Alexandre Severo Masotti, 42 anos, teve duas experiências novas na vida nesta sexta-feira: fazer um exame de corpo de delito e ter uma foto sua compartilhada centenas de vezes no Facebook.
O professor universitário foi agredido ao esperar que um carro saísse da ciclovia em que andava com sua bicicleta, na quarta-feira em Pelotas, no sul do Estado. A história parou nas rede sociais e na polícia, que investiga o caso.
Ao deparar com um Pálio vermelho estacionado em frente a uma escola infantil, sobre a ciclovia, parou e esperou que o motorista saísse. No entanto, segundo o professor, quando o dono do veículo chegou, houve uma discussão entre os dois. Foi aí que o condutor teria desferido pelo menos um soco no ciclista.
Segundo a direção do Centro de Recreação Tia Amelia, o motorista seria o pai de um aluno de seis anos, chamado para buscar a criança mais cedo, porque ela estava com febre. Por ter que pegá-la no colo, estacionou o veículo na frente da escola, com o pisca alerta ligado. Uma das sócias da instituição questionou Massoti sobre o motivo de ele não ultrapassar pela calçada.
- Se ultrapasso pela rua, é um risco para minha segurança. Se ultrapasso pela calçada, estou tomando o lugar do pedestre. Essa minha atitude é sempre recebida com um pedido de desculpas. Dessa vez, foi diferente - diz Masotti.
O professor disse desconhecer quem era o motorista. Contatado pela escola, que não informou a identidade dele, o condutor disse não querer dar entrevista. O caso foi registrado na Polícia Civil, que não confirmou o nome do suposto agressor por ainda não tê-lo identificado, uma vez que a investigação está em fase inicial.
ENTREVISTA - Alexandre Severo Masotti, professor universitário
"Essa minha atitude de parar é sempre recebida com um pedido de desculpas, mas dessa vez foi diferente"
Para o professor universitário do curso de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas, o caso é mais do que uma agressão, mas uma maneira de se debater como os ciclistas estão sendo tratados no trânsito.
Zero Hora - Por que o senhor parou e esperou pela saída do veículo e não desviou pela calçada ou pela rua?
Alexandre Severo Masotti - Cada vez que vejo um carro parado em uma ciclovia, eu paro, pois se ultrapasso pela rua é um risco maior a minha segurança. Se ultrapasso pela calçada, estou tomando o lugar do pedestre. Só estava tentando tomar o que é meu como direito, como cidadão. Essa minha atitude de parar é sempre recebida pelos motoristas com um pedido de desculpas, mas dessa vez foi diferente.
ZH - Como foi a discussão que antecedeu a agressão? A direção da escola afirmou que o senhor teria usado um tom provocativo para falar com o pai.
Masotti - Posso ter sido provocativo. Mas isso não dá o direito de ele me agredir. O que é provocação para uns pode ser um pedido de cidadania para outros. Ele chegou dizendo "Isso é ridículo, isso é ridículo" e eu respondi "o que é ridículo? O que é ridículo? Isso é uma agressão verbal". Aí disse que ia chamar os agentes de trânsito e quando peguei o celular, ele me deu os socos.
ZH - O senhor foi ao hospital depois disso?
Massoti - Uma pessoa chamou o Samu e me levaram para o hospital. Lá, me deram quatro pontos no olho.
ZH - Por que o senhor decidiu tornar pública sua história publicando no Facebook?
Massoti - Porque meu caso é uma maneira de fazer uma discussão na cidade sobre como é o tratamento dado aos ciclistas e como os espaços públicos e específicos para bicicletas estão sendo usados.
Polêmica no Sul
Agressão a ciclista próximo a escola de Pelotas repercute em redes sociais
Professor universitário disse ter levado socos de motorista que estacionou veículo sobre ciclovia
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