Imagens captadas pela sonda Perseverance, da Nasa, confirmam que a cratera de Jezero, em Marte, era um lago há cerca de 3,7 milhões de anos. Nesta quinta-feira (7), a Nasa publicou um novo artigo detalhando como o ciclo hidrológico do lago agora seco.
Os resultados são baseados em imagens detalhadas do rover fornecido de longas e íngremes encostas chamadas escarpas, ou escarpas no delta, que se formaram a partir de sedimentos acumulados na foz de um antigo rio que há muito alimentou o lago da cratera.
As imagens revelam que há bilhões de anos, quando Marte tinha uma atmosfera suficientemente espessa para suportar o fluxo de água através da sua superfície, o delta do Jezero sofreu inundações em fases tardias que transportaram rochas e detritos desde as terras altas.
As imagens tiradas pelas câmeras Mastcam-Z e RMI também forneceram informações sobre onde a Perseverance poderia colher amostras de rochas e sedimentos, incluindo aquelas que podem conter compostos orgânicos e outras provas de que já existiu vida ali.
A equipe responsável pela missão planejava há muito tempo visitar o delta do Jezero devido ao seu potencial para abrigar sinais de vida microbiana antiga. Um dos principais objetivos da missão é recolher amostras que poderiam ser trazidas para a Terra, permitindo aos cientistas analisar o material.
Antes da chegada da sonda, o solo rochoso, chamado Kodiak, era um mistério. Da superfície, as imagens das câmeras revelaram pela primeira vez a estratigrafia - a ordem e a posição das camadas rochosas, que fornecem informações sobre o tempo relativo dos depósitos geológicos - ao longo da face oriental de Kodiak.
"Nunca antes tinha sido visível uma estratigrafia tão bem preservada em Marte. Esta é a observação chave que nos permite confirmar de uma vez por todas a presença de um lago e de um delta do rio em Jezero", disse Nicolas Mangold, um cientista do Laboratório de Planetologia e Geodinâmica localizado em Nantes, na França, e autor principal do artigo.
As imagens dessas escarpas apresentavam camadas semelhantes às de Kodiak nas suas metades inferiores. Nas paredes íngremes e no topo, Mastcam-Z e RMI capturaram pedras e rochas. "Vimos camadas distintas nas escarpas contendo rochas até 1,5 metros de diâmetro, que sabíamos não terem nada que estar ali", disse Mangold.
Essas camadas significam que lenta e meandrosa via navegável que alimentava o delta deve ter sido transformada mais tarde por inundações rápidas e intermitentes. Mangold e a equipe científica estimam que a força da água necessária para transportar as rochas teria de viajar a velocidades que variam entre seis e 30 quilômetros por hora.
O delta do Jezero será o ponto de partida para o próximo projeto científico, agendado para começar em 2022.
Uma melhor compreensão do delta de Jezero é a chave para compreender a mudança na hidrologia da área. No futuro, poderá fornecer valiosos conhecimentos sobre a razão pela qual todo o planeta secou.