Olhar para o céu à noite sempre foi uma atividade que gerou interesse das pessoas, seja dos pequenos ou dos mais velhos. Mas enquanto casais apaixonados admiram o luar e a luz das estrelas, um par de olhos atentos não deixa escapar nada do que acontece no céu gaúcho: o professor Carlos Jung. Na área acadêmica há 21 anos, ele construiu com recursos próprios o Observatório Espacial Heller & Jung, localizado em Taquara, no Vale do Paranhana, e monitora diariamente o aparecimento de meteoros.
Na verdade, os olhos do professor Jung, 59 anos, recebem uma ajuda extra na missão: o observatório conta com oito câmeras 24h e 20 que registram imagens no período da noite. Assim, os equipamentos detectam o movimento de meteoros e de satélites, bem como o de outros objetos não-identificados - e, com frequência, também detectam o bater de asas de pássaros ou pequenos insetos.
– As câmeras são acionadas dezenas de vezes durante a madrugada. Eu tenho o trabalho de analisar esses dados, ver quais são meteoros, quais são outros fenômenos e quais imagens devem ser descartadas – explica o professor, coordenador do curso de Engenharia de Produção das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat) e diretor da Região Sul da Brazilian Meteor Observation Network (Bramon).
A rotina de Jung começa cedo – ou tarde, dependendo do ponto de vista. Por volta das 23h, senta-se em frente à central de monitoramento instalada em sua casa e, ao mesmo tempo em que observa as imagens geradas pelas câmeras do instituto – localizado em outro ponto de Taquara –, dedica-se à atividade de pesquisa e artigos científicos. O horário em que os meteoros costumam aparecer com mais frequência é entre 2h30 e 4h. O professor segue na ativa até por volta das 5h, por vezes se estendendo até as 7h, e depois vai descansar.
– Sempre fui acostumado a dormir pouco. Na madrugada, quando há quedas de meteoros mais significativas, já faço a análise na hora. Os dados são todos disponibilizados de forma gratuita para outros pesquisadores que trabalhem com o tema — detalha o doutor e pós-doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para quem pensa que um meteoro é algo raro, engana-se: somente neste ano, mais de 21 mil fenômenos do tipo já foram registrados na área de cobertura do observatório: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Uruguai, além de partes de São Paulo, Argentina e Paraguai. A expectativa é de que o total ultrapasse o do ano passado, quando o número passou de 22 mil.
– Temos observado um aumento expressivo nos últimos anos. Estamos chegando à conclusão que nossa galáxia está se aproximando de uma área do universo que tem muitos meteoroides e asteroides. A tendência é de que a queda de meteoros aumente nos próximos anos e, com isso, o risco também aumenta – alerta.
Investimento próprio
O Observatório Espacial Heller & Jung leva os dois nomes de sua família e foi todo construído com recursos próprios. O início da construção ocorreu em 2016 e, em 2020, o local foi considerado concluído – mas já vinha operando parcialmente antes disso.
O espaço está localizado em uma área elevada de Taquara, afastada de interferências eletromagnéticas, mas relativamente perto do Centro. Do lado de fora, é possível ler placas que alertam para o risco de choque e para a realização de pesquisa científica no local. Os equipamentos estão dispostos em um espaço aberto, cercados por uma grade.
Jung é o único funcionário do local. Ele diz que tem paixão pela pesquisa e que o observatório é um sonho antigo, que busca aproximar a ciência da população.
– Sempre quis trazer crianças e adolescentes de colégios para estimular o ensino da ciência. Elas precisam perder o ódio pela física e pela matemática e entender que são ferramentas importantes de aprendizado. Recentemente, recebi uma turma de terceira idade aqui e ficaram encantados, pois muitos nunca tinham visto a lua tão de perto – conta o professor.
Para receber grupos, um equipamento especial é levado ao observatório: um telescópio. Jung explica que, apesar de não ter tanta utilidade para o seu trabalho, é o mais adorado pelos visitantes.
– Eles gostam de colocar o olho no telescópio e de ajustar o foco para ver a lua e planetas – brinca.
Além do monitoramento de meteoros, há estação meteorológica, medição da qualidade do ar e radiação solar, monitoramento de satélites e reentrada de lixo espacial e intensidade dos raios.
O que são os meteoros
Explicando de forma simples, os meteoroides ou asteroides são constituídos basicamente por rochas e materiais metálicos, mas existem vários tipos — os primeiros têm até um metro de diâmetro, e os outros são maiores do que isso. Quando eles entram na atmosfera, elevam-se a altas temperaturas e ficam incandescente. Isso gera o meteoro, que é percebido como um risco de luz que corta o céu por poucos segundos.
Na maioria dos casos, essa massa é extinta, mas, quando o corpo é muito grande, parte dele chega ao solo – o chamado meteorito. Esse fenômeno é perigoso e pode causar destruições devido ao tamanho dos fragmentos.
Conforme Jung, hoje não existe um sistema que possa prever quando um meteoro cairá sobre a terra – a Nasa tem missão em andamento para estudar o assunto. Esse é um dos objetivos da pesquisa e da troca de dados com outros profissionais.