Uma equipe internacional de astrônomos anunciou a descoberta de um enorme asteroide cuja órbita cruza com a da Terra, mas que não apresenta risco de colidir com o planeta em um futuro próximo. O corpo celeste de 1,5 quilômetro de largura recebeu o nome de 2022 AP7 e foi descoberto em uma área onde é difícil detectar objetos devido ao brilho do Sol. As informações relativas à descoberta foram publicadas nesta segunda-feira (31) na revista científica The Astronomical Journal.
Apesar da órbita do asteroide recém-descoberto cruzar com a Terra, o seu ponto de maior aproximação com o planeta está a 75 milhões de quilômetros de distância, o que indica que, baseando-se nas atuais previsões, ele não oferece risco de colidir com a superfície terrestre.
Para que os astrônomos conseguissem localizar o corpo celeste, foi preciso utilizar os instrumentos de alta tecnologia do telescópio Victor M. Blanco, no Chile, que foi originalmente desenvolvido para estudar matéria escura.
O grupo de cientistas financiado pelos Estados Unidos NOIRLab, que opera múltiplos observatórios, descreveu o asteroide como "o maior objeto potencialmente perigoso para a Terra descoberto nos últimos oito anos".
Para os astrônomos, somente asteroides com 100 metros ou mais podem ocasionar impactos significativos no planeta. O corpo celeste de maior impacto já registrado caiu em uma região inóspita da Sibéria em 1908 e destruiu 1,2 quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a 8 milhões de árvores.
De acordo com classificação da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), asteroides potencialmente perigosos (PHA, na sigla em inglês) são todos aqueles que passam a menos de 0,05 unidade astronômica (uma unidade astronômica é equivalente à distância entre a Terra e o Sol) do nosso planeta. Em outras palavras, é um corpo celeste que tem potencial de fazer aproximações perigosas.
A ameaça vem do fato de que, como qualquer objeto em órbita, a trajetória desses asteroides é lentamente modificada durante o percurso por inúmeras forças gravitacionais, principalmente por planetas, o que poderia resultar em colisões com a Terra.
Grau de ameaça
Nenhum dos quase 30 mil asteroides de todos os tamanhos que já foram catalogados como "Objetos Próximos da Terra" (NEOs, em inglês) ameaça o planeja nos próximos 100 anos. Segundo Sheppard, existem provavelmente 20 a 50 grandes NEOs restantes para encontrar, que estão localizados em órbitas que os colocam no brilho do sol e, portanto, em regiões que indicam pouca chance de aproximação com a atmosfera terrestre.
Com relação ao 2022 AP7, as previsões para os próximos anos não indicam que ele tenha risco de colidir com a Terra. Além disso, estimativas para um futuro muito distante são difíceis de fazer, o que não possibilita descobrir qual será seu grau de ameaça daqui há mais de um século, por exemplo.
Consequências de uma possível colisão
O 2022 AP7 demora cinco anos para dar a volta no Sol em sua órbita atual. Apesar de não haver risco desse asteroide colidir com a Terra no próximo século, os pesquisadores conseguiram prever o que o impacto de um corpo celeste deste tamanho ocasionaria no planeta.
— Isso (colisão do asteroide na Terra) teria um impacto devastador na vida como a conhecemos — disse o astrônomo Scott Sheppard, do Instituto Carnegie para a Ciência, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo.
Ainda segundo Sheppard, se houvesse colisão, a poeira lançada no ar teria um grande efeito de resfriamento, provocando um "evento de extinção como não é visto na Terra há milhões de anos".
— O 2022 AP7 cruza a órbita da Terra, o que o transforma em um asteroide potencialmente perigoso, mas atualmente não tem uma trajetória que o fará colidir com a Terra, nem agora nem no futuro — explicou o astrônomo.
A Missão Dart
Como preparação para uma futura descoberta de um objeto que represente uma ameaça maior, a Nasa realizou uma missão de teste no final de setembro na qual colidiu uma nave espacial contra um sistema duplo de asteroides, provando que é possível mudar suas trajetórias.
A missão Teste de Redirecionamento de Duplo Asteroide (Dart, na sigla em inglês) trata-se de um ambicioso projeto da Nasa, em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA), na área da defesa planetária, cujo custo estimado foi de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão).
Em 26 de setembro, a nave Dart, que foi lançada ao espaço a bordo do foguete Falcon 9, da Space X, em 24 de dezembro do ano passado, colidiu contra o asteroide Didymos, de 780 metros, e Dimophos, de 160 metros de largura, que orbita ao redor do primeiro. Ambos não estavam em rota de colisão com a Terra, não representando nenhum perigo para o planeta, mas foram utilizados como alvos para fins de teste. O objetivo da missão era conseguir, por meio da colisão da sonda, modificar a rota de colisão dos corpos celestes.