
Escolhido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para comandar a pasta do Meio Ambiente, Ricardo Salles afirmou que o Brasil deve permanecer no Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, mas que o mundo também precisa respeitar a autonomia do país para estabelecer suas políticas ambientais. A afirmação foi feita à Agência Reuters na segunda-feira (10), após Bolsonaro dizer, durante a campanha eleitoral, que poderia retirar o Brasil do Acordo de Paris.
— A minha tendência é dizer que nós não devemos deixar o acordo.Mas, por outro lado, isso também não significa que nós devemos aceitar toda e qualquer sanção, restrição e programa de maneira indiscutível. Todos os países têm que respeitar a autonomia brasileira para gerir seu território e decidir suas políticas do meio ambiente internamente — disse Salles, que foi indicado no domingo (9) por Bolsonaro.
Ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Salles disse que acredita na mudança climática, mas que não sabe dizer com certeza se ela é provocada pelo homem ou uma alteração que ocorre naturalmente.
— O Brasil deveria deixar essa questão para os acadêmicos e seguir em frente com o negócio “menos charmoso” da proteção ambiental — disse, acrescentando — o que inclui lidar com dejetos, biodiversidade, questões ligadas ao solo e a conversão da frota de veículos para combustíveis menos poluentes.
Ambientalistas
As polêmicas que envolvem o Ministério do Meio Ambiente começaram logo após vitória de Bolsonaro nas eleições, quando chegou a ser anunciada a fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Depois de reações negativas, o presidente eleito recuou da decisão.
No entanto, a escolha de Ricardo Salles para comandar a pasta do Meio Ambiente gerou críticas de várias organizações que defendem direitos ambientais.
A coalização de organizações da sociedade civil Observatório do Clima avaliou assim a indicação.
— Se por um lado contorna o desgaste que poderia ter com a extinção formal da pasta, por outro garante que o MMA (Ministério do Meio Ambiente) deixará de ser, pela primeira vez desde sua criação, em 1992, uma estrutura independente na Esplanada. Seu ministro será um ajudante de ordens da ministra da Agricultura — acusa a entidade em nota.
O Greenpeace avalia que a nomeação de Salles ocorre no momento em que a área ambiental recebe más notícias, quando o desmatamento da Amazônia registrou o maior índice dos últimos dez anos e o país acaba de retirar sua candidatura para sediar a COP-25. E também julga que irá favorecer os setores ligados à agricultura.
— A principal função do novo ministro será a promoção de uma verdadeira agenda antiambiental, colocando em prática medidas que vão resultar na explosão do desmatamento na Amazônia e na diminuição do combate ao crime ambiental. O que já está ruim, pode piorar — afirmou Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil.
A WWF, outra organização não governamental internacional, comentou a nomeação, dizendo que esta é uma pasta estratégica para o Brasil. A entidade destaca que a destruição ilegal das florestas na Amazônia e do Cerrado diminuem a competitividade dos produtos brasileiros diante de um mercado global que busca produtos livres de desmatamento, além de prejudicar o cumprimento dos compromissos que o Brasil assumiu no Acordo de Paris, como a diminuição na emissão de gases de efeito estufa.
— Desejamos que o Ministério do Meio Ambiente cumpra a missão de balancear as questões ambientais nas outras pastas do governo, zelando assim para que o Brasil tenha medidas necessárias para proteger de forma estratégica o nosso imenso patrimônio natural. E que tenha capacidade de dialogar com os diversos setores da sociedade, uma vez que o direito à um meio ambiente saudável se aplica a todos, desta e das futuras gerações — disse Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.