Um esqueleto quase completo de dinossauro herrerassaurídeo está entre os principais achados após as enchentes dos paleontólogos que atuam na região central do Rio Grande do Sul. O grande volume de água registrado em maio “lavou” os sítios fossilíferos, fazendo com que mais fragmentos ósseos aparecessem.
Agora, os profissionais do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa), vinculado à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), tentam agilizar o resgate de todos os materiais para evitar que sejam perdidos.
Sediado em São João do Polêsine, o Cappa é responsável por salvaguardar os diversos fósseis escavados na região da Quarta Colônia, que é composta por outros oito municípios — Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Sêca e Silveira Martins. O paleontólogo Rodrigo Temp Müller comenta que o local ficou fechado por alguns dias durante as enchentes e, quando os profissionais retornaram, começaram a visitar os sítios fossilíferos.
— Como foi muito volume de água, os sítios fossilíferos foram “lavados”. Então, mais fósseis apareceram. Eles geralmente aparecem por causa da chuva, é natural que o intemperismo aconteça, mas não é normal tanta chuva. Alguns materiais foram expostos e, talvez, tenham alguns que nem conseguimos recuperar — afirma.
Até o momento, o material mais importante encontrado pela equipe foi o esqueleto quase completo de um dinossauro herrerassaurídeo. De acordo com Müller, ossos da perna e da bacia desse animal estavam expostos em um sítio de São João do Polêsine e foram parcialmente destruídos durante a enxurrada. De toda forma, os fósseis restantes estão muito bem preservados.
A análise inicial dos especialistas apontou que se trata de um dinossauro do grupo Herrerasauridae — a espécie só poderá ser definida após avaliações aprofundadas. Esse animal era carnívoro, bípede e, vivo, teria em torno de 2,5 metros de comprimento (da ponta do focinho ao final da cauda).
— Ficamos uns quatro ou cinco dias coletando os ossos desse dinossauro em maio. Agora, o material já está no Cappa, estamos fazendo a preparação e depois vamos avaliar. Mas é um achado bem importante, o segundo mais completo que temos no mundo desse grupo — aponta o paleontólogo, acrescentando que há outros materiais que ainda estão sendo preparados para posterior avaliação.
Müller ainda explica que, mesmo com a chuva, os fósseis não ficam completamente soltos das rochas nos sítios. O problema é que materiais muito pequenos podem ser destruídos logo depois que são expostos, por isso, há uma certa urgência para resgatá-los. Mas a chuva também tem dificultado o acesso a esses locais, que geralmente ficam na beira de açudes.
— O osso vai sendo exposto aos poucos e pode ser danificado. Quanto mais tempo exposto, maior o risco de ser destruído e perdermos. Então, quando não chove, vamos. Estamos nos revezando e indo praticamente todos os dias e sempre tem algum material, mesmo que pequeno — finaliza.