Há pouco mais de uma semana, deslizamentos de pedras e terra na BR-158 interromperam o fluxo de veículos nessa que é uma das principais artérias viárias do Rio Grande do Sul. Ela é vital para o escoamento das safras da região das Missões e Fronteira Noroeste até o porto de Rio Grande, por exemplo. A chuvarada constante desde o inverno tem provocado desbarrancamento de morros, sobretudo no trecho de 20 quilômetros entre Itaara e Santa Maria. O que coloca em risco motoristas e provoca intensos congestionamentos.
Foi assim dias 16 e 17, quando rochas inteiras deslizaram em meio à lama, bloqueando o tráfego no km 316, próximo a Itaara. O trânsito ficou interrompido nos dois sentidos da serra, com mais de cinco quilômetros de engarrafamento. Os motoristas de automóveis ainda conseguiram usar uma rota alternativa para Santa Maria, a Estrada do Perau, mas os caminhões tiveram de dar uma volta de centenas de quilômetros.
A chefe da 9° Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Ana Cristina Londe, enviou equipes de manutenção que lutaram durante horas para reabrir pelo menos uma das pistas. Bombeiros foram chamados para derrubar propositalmente rochas que estavam soltas na encosta, com jatos de água. Máquinas trabalharam dia e noite retirando os pedregulhos e a terra. Só então duas pistas foram liberadas. Uma terceira, usada por quem está subindo, continua interrompida porque está muito próxima dos morros e há risco de que as pedras caiam sobre os veículos.
Nesta quarta-feira (25), GZH conferiu o local. O tráfego é incessante, embora mais lento e sem a terceira pista. Ana Cristina destaca que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e uma empresa especializada em manutenção de rodovias providenciaram barreiras de contenção nas encostas do km 316 da BR-158. Os especialistas colocaram grandes tubos de concreto junto ao morro, na intenção de que eles sirvam de anteparo às pedras que rolam até a rodovia.
Ana Cristina ressalta que o grande volume de água registrado no inverno tem feito com que vários pontos da serra contígua a Santa Maria desmoronem. Os deslizamentos ficaram crônicos, as interrupções na BR-158, também, como detalham caminhoneiros ouvidos pela reportagem. Muitos preferem esperar e passar a noite em postos de gasolina. Outros seguem viagem por desvios muito grandes.
Doutor em Mobilidade Urbana e Transportes, professor na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e usuário eventual da BR-158, o engenheiro civil Carlos Félix lembra que essa é uma das principais rodovias do Brasil, não só do Rio Grande do Sul:
— É estratégica para a logística nacional e termina em Santana do Livramento, faz inclusive conexão com o Uruguai. Predominante para escoar grãos como soja e trigo. Ela não passa em capitais, é característica do Interior.
Em relação aos desmoronamentos, Félix considera esse fenômeno típico de rodovias de encosta. O especialista lembra que é preciso criar estruturas de contenção dos morros, com técnicas preventivas, como muros para estabilização de taludes.
— São os muros de arrimo. Outros, os pré-moldados em concreto. Ou muros de saco com solo-cimento. Existem ainda as cortinas de concreto, quando a necessidade é muito grande. A grande questão é verificar de forma constante a drenagem e a estabilidade dos taludes. Além de checar a vegetação nas encostas — explica.
A reportagem procurou o Dnit e questionou sobre medidas que estão sendo tomadas. O departamento, por meio de nota, informa que desde março desenvolve um projeto executivo de melhorias e restabelecimento de contenções de toda a encosta da serra Santa Maria — Itaara. O projeto, que tem previsão de conclusão em novembro, apontará as soluções definitivas para todo esse trecho, contemplando inclusive o ponto que houve os últimos deslizamentos, que devem ser priorizados.
O Dnit admite que a BR-158 é vital para ligar o noroeste do Estado à Região Sul e lembra que está em implantação uma via alternativa. É um segmento de 223 quilômetros, da BR-392, entre Santo Ângelo e Santa Maria, para evitar que a BR-158 seja a única a fazer o escoamento de grãos nessas regiões. Esse pedaço de rodovia, ainda inexistente, está em fase de estudos ambientais.