Entre as 50 startups finalistas – sendo 46 já com presença confirmada– no South Summit, maior evento mundial de empreendedorismo e inovação que ocorrerá em Porto Alegre de 4 a 6 de maio, 17 são gaúchas — destas, nove surgiram e atuam na capital gaúcha.
O South Summit deve atrair investidores-anjo brasileiros e do Exterior interessados em alavancar as novas empresas — o que deve, também, resultar em geração de riqueza para o Rio Grande do Sul.
Há ainda startups de Canoas, Santa Maria, São Marcos, Santa Rosa, Guaporé, Rio Grande, Santa Cruz do Sul e Lajeado (veja ao fim do texto). Os focos são diversos: educação, meio ambiente, agricultura, biotecnologia, transporte, ciência de dados, nanotecnologia, telecomunicações e educação financeira.
Em comum, as startups aplicam a ciência dos dados (mensuração e análise de estatísticas) ao ramo de atuação. Por terem raízes locais, muitas nasceram em incubadoras e ainda mantêm parcerias com universidades, como Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Universidade do Vale do Taquari (Univates) e Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), o que contribui para uma ponte entre o ensino e o mercado.
Trashin: descarte de lixo empresarial
Criada em Porto Alegre em 2018, a Trashin quer reduzir o impacto ambiental do descarte de lixo de empresas, prédios comerciais, condomínios e escolas - enquanto incentiva a criação de empregos em cooperativas de reciclagem e cria novos produtos feitos com o que seria, até então, lixo.
Em média, 74% dos resíduos dos clientes que contratam este serviço é reciclado, porcentagem considerada alta - entre os contratantes, estão o Colégio Israelita, ESPM, Unimed e o Parque Ibirapuera, em São Paulo. Todos recebem estatísticas sobre o tipo de lixo produzido e como é possível melhorar a coleta - assim, apresentam os dados a seus clientes, funcionários e acionistas.
— Conectamos as cooperativas à indústria recicladora, que não consegue muitas vezes (receber o descarte de grandes empresas) porque têm volume baixo (de resíduo) ou porque não têm licença. Nós ajudamos as cooperativas a se profissionalizarem e comercializar. Em Minas Gerais, estamos começando uma associação do zero, selecionando as pessoas e fazendo a parte contábil e jurídica, porque precisamos do compliance para as grandes indústrias — afirma o sócio-fundador e CEO, Sérgio Finger.
O segundo serviço é retornar resíduos gerados por empresas à própria cadeia produtiva, na forma de produtos feitos com lixo reciclado, o que reduz a pegada de carbono — algo chamado de logística reversa. Entre os clientes, estão iFood, Tramontina, Unilever, Johnson & Johnson e Havaianas.
— Pegamos a embalagem para voltar à indústria, com ponto de coleta nas lojas, locais públicos e parceiros, ou pedimos para a cooperativa separar o produto. Ainda desenvolvemos produtos para a empresa vender, porque temos uma parte de pesquisa e desenvolvimento para isso — acrescenta Finger.
Com raízes gaúchas, a Trashin movimenta a economia local, mas também nacional: são 33 empregos diretos e quase 1 mil indiretos, envolvendo cooperativas e transportadores. Em 2021, a empresa pagou R$ 900 mil a cooperativas parceiras de reciclagem. Há ainda acordo com uma consultoria da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para desenhar produtos que empresas possam fabricar com o lixo reciclável.
— As empresas nos enxergam como parceiro, e não como fiscal para ver o que está certo ou errado. Agregamos valor ao produto do cliente com o diferencial da sustentabilidade. As empresa têm suas metas (de proteção ao meio ambiente) para cumprir, e isso tem a ver com a mudança do consumidor, que está preocupado se consome uma marca sustentável. Nós trazemos a parte das cooperativas e a visão do catador — diz Finger.
Arpac: drones na aplicação de defensivos agrícolas
Focada na agricultura, a porto-alegrense Arpac chegou ao mercado em 2016 para aplicar defensivos agrícolas em lavouras com drones, e não aviões e tratores, como é o usual. Além de fabricar os próprios drones com 2 metros de diâmetro (muito maior do que o normal), a aplicação é precisa — o que reduz o desperdício de agrotóxicos na lavoura e o risco de deriva, quando o químico verte para rios e mananciais d’água.
— O avião cobre áreas grandes, com necessidades urgentes. Com o drone, tiramos foto da lavoura e, com uso de inteligência artificial, entendemos o que é o cultivo e o que é erva daninha, para aplicar o produto só na erva daninha. O benefício é na economia de herbicida — diz o fundador e diretor-executivo, Eduardo Goerl.
