O fogo que consome desde terça-feira (10) parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, em Palhoça, na grande Florianópolis, em Santa Catarina, avançou ao longo da tarde desta quarta (11) e já destruiu uma área de aproximadamente mil hectares, estima o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA).
De acordo com o gerente de Áreas Naturais Protegidas do IMA, Aurélio José de Aguiar, durante a tarde desta quarta o vento ficou mais intenso na região e o fogo tomou novas frentes, chegando a áreas que o órgão não esperava que fossem atingidas.
— No fim da tarde, o vento mudou novamente a direção e atingiu uma região importante do ponto de vista da educação ambiental, que é o centro de visitantes do parque, com trilhas interpretativas e o local onde a equipe recebe os visitantes. Essa área pode ficar comprometida. São mil hectares atingidos durante os dois dias de incêndio — declarou o gerente do IMA.
No começo da tarde, a Polícia Militar Ambiental calculava que cerca de 558 hectares do parque tinham sido destruídos pelo incêndio. À noite, o tenente da PM Ambiental Carlos Eduardo Rosa informou que um novo diagnóstico da área queimada será divulgado apenas nesta quinta, mas indicou que ela aumentou significativamente ao longo do dia.
De acordo com o Carlos Eduardo Rosa, os focos se intensificaram no começo da tarde, quando as chamas atravessaram a Estrada do Espanhol, que corta a área do parque. O fogo chegou a se aproximar do 2º Batalhão da PM Ambiental, mas foram contidas.
O histórico do combate ao incêndio
O combate aos focos de incêndio iniciado na terça continuou até as 4h desta quarta, em uma ação que envolvia impedir que as chamas chegassem às residências ao lado do parque. Nenhuma casa chegou a ser atingida, e o fogo foi controlado, mas uma mudança no vento fez com que o incêndio seguisse nesta quarta de manhã em direção ao Sul do parque, em uma área sem residências.
No entanto, por ser uma região de mata fechada, o combate ficou mais difícil, dependendo da ação do helicóptero Arcanjo, do Corpo de Bombeiros, que incessantemente buscava água em um lago às margens da BR-101 e soltava sobre a floresta.
Por terra, mais de 30 oficiais da Polícia Militar Ambiental tentavam se aproximar das chamas para usar abafadores, mas o perigo de ser cercado pelo fogo impediu vários dos avanços.
Outros 50 bombeiros militares e comunitários atuam no local e mais 20 homens das Forças-Tarefa dos Batalhões de Bombeiro Militar de Balneário Camboriú e Criciúma estão a caminho. Até as 16h desta quarta, foram lançados 44 mil litros de água pelo Arcanjo 01 e aproximadamente 80 mil litros pelos caminhões de combate a incêndio. No fim da tarde, a operação ganhou reforço de caminhões-pipa.
Moradores prestaram auxílio aos trabalhos
Pelo menos 10 moradores da região, de locais como a Guarda do Embaú e da Praia da Pinheira, estão no local auxiliando, voluntariamente, para apagar as chamas. Eles usam bombonas d’agua e abastecem em casa ou nos riachos que encontram mais próximo aos focos de incêndio.
Julia Minelli 27 anos é voluntária. Acompanhada de outros moradores, foi até a área de incêndio ainda na noite de terça-feira (10).
— A gente chegou aqui às 22h e saiu às 2h. Não tinha mais fogo. Isso aqui (mostra a região queimada) era tudo verde quando saímos daqui — conta Julia.
Emili Penélope Pereira, 30 anos, chama voluntários para contribuir:
— A gente precisa de ajuda. Há uma hora não tinha nada disso. Há pouco as chamas subiram. Quem puder vir ajudar, trazer água, é muito importante.
Os voluntários foram orientados pelos bombeiros para que não se aproximem das chamas mais altas e nem caminhem sozinhos perto dos locais com muita fumaça.
— A gente combate esses focos pequenos, onde já acabaram as chamas mais altas, para que o fogo não volte forte de novo — disse Emili.
Fauna deve sofrer maior impacto do incêndio
O incêndio que atinge o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro pode resultar em um prejuízo significativo para a fauna da unidade ambiental, avalia o professor Orlando Ferretti, do curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Membro do Observatório de Áreas Protegidas, da UFSC, Orlando acredita que, além dos cerca de mil hectares de vegetação já consumidos pelo fogo, animais em extinção em grande parte de Santa Catarina podem estar entre os mais afetados pela queimada.
— O fato de ser uma área de restinga bem estabelecida tem feito com que muitos animais fiquem ali, inclusive animais de grande porte. Então, esse pode ser o maior impacto do incêndio. Animais como antas, capivaras, muitos roedores, além de gatos do mato podem estar entre os afetados pelo fogo — comenta o professor.
A rapidez com que as chamas se espalharam torna a situação mais dramática. Carlos Cassini, coordenador do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, relata que entre a manhã e a tarde desta quarta-feira (11) as chamas percorreram uma área de seis a sete quilômetros em cerca de três horas, o que pode ter dificultado a fuga dos animais.