Sob atenção da mídia internacional, integrantes da delegação brasileira e representantes da sociedade civil do país na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP24) deram, nesta terça-feira (11), em Katowice, na Polônia, uma entrevista coletiva repleta de ponderações sobre a futura participação do país nas discussões climáticas e o posicionamento do presidente eleito, Jair Bolsonaro, em relação ao tema.
Em sua manifestação, Alfredo Sirkis, desde 2016 coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC) – cargo não remunerado que é designado pelo presidente da República e exercido por um integrante da sociedade civil –, fez duras críticas ao futuro governo, ao mesmo tempo expressando o desejo de que o Brasil não siga o exemplo do Executivo dos Estados Unidos, que tem constantemente negado a necessidade de discutir e investir no combate às mudanças climáticas.
— O que aconteceu no Brasil recentemente (nas eleições) foi um verdadeiro terremoto político. De certa maneira, é pior do que o que se passou nos Estados Unidos, porque Trump não ganhou por voto popular, e Bolsonaro, sim. (...) Ainda temos que entender quem são essas pessoas (do novo governo). As primeiras manifestações do ministro das Relações Exteriores e do ministro do Meio Ambiente são extremamente preocupantes. Por outro lado, achamos que há setores do novo governo em que será possível algum diálogo no futuro — afirmou Sirkis, falando em inglês a dezenas de jornalistas de diversos países em um evento oficial da conferência.
As perguntas aos integrantes e observadores da comissão brasileira concentraram-se, principalmente, no futuro do Brasil em relação ao ambiente, especialmente após a decisão de não sediar a COP25, anunciado pelo governo de Michel Temer e reiterada por Bolsonaro.
— Eu fui colega dele por dois anos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e, por quatro anos, no Congresso Nacional, na mesma comissão sobre relações exteriores. Interagimos de maneira civilizada, apesar de grandes diferenças. (...) Essa é a nova realidade, e temos que pensar muito a respeito. Precisamos manter a calma e entender todos os problemas que teremos — disse Sirkis.
O tom pessimista não foi o mesmo adotado pelos demais na coletiva: Paulo Barreto, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon); André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam); e Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. Também representantes da delegação brasileira, eles preferiram adotar um discurso mais voltado à esperança de que o Brasil, por décadas protagonista na defesa do ambiente, continue tendo um papel de liderança, apontando – e seguindo – bons caminhos.
— O Brasil reduziu o desmatamento na Amazônia em 84% de 2004 a 2012, mas, desde então, o problema voltou a aumentar. O país já fez um bom trabalho no passado. Sabemos como fazer, e podemos voltar fazê-lo. Ou podemos seguir nessa nova tendência — ponderou Barreto.
Representantes do mundo todo estão na Polônia buscando formalizar uma espécie de "livro de regras" que guie as responsabilidades de cada país no combate às mudanças climáticas, no maior evento global sobre o tema, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). A 24ª Conferência do Clima segue até sexta-feira (14), quando os países deverão chegar – ou não – a um acordo que solidifique o Acordo de Paris, um tratado mundial firmado em 2015 que tem o objetivo de reduzir o aquecimento global.
* O repórter viajou à Polônia para a COP24 como integrante do Climate Change Media Partnership 2018, uma colaboração entre a Earth Journalism Network e a Stanley Foundation.