Após dois anos fechado por falta de recursos, o laboratório de pesquisas brasileiro mais ao sul do planeta será reaberto no próximo dia 12. Sem dinheiro, o módulo Criosfera 1, instalado em 2012 pelos pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) a 667 quilômetros do Polo Sul geográfico, estava com as baterias acabando e com equipamentos avariados. Além da troca de aparelhos com problemas, os pesquisadores gaúchos que estão na Antártica implantarão novos, como o medidor de radiação ultravioleta.
Conforme o professor Jefferson Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) da UFRGS e responsável pela primeira expedição de instalação da Criosfera, a reabertura do módulo só foi possível graças a verbas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e da Marinha. O professor destaca os desafios logísticos da operação no interior do continente, maiores do que na região da Estação Comandante Ferraz, que será inaugurada em janeiro. Para se chegar ao local onde está o laboratório Criosfera 1, é necessário o fretamento de avião particular, um cargueiro russo capaz de pousar no gelo, uso de tratores e de roupas ainda mais especiais para enfrentar o frio.
— Em Ferraz, a temperatura média é de -3ºC. Na Criosfera chega a -36ºC — compara o pesquisador.
Isso tudo torna a operação Criosfera 1 cara. Conforme Simões, é necessário uma visita por ano ao local para manutenção, avaliada em US$ 250 mil.
Localizado nas coordenadas 84°S, 79,5°W, o laboratório está a 2,5 mil quilômetros ao sul de Ferraz — a mesma distância entre as cidade do Rio de Janeiro e Belém, no Pará).
Trata-se de uma estação meteorológica que funciona ao longo de todo o ano, que permite investigar as interações entre as massas de ar antárticas e as do Brasil, avançando o conhecimento sobre as frentes frias (friagens) que afetam a produção agrícola brasileira, em especial do sul do Brasil. Os sensores do módulo também recebem informações sobre os componentes químicos da atmosfera, como concentração do dióxido de carbono (CO2). Ajuda ainda na investigação de sinais de poluição global gerados pela atividade industrial e de mineração.
— A reabertura da Criosfera concede maior protagonismo ao Brasil dentro do Tratado Antártico — afirma Simões.
O acordo completou 60 anos no domingo (1º). Assinado pelos países que reclamavam a posse de partes continentais da Antártica, regula a exploração científica do continente, em regime de cooperação internacional. O Brasil aderiu ao tratado em 1975 e, desde os anos 1980, realiza pesquisas no continente. Pela UFRGS estão na Antártica o climatologista Francisco Aquino e os técnicos Luiz Fernando Reis e Isaías Thoen. Simões viaja amanhã para Punta Arenas (Chile) e, de lá, para o interior antártico para acompanhar a reabertura do laboratório. O módulo é uma ação conjunta da UFRGS, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).