Mais uma fase da missão Dart (em inglês: "Teste de Redirecionamento de Duplo Asteroide"), da Agência Espacial Americana (Nasa), cujo objetivo é testar defesas contra ameaças à Terra, teve início nesta segunda-feira (26). A agência colidiu uma aeronave com um asteroide no objetivo de mudar a trajetória de um corpo celeste.
Mas, quando saberemos se funcionou?
— Ficaria surpreso se tivéssemos evidência clara em menos de uns poucos dias e me surpreenderia se levasse mais de três semanas — disse Tom Statler, cientista-chefe da missão.
A nave, que não é maior que um carro, viajou a cerca de seis quilômetros por segundo em direção ao o alvo, na verdade um par de asteroides: um grande, Didymos (de 780 metros de diâmetro) e seu satélite, Dimorphos (de 160 metros de diâmetro), em órbita em volta do primeiro. Os dois ficam a apenas um quilômetro de distância um do outro.
No domingo (11), entrou em operação o satélite que vai registrar o teste, denominado LICIACube (Light Italian Cubesat for Imaging of Asteroids). A colisão ocorreu por volta das 20h15min, com transmissão ao vivo no canal da agência no YouTube.
— Estamos mudando o movimento de um corpo celeste natural no espaço. A humanidade nunca tinha feito isso antes. É tirado dos livros de ficção científica e dos episódios de Jornada nas Estrelas, de quando eu era criança. E agora é real — disse Statler.
É contra o pequeno, Dimorphos, que a colisão ocorreu. Este asteroide orbita o maior em 11 horas e 55 minutos. O que se busca é reduzir sua órbita em dez minutos. Esta mudança pode ser medida com telescópios na Terra, observando a variação do brilho quando o asteroide menor passar na frente do maior.
Veja o momento da colisão:
A missão DART
Lançada em 24 de novembro de 2021, a missão é o primeiro teste da Nasa para desviar asteroides potencialmente perigosos que estejam em rota de colisão com a Terra. A Agência Espacial Norte-Americana trabalha com o apoio da Agência Espacial Europeia (ESA) e está sendo gerenciada pelo Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins (APL), em Maryland, nos Estados Unidos.
A ideia da missão é que a espaçonave entre em rota de colisão, a 24 mil km/h, com o sistema binário composto pelo asteroide Didymos, de 780 metros de diâmetro, que está a 11 milhões de quilômetros da Terra.
Segundo a agência, o sucesso da missão é fundamental para traçar um plano estratégico e realizar testes também em outros corpos celestes.
— Estamos trabalhando para adicionar mais rochas espaciais ao nosso catálogo e, enquanto isso, tentando descobrir como garantir que nenhuma atinja a Terra — disse Thomas Zurbuchen, integrante da diretoria de missão científica da Nasa, no lançamento da operação, em 2021.
Além de combater possíveis "agentes do apocalipse", a Dart também está focada em desenvolvimento de tecnologia autônoma. Na sonda, foram implementados algoritmos que permitem a viagem sem um operador. Em caso de sucesso e bons resultados, a exploração espacial evoluiria em comunicação — ou o descarte da mesma. Atualmente, as informações enviadas às naves pelo comando demoram algum tempo para que cheguem, o que não permite controle em "tempo real".
Nenhum asteroide conhecido ameaça a Terra
Os asteroides já surpreenderam os cientistas no passado. Em 2020, a sonda americana Osiris-Rex afundou mais do que o esperado na superfície do asteroide Bennu. Atualmente, desconhece-se a porosidade do Dimorphos.
— Se o asteroide responder ao impacto da Dart de uma forma totalmente imprevista, na verdade poderia nos levar a reconsiderar até que ponto o impacto cinético é uma técnica generalizável — destacou Statler.
Nenhum asteroide conhecido ameaça a Terra nos próximos cem anos. Em suas imediações foram catalogados cerca de 30 mil asteroides de todos os tamanhos, os quais são chamados objetos próximos da Terra, ou seja, cuja órbita cruza a terrestre.
Os de um quilômetro ou mais foram quase todos avistados, segundo os cientistas. Mas eles estimam que só sejam conhecidos cerca de 40% dos asteroides que medem 140 metros ou mais, capazes de devastar uma região inteira.
— Nosso trabalho mais importante é encontrar (os que faltam) — disse Lindley Johnson, agente de defesa planetária da Nasa.
Quanto antes forem detectados, mais tempo os especialistas terão para determinar a melhor forma de nos defendermos deles. Mas a missão Dart é um primeiro passo crucial, disse Johnson:
—É um momento muito emocionante (...) para a história espacial, e inclusive para a história da humanidade.