Com o naco de terra brasileira mais próximo do continente gelado, o Rio Grande do Sul exerce protagonismo no Programa Antártico Brasileiro (Proantar) desde sua criação, no final dos anos 1970. Conforme o professor Jefferson Simões, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pioneiro na exploração da região austral, cerca de 40% de toda a pesquisa antártica do país é feita no Estado.
A UFRGS sedia o Centro Polar e Climático, e a Universidade Federal do Rio Grande (Furg) lidera a pesquisa antártica no Oceano Austral. O campus de Rio Grande também abriga a Estação de Apoio Antártico (Esantar), que presta apoio logístico a cada ano às operações no continente, com manutenção de vestimentas polares para os pesquisadores e equipamentos da Marinha. Há também participação de grupos de pesquisa da Unisinos e Unipampa.
— Desde 2017, o Rio Grande do Sul tem envolvimento direto no financiamento de pesquisas na Antártica através da Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul). Foi uma iniciativa pela qual estamos muito gratos. Esse governo tem mantido o financiamento e o aporte de recursos, mais uma vez aumentando o protagonismo gaúcho — afirma Simões, cientista de maior renome na pesquisa polar no Brasil, atual presidente do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e com 27 passagens pelo continente gelado.
Na próxima terça-feira (14), o Brasil ganhará um novo endereço na Antártica: a Estação Científica Comandante Ferraz será reinaugurada, após incêndio ter destruído a estrutura. Na avaliação do professor Jefferson Simões, a nova estação é um marco na atuação do Brasil, uma vez que reforça o protagonismo nacional sobre o futuro do ambiental e político de uma área que representa 7% da Terra, região coberta pelo Tratado da Antártica.
— A casa do Brasil na Antártica terá laboratórios dedicados principalmente para as ciências da vida, incluindo microbiologia, biologia molecular, ecologia, química da atmosfera e até para estudos médicos — explica.
Simões lembra que a estação continuará fazendo apenas 25% da pesquisa antártica. O restante é realizado no navio polar Almirante Maximiano, em acampamentos e no módulo Criosfera 1, que, após dois anos fechado por falta de recursos, foi reaberto em dezembro pelos pesquisadores da UFRGS. O laboratório está a 667 quilômetros do Polo Sul geográfico e suas baterias haviam acabado. Além da troca de aparelhos com problemas, os pesquisadores gaúchos implantaram novos, como o medidor de radiação ultravioleta.