Em dias normais, um jogador profissional de Call of Duty dedica, em média, sete horas do dia ao treino. Já em épocas de preparação para competição, cerca de 15 horas diárias são destinadas ao game — que é do gênero tiro em primeira pessoa. Foi com essa dedicação que dois jovens gaúchos se destacaram no Campeonato Mundial de Call Of Duty Mobile, a versão para celular do jogo, em Cancún, no México, na semana passada.
Leonardo Padilha Machado, de 19 anos, é de Porto Alegre e ficou conhecido como Leozzera no mundo do game. Já Gustavo Lin usa o codinome Linbz, tem 20 anos e nasceu em Novo Hamburgo. Eles fazem parte do time SKADE, que garantiu a sétima colocação na competição que reúne os melhores jogadores das Américas e da Europa.
A SKADE é uma empresa norueguesa, mas patrocina o time composto exclusivamente por jogadores brasileiros. A disputa em Cancún ocorreu nos dias 4 e 5 de dezembro e foi organizada pela dona do jogo, Activision, e pela Sony, que patrocinou a ida dos jovens ao evento. Após se classificarem nas etapas regionais, das quais participaram mais de 250 equipes, os gaúchos foram uma das 12 equipes finalistas. Das cinco partidas que jogaram no mundial, os garotos da Skade conseguiram neutralizar os adversários em três, resultado que não os colocou na final com os quatro melhores times, mas que foi comemorado pois reforçou o posto de melhores da América Latina e do Brasil.
Os times mais bem colocados foram os dos Estados Unidos e da Europa. Já as outras duas equipes brasileiras que também participaram do mundial terminaram em classificações piores.
— Como foi a nossa primeira experiência de jogo mundial, encontrando com outros times no mesmo local que a gente, ficamos um pouco nervosos no início, mas, depois, vai. O sonho inicial era conseguir jogar o mundial, e conseguimos. Depois, conseguir classificar pro segundo dia e ser campeão. Não deu certo, mas com as condições que nos foram oferecidas, fomos muito bem — afirma Leonardo, que é o caçula do time.
Os times da América Latina, segundo Léo e Gustavo, estiveram em desvantagem com relação aos outros competidores. Isso porque o modelo do smartphone obrigatório para a competição — que é caro e difícil de importar para o Brasil —, só foi entregue aos brasileiros pela organizadora dois dias antes da competição. Até então, a equipe treinava utilizando outros aparelhos.
Gustavo explica que é necessário se adaptar ao smartphone e que cada fração de segundo conta na partida. São necessários aparelhos potentes, pra que não haja atraso na imagem que está sendo vista por cada competidor conectado.
— Nós tivemos só dois dias de adaptação com o celular, ganhamos ele quando chegamos ao México. Os times europeus e da América do norte jogaram já na quarta fase com o celular, estavam com ele há dois meses. Muda muita coisa em cada celular que você joga e a gente sentiu que eles já estavam bem mais preparados. Ainda assim, fiquei feliz com nosso resultado, fomos o time da América Latina mais bem classificado — afirma Gustavo.
Quem venceu o campeonato foi uma equipe norte-americana, que arrebatou os 300 mil dólares (cerca de R$ 1,6 milhão) de premiação. A Skade ficou com 40 mil (cerca de R$ 223 mil), divididos entre a empresa e a equipe.
Leozzera e Linbs já tinham experiência com a versão para console e com outros jogos do gênero, mas a paixão e a possibilidade de se profissionalizar veio com a versão de Call of Duty para celular, que jogam desde 2019, quando foi lançada. Para se preparar para o campeonato desse ano, treinaram juntos presencialmente por três meses.
Como muitos jovens envolvidos no universo dos games, os dois gaúchos encaram a atividade como uma profissão: ganham salário da SKADE, premiações em dinheiro nas competições de que participam e ainda têm a possibilidade de lucrar fazendo transmissões ao vivo de suas partidas, conteúdo que tem público cativo na internet.
Gustavo faz faculdade de Engenharia Elétrica no Rio de Janeiro, mas trancou um semestre para se dedicar ao campeonato. Quanto ao ano que vem, ainda está decidindo como será sua rotina, mas já sabe que o foco dele e da equipe será na vitória do mundial de 2022.
— Eu sou jogador profissional e quero seguir competindo. Vamos manter a mesma base de time e nos preparar para participar em 2022 também — afirma Gustavo.