Um grupo de pesquisadores da Dinamarca descobriu recententemente em sedimentos de gelo na Groenlândia, que são da era glacial, o DNA mais antigo já extraído. Segundo a equipe, as amostras datam de 2 milhões de anos. Os resultados da descoberta foram publicados nesta quarta-feira (7) na revista científica Nature.
Para os pesquisadores, esse achado abrirá um novo capítulo para a paleogenética, área científica que estuda seres antigos, normalmente na forma de fósseis, para a descoberta de traços genéticos e evolutivos.
— O DNA foi capaz de sobreviver por 2 milhões de anos, o dobro do tempo do DNA mais antigo encontrado anteriormente — explicou à AFP Mikkel Winther Pedersen, professor da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e um dos principais autores do estudo.
De acordo com Mikkel, os diferentes fragmentos de DNA vieram da parte mais ao norte da Groenlândia, chamada Kap Kobenhavn, e pertencem a um ambiente que não vemos hoje na Terra por causa das mudanças climáticas e do derretimento das calotas polares.
Kap Kobenhavn é hoje um deserto ártico, onde já foram descobertos diversos tipos de jazidas, inclusive fósseis de plantas e insetos muito bem conservados.
O professor universitário também explicou que os fragmentos foram muito bem preservados porque estavam congelados e que foram encontrados em superfícies que geralmente são pouco exploradas por pesquisadores.
— Os rios levaram minerais e matéria orgânica para o ambiente marinho, onde esses sedimentos terrestres foram depositados. Então, há cerca de 2 milhões de anos, essa massa terrestre subaquática ressurgiu e passou a fazer parte do norte da Groenlândia — detalhou.
Estudos sobre Kap Kobenhavn
A equipe iniciou a pesquisa sobre Kap Kobenhavn em 2006. Os estudos realizados anteriormente fizeram com que conseguissem datar os recém descobertos sedimentos da região em 2 milhões de anos.
Os pesquisadores ainda não tentaram determinar a origem do DNA dos elementos encontrados e já estão cientes de que há muito pouca informação sobre a presença de animais na região onde as amostras foram encontradas. Isso poderá dificultar as próximas etapas do estudo.
Apesar da carência de dados, a equipe conseguiu descobrir o nome de algumas espécies de plantas e animais que viveram em Kap Kobenhavn.
— Tínhamos um ambiente florestal com mastodontes, renas, lebres e um grande número de espécies de plantas. Encontramos 102 táxons (agrupamento de organismos relacionados) de plantas diferentes — disse Winther Pedersen.
A coleta do DNA
Para saber se havia amostras de DNA escondidas na argila e no quartzo, foi necessário separá-las do sedimento.
— O método usado fornece uma compreensão fundamental de por que minerais ou sedimentos podem preservar o DNA. É uma caixa de Pandora que estamos prestes a abrir — explicou Karina Sand, que lidera o grupo de geobiologia da Universidade de Copenhague e que também participou do estudo.
Graças a uma tecnologia inovadora que permitiu separar o material, os pesquisadores descobriram que os 41 fragmentos encontrados na Groenlândia têm 1 milhão de anos a mais que o último registro de DNA obtido de um osso de mamute siberiano.
Para Winther Pedersen, essa descoberta revelou que ele e sua equipe podem ir muito além do que pensavam chegar em termos de estudos genéticos.
— Durante muito tempo acreditávamos que 1 milhão de anos era o limite de sobrevivência do DNA, mas hoje vemos que é o dobro. E, claro, isso nos impulsiona a procurar outros lugares. — acrescentou o professor universitário.
De acordo com o pesquisador, existem vários lugares no mundo que possuem jazidas geológicas tão antigas quanto essa ou ainda mais antigas. A expectativa é que a equipe consiga chegar nesses outros lugares para uma nova série de pesquisas.