A Polícia Civil espera o resultado da perícia para avançar no inquérito sobre o acidente de trânsito que resultou em quatro mortes — incluindo a de uma bebê de apenas um dia de vida — e uma pessoa ferida na BR-116, em Cristal, no sul do Estado, em 18 de agosto. O único sobrevivente, que segue hospitalizado, foi ouvido pelas autoridades. Não há data ainda para a conclusão da análise.
O delegado Edson Ramalho, titular da Delegacia de Polícia de São Lourenço do Sul, informou que aguarda o boletim de atendimento de trânsito da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os resultados da necrópsia e o acesso ao depoimento do motorista ferido para concluir a investigação e avaliar possível indiciamento.
— Eu preciso da dinâmica do acidente e a versão do motorista. Sem isso, não tem como saber com precisão o que aconteceu — explicou Ramalho.
O homem conduzia o veículo que colidiu com o carro no qual estavam as outras quatro vítimas. Identificado como Matheus Pareschi, 22 anos, ele foi encaminhado para tratamento médico em Porto Alegre. Em razão disso, o interrogatório foi conduzido por agentes da 10ª Delegacia de Polícia (DP) da Capital.
Segundo o delegado titular da 10ª DP, Ajaribe Rocha Pinto, o motorista alegou que não lembra das circunstâncias nas quais o acidente aconteceu, tendo memória apenas dos momentos antes da colisão. Com os braços imobilizados por causa de fraturas, Pareschi não conseguiu assinar o termo de depoimento, o que feito por familiares.
O advogado Jader Marques, criminalista conhecido por trabalhar em casos de grande repercussão no Estado, como o da Boate Kiss, assumiu a defesa de Pareschi, que é residente em São Paulo. O profissional afirmou que seu cliente segue hospitalizado em estado estável, mas que o caso inspira cuidados em razão das múltiplas fraturas sofridas pelo motorista. Ele apresentou febre e está sendo atendido por um infectologista, conforme Marques. Classificando o fato como um “infortúnio”, o defensor disse que aguarda os desdobramentos do inquérito policial:
— A disposição da defesa, por orientação dos pais do Matheus e em contato com ele, é a de aguardar o retorno da perícia e colaborar na máxima extensão com a apuração do que aconteceu.
O advogado confirmou que Pareschi não recorda da dinâmica do acidente:
— Ele não tem a exata consciência do (ocorrido) imediatamente antes da batida. Esse ponto ele não consegue determinar. E o médico explicou isso. Nesse tipo de trauma, em que há múltiplas fraturas, batida de cabeça, traumatismo craniano, é muito comum que isso aconteça.
Pareschi atua na área de software e estava no Rio Grande do Sul a negócios. Ele chegou em Porto Alegre no dia 18. Após desembarcar na Capital, alugou um veículo e seguiu em direção a Rio Grande, no Sul, onde se reuniria com representantes de uma empresa no dia seguinte.
Além da bebê de apenas um dia de vida, perderam a vida no acidente o pai e mãe da recém-nascida e um motorista da prefeitura de Cristal, que buscou a família no hospital após o parto, realizado no dia anterior. A colisão entre os veículos ocorreu no Km 421 da BR-116, em trecho não duplicado.
A colisão
Elizete Oliveira Rodrigues, 43 anos, Valdomiro Meirelles, 45 anos, e a filha do casal de apenas um dia de vida, voltavam do hospital em São Lourenço do Sul no domingo com o auxílio do transporte da prefeitura de Cristal. Por volta das 19h, o veículo Gol no qual estavam colidiu contra outro carro. O condutor do automóvel da prefeitura, Fernando Geraldo Carvalho Braga, 50 anos, também morreu no acidente.
A recém-nascida, que seria registrada como Emily não estava no bebê-conforto, equipamento de segurança obrigatório para o transporte desde a saída da maternidade até a criança completar um ano ou 13 quilos.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, o acidente teria sido causado por uma ultrapassagem malsucedida. As equipes que atenderam a ocorrência apuraram que o motorista que sobreviveu ao acidente teria tentado ultrapassar um caminhão, mas deslocou o carro para o acostamento ao deparar com o Gol da prefeitura de Cristal. No entanto, o condutor do veículo da prefeitura fez o mesmo movimento e os dois teriam batido de frente no acostamento. O acidente aconteceu em uma reta onde a ultrapassagem é permitida. A velocidade máxima no trecho é de 80km/h.