O berço brasileiro dos animais pré-históricos mais antigos do mundo. Assim pode ser apresentada a região central do Rio Grande do Sul, onde são realizadas frequentes escavações em busca de fósseis. O Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa), vinculado à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é responsável por salvaguardar os materiais encontrados nos sítios fossilíferos espalhados pelos nove municípios que compõem o território da chamada Quarta Colônia — Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Sêca, São João do Polêsine e Silveira Martins.
Após a escavação, o fóssil é levado para a sede do Cappa, que fica em São João do Polêsine, onde pode ser estudado, preparado e exposto. Em sua coleção, o centro possui restos dos dinossauros mais antigos do mundo, que podem ser encontrados em apenas outras duas localidades: na Argentina e no continente africano. Além de serem reconhecidos internacionalmente, os materiais achados no território gaúcho são muito bem preservados, o que representa um diferencial na comparação com outros países.
Conheça, abaixo, as seis principais descobertas do Cappa e o que elas representam para o estudo da vida pré-historica:
1. Dynamosuchus collisensis
Com cerca de 230 milhões de anos, o fóssil da espécie Dynamosuchus collisensis foi escavado por uma equipe do Cappa em 2019, no município de Agudo, e é o único exemplar do seu grupo já descoberto no país. Esse animal atingia em torno de dois metros de comprimento, andava sobre quatro patas e tinha uma mordida muito forte, capaz de quebrar ossos. É considerado um parente distante dos crocodilos e pertenceu a um grupo de répteis carnívoros muito raro no registro fóssil. Conhecidos como ornitossuquídeos, esses animais são registrados apenas na Escócia, na Argentina e no Brasil.
2. Gnathovorax cabreirai
O fóssil do Gnathovorax cabreirai foi encontrado em São João do Polêsine e é o mais completo e bem preservado de um dinossauro predador do início da história evolutiva desses répteis, que ocorreu por volta de 233 milhões de anos atrás, em todo o mundo. Com até três metros de comprimento, o animal possuía dentes afiados, se locomovia sobre duas patas e tinha garras nos membros anteriores para apanhar suas presas. A descoberta do Gnathovorax cabreirai, cujos restos fósseis estavam associados a outros esqueletos de répteis e precursores dos mamíferos, lançou luz sobre a anatomia e a biologia dos primeiros dinossauros predadores.
3. Macrocollum itaquii
Descoberto no município de Agudo, em 2012, o fóssil da espécie Macrocollum itaquii representa o primeiro dinossauro completo escavado no Brasil. Com 225 milhões de anos, o animal também é o mais antigo do mundo com pescoço longo. O Macrocollum itaquii media até quatro metros de comprimento, tinha uma postura bípede, ou seja, usava as duas patas posteriores para se locomover, e se alimentava de plantas. Seus membros anteriores possuíam garras grandes e recurvadas que poderiam ajudá-lo a se proteger do ataque de predadores. A descoberta de muitos fósseis associados indica que esse dinossauro provavelmente vivia em grupos.
4. Prozostrodon brasiliensis
O crânio de 233 milhões de anos de um animal da espécie Prozostrodon brasiliensis foi encontrado em São João do Polêsine e revelou detalhes minuciosos da anatomia desse pequeno parente distante dos mamíferos, que já tinha fósseis conhecidos. Oficialmente descrito em 2023, o material do tamanho de um gambá foi escavado junto aos restos de um dinossauro. O estudo do fóssil permitiu reconhecer um novo grupo de precursores dos mamíferos que viveu no Brasil e na Argentina. Além disso, ajudou a entender como foi que as características típicas dos mamíferos se estabeleceram ao longo do tempo.
5. Buriolestes schultzi
Os fósseis do Buriolestes schultzi, que viveu por volta de 233 milhões de anos atrás e é o membro mais primitivo da linhagem que deu origem aos grandes dinossauros de pescoço longo, também foram escavados em São João do Polêsine. Um deles é tão bem preservado que permitiu a reconstituição completa de seu cérebro por meio de tomografias — foi o primeiro cérebro de um dinossauro dessa idade reconstruído totalmente. Esse animal possuía cerca de um metro e meio de comprimento, corria utilizando apenas os membros posteriores e tinha uma dieta herbívora. Por meio dele, foi possível entender melhor a biologia e o comportamento dos primeiros dinossauros.
6. Trucidocynodon riograndensis
Os fósseis da espécie Trucidocynodon riograndensis foram descobertos no município de Agudo, em rochas com aproximadamente 233 milhões de anos. Considerado um precursor dos mamíferos, o animal fez parte de um grupo peculiar de predadores da linhagem dos cinodontes, por isso, foi batizado dessa forma. Tinha o tamanho de um cachorro de grande porte, possuía caninos enormes e serrilhados, que serviam para perfurar a carne de suas presas. Andava com uma postura quadrúpede (com os quatro membros no solo) e conviveu com alguns dos primeiros dinossauros, podendo inclusive ter caçado alguns deles.
Como visitar
O Cappa fica aberto para visitação todos os dias, das 9h às 11h30min e das 13h30min às 17h. De segunda a sexta-feira, as visitas são realizadas exclusivamente com agendamento prévio. Aos sábados, domingos e feriados, é necessário agendamento somente para grupos com mais de 10 pessoas.
- Contato: pelo WhatsApp (55) 99974-1090 ou pelo e-mail cappa@ufsm.br
- Endereço: Rua Maximiliano Vizzotto, número 598, em São João do Polêsine