Reconhecida com o Nobel de Medicina nesta segunda-feira (3) a paleogenética é uma ciência recente e tem o objetivo de reconstituir o genoma do homem pré-histórico para contribuir com a investigação das sociedades atuais. O pesquisador sueco Svante Pääbo, que recebeu o prêmio, é um especialista em paleogenética, que estuda o DNA de nossos ancestrais.
Umas das grandes descobertas de Pääbo foi detectar que compartilhamos cerca de 2% de nossos genes com o homem de Neandertal.
— Receber um prêmio Nobel de Medicina é totalmente justificado — explicou à AFP a paleogeneticista Eva-Maria Geigl.
Pääbo e uma equipe de pesquisadores anunciaram em 2020 a presença de uma parte específica do DNA, herdada do homem de Neandertal, entre os doentes mais graves de covid-19.
Estes resultados foram muito importantes, já que poderiam explicar, por exemplo, porque a pandemia causou tantas vítimas na parte sul da Ásia, onde essa porção de DNA está muito presente nas populações locais. A covid-19 "é apenas um pequena subtema secundário" nas pesquisas de Pääbo, explicou Geigl.
Relação entre passado e presente
Este caso é apenas uma pequena ilustração da paleogenética, que não tem nenhum equivalente entre as disciplinas científicas.
— É possível compreender, por exemplo, que genes conseguiram se adaptar no passado e suas consequências importantes para nossa saúde atual — indicou à AFP Evelyne Heyer, professora de antropologia genética do Museu Nacional de História Natural francês.
Um dos campos que pode se beneficiar dessas pesquisas é a luta contra a diabetes.
A paleontologia nasceu há 30 anos, e sofreu um duro golpe no início dos anos 2000. Muitas publicações em torno dessa nova disciplina tiveram que ser retiradas porque o DNA teria sido misturado a pequenos traços que poderiam ter sido encontrados em humanos pré-históricos.
A incerteza obrigou Pääbo e outros investigadores a elaborarem técnicas de trabalho mais seguras e avançadas. Os paleogeneticistas superaram esse episódio com publicações importantes sobre a recente evolução da humanidade e, além das questões médicas, incluíram elementos de reflexão sobre grandes desafios sociais, como a migração.
— Temos milhares de genomas antigos já identificados, não somente de neandertais mas de humanos mais recentes — explica Heyer:
— Permitem demostrar que todos temos ancestrais migrantes, e que somos um mosaico. É fundamental como visão de nossa espécie.
* AFP