O maior mercado da Arpac é nas lavouras de cana de açúcar — a empresa presta serviço para mais de 10% das usinas do Estado de São Paulo. Mas também há atuação em lavouras de soja, milho, café e arroz de diferentes cidades do país e do Rio Grande do Sul. A startup estima cobrir mais de 250 mil hectares — ou 250 mil campos de futebol. A sede é localizada no Instituto Caldeira, em Porto Alegre.
— Nosso foco é atender empresas. Mas, na safra de verão, atendemos produtores individuais. No Rio Grande do Sul, produtores têm restrição de aplicação (de defensivo agrícola) devido ao (risco de deriva) Rio Gravataí — diz Goerl.
ConnectBio e Diário Escola
De Santa Cruz do Sul, a ConnectBio usa a mesma técnica do exame para diagnóstico de covid-19, o RT-PCR, para ajudar agricultores a melhorar a produtividade das lavouras. Como mostrou a colunista Gisele Loeblein, a ideia é mapear fungos e bactérias e entender se beneficiam ou prejudicam as atividades agrícolas. A solução é sem o uso de químicos.
Outra selecionada para o South Summit é a Diário Escola, de Canoas, um exemplo de edutech — empresa que une tecnologia e educação. A startup desenvolveu um aplicativo que ajuda no planejamento e nos trabalhos e avaliações de aula. A tecnologia ainda permite que professores escrevam em uma agenda virtual — em vez de preencher as agendas de cada estudante com lembretes e recados. O serviço está conectado às catracas, e os pais recebem uma notificação quando o filho entra e sai da escola.
Veja os outros finalistas gaúchos do South Summit
Agidesk (Porto Alegre)
Desenvolveu uma programação para gerenciar e executar processos administrativos, o que permite aumentar a produtividade, melhorar a comunicação entre diferentes departamentos e reduzir custos de atendimento.
Aprix (Porto Alegre)
Pioneiros na implementação de inteligência artificial para precificação (processo de definição do valor monetário a ser cobrado do cliente por um produto, mercadoria ou serviço) no mercado brasileiro de varejo de combustíveis. Diariamente, a empresa monitora preços de mais de 14 mil postos de gasolina no Brasil.
Augen Engenharia (Rio Grande)
A empresa oferece serviços de análise e tratamento de água de forma inovadora, com produtos e metodologia próprios.
BoomaTech (São Marcos)
Focada no ramo da nanotecnologia, a startup produz grafeno e derivados para desenvolver materiais aplicados nas indústrias de automação, construção, energia, além de agricultura, biomedicina e eletrônica.
Delta Global (Porto Alegre)
Com foco no setor de transportes, a empresa conecta serviços de frota com a internet das coisas (IoT) e ciência de dados. Permite acompanhar veículos e motoristas, controlar o número de consertos e de abastecimento de combustível, entre outros serviços.
Fox IoT (Santa Maria)
A empresa quer “conectar as redes elétricas ao mundo digital”. Possui um dispositivo inteligente que é acoplado em transformadores de distribuição de energia ao longo da rede, o que permite coletar dados e enviá-los para a nuvem.
Int 6 Technology (Porto Alegre)
Focada no setor de telecomunicações, a empresa presta serviços de automatização de redes ópticas, nuvem e wi-fi para reduzir custos e melhorar a qualidade de operadoras e provedoras de internet.
myWaste: (Porto Alegre)
Plataforma SaaS (Software as a Service, ou Software como Serviço) Digital que otimiza a operação de gestão de resíduos, reduzindo custos, aumentando receita, melhorando a governança e trazendo transparência aos clientes. Melhora a comunicação, coleta de resíduos e processos internos.
Pix Force (Porto Alegre)
Com inteligência artificial, permite que um programa interprete automaticamente fotos e vídeos para transformar imagens em informações e dados. Os algoritmos podem processar qualquer tipo de imagem (RGB, infravermelho, hiperespectral, radar ou lidar).
Syntalgae (Lajeado)
Busca disponibilizar biomassa à base de microalgas para a indústria de alimentos, cosméticos e farmacêutica. A ideia é utilizar mais componentes bioativos e naturais de origem brasileira.
Tecredi (Guaporé)
Especializada em financiamento de automóveis com o compromisso de transformar a sociedade por meio de soluções financeiras digitais ágeis, simples e seguras. Oferece uma plataforma de crédito digital.
YOURS Bank (Santa Rosa)
Aplicativo para famílias que oferece um cartão pré-pago para crianças, com o objetivo de educar para as finanças.
Kiskadi (Porto Alegre)
Startup de tecnologia com foco em soluções de CRM (customer relationship management, a gestão de relação com os clientes) para o varejo. Desenvolve uma plataforma de fidelização web e mobile para garantir estratégias inteligentes aos lojistas e franqueadores.