Um grupo de cientistas da Universidade de Bristol, no Reino Unido, conseguiu mapear recentemente um novo grupo sanguíneo, o eritrocitário (Er), que havia sido identificado pela primeira vez há 40 anos. Com o estudo, os pesquisadores conseguiram identificar cinco tipos sanguíneos que fazem parte desse novo grupo, que não é baseado no sistema ABO, popularmente conhecido.
Uma das etapas da pesquisa consistiu na coleta e análise do sangue de 13 pacientes que teriam esse novo tipo sanguíneo. Com isso, os pesquisadores conseguiram observar cinco antígenos, que são variações do eritrocitário: Er a, Er b, Er 3, Er 4 e Er 5. Os três primeiros já haviam sido citados em estudos anteriores. Já os dois últimos não tinham sido mencionados até então.
Os resultados do estudo foram publicados em 19 de setembro na revista científica Blood e devem ser utilizados como base para oficializar o Er como um novo sistema de grupos sanguíneos. Com a confirmação da existência do eritrocitário, os cientistas esperam que, até o final do ano, o Er seja oficializado como um novo sistema de grupos sanguíneos. Para isso, é preciso da validação da Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue, cujos membros precisarão se reunir e discutir sobre o tema e as recentes descobertas.
Entenda
A identificação dos tipos de sangue mais comuns aconteceu na década de 1920. A partir de um novo mapeamento dos pesquisadores da Universidade de Bristol, descobriu-se que, ao todo, existem 44 sistemas de grupos sanguíneos, sendo o ABO somente um deles (leia mais sobre este sistema no fim da reportagem).
Segundo os cientistas da universidade britânica, existem tantos tipos de grupos sanguíneos porque há muitas maneiras de agrupar os glóbulos vermelhos com base nos antígenos em suas superfícies.
Como o eritrocitário não se encaixava em nenhum sistema sanguíneo até então conhecido, isso motivou a realização de novos estudos na área. "Este trabalho demonstra que mesmo depois de todas as pesquisas realizadas até agora, o simples glóbulo vermelho ainda pode nos surpreender", disse Ash Toye, biólogo celular da Universidade de Bristol e um dos autores da pesquisa, em um comunicado enviado à imprensa.
Importância do estudo
O eritrocitário foi identificado pela primeira vez em 1982 no organismo de duas mulheres grávidas do Reino Unido. Na época, as inglesas acabaram abortando porque houve uma incompatibilidade sanguínea entre elas e os seus filhos.
Quando uma célula sanguínea aparece com um antígeno que o organismo não consegue classificar como seu, o sistema imunológico é ativado, enviando anticorpos que destruirão as células portadoras de antígenos suspeitos. No caso das gestantes, todos esses anticorpos criados pelo sistema da mãe vão para o bebê, o que leva ao aborto ou a um quadro de doença hemolítica — degradação ou destruição dos glóbulos vermelhos de um recém-nascido pelos anticorpos da mãe.
Com a recente pesquisa sobre esse novo grupo sanguíneo raro e com mais estudos na área, os cientistas poderão fazer o mapeamento de mutações genéticas ligadas ao Er e, com isso, diagnosticar problemas de incompatibilidade entre uma mãe e o seu bebê que ainda se encontra no útero, o que melhorará as possibilidades de tratamento.
Segundo a equipe envolvida no estudo, os anticorpos que combinam com os antígenos Er são capazes de se ligarem a eles e isso faz com que as células imunes ataquem as células incompatíveis. Por essa razão, o conhecimento sobre o eritrocitário e seus antígenos se faz necessário para evitar incompatibilidade sanguínea no caso de gestantes e transfusões sanguíneas.
Tipos sanguíneos
O tipo sanguíneo de cada pessoa depende da presença ou ausência de determinados antígenos. O sistema mais comum e adotado internacionalmente é o ABO, que incluem os tipos sanguíneos A, B, O e AB, que podem ainda ser positivos (sangue com presença do antígeno D) ou negativos (sangue com ausência do antígeno D).
Confira o que determina a classificação de cada tipo sanguíneo:
- A+: Sangue com presença do antígeno A e do antígeno anti-B. Além disso, por ser positivo, tem o antígeno D. Pessoas com esse tipo de sangue só podem receber de A+, A-,O+ e O- e pode doar somente para A+ e AB+
- A-: Presença do antígeno A e do antígeno anti-B. Como tem fator Rh-, não tem o antígeno D. Indivíduos com esse tipo sanguíneo só podem doar para A+, A-, AB+ e AB- e só recebem de A- e O-
- B+: Presença de antígeno B e do antígeno anti-A. Além disso pelo fator RH+, tem o antígeno D. Pessoas com esse tipo de sangue só podem doar para B+ e AB+ e receber de B+,B-, O+ e O-
- B-: Sangue com presença de antígeno B e do antígeno anti-A. Pelo fator RH-, não tem o antígeno D. Indivíduos desse grupo só podem doar para B+,B-, AB+ e AB- e receber de B- e O-
- AB+: Possui antígenos A e B. Pelo fator Rh+, tem também o antígeno D. Pessoas com esse tipo sanguíneo são conhecidas como receptoras universais, porque podem receber sangue de todos tipos (A+, A-, B+,B-, AB+,AB-,O+ e O-). Indivíduos desse grupo podem doar somente para AB+
- AB-: Presença dos antígenos A e B. Pelo fator Rh-, não há antígeno D. Indivíduos com esse tipo sanguíneo podem doar para AB+ e AB- e receber somente de A-, B-, AB- e O-
- O+: Possui antígenos anti-A e anti-B. Pelo fator Rh+, há presença também do antígeno D. Pessoas com esse tipo sanguíneo só podem receber de O+ e O- e doam para A+, B+ , AB+ e O+
- O-: Presença de antígenos anti-A e anti-B. Pelo fator Rh- não tem o antígeno D. Indivíduos desse grupo são chamados de doadores universais porque podem doar para todos tipos de sangue (A+,A-, B+,B-,AB+,AB-, O+ e O-). No entanto, só podem receber de pessoas do mesmo tipo sanguíneo, ou seja, O-.