacional do Jamanxim, que sofre grande pressão de grileiros. A área protegida também fica próxima à cidade de Novo Progresso, região na qual ocorreu o "dia do fogo" — queima coordenada de pasto e de áreas em processo de desmate.
De acordo com a análise do Ipam, os dados mostram que os focos de incêndio estão relacionados com o desmatamento.
Não necessariamente queimadas e desmatamento são ilegais, podendo ser autorizados por órgãos governamentais, afirma a nota técnica.
Um decreto assinado pelo presidente Bolsonaro na semana passada proibiu queimadas em todo o país por 60 dias. Em seguida, o presidente alterou o texto do decreto, que restringiu a proibição somente à Amazônia.