A Estação Científica Comandante Ferraz foi reinaugurada nesta quarta-feira (15) após a conclusão das obras iniciadas em 2015 e a aquisição de equipamentos de pesquisa. Em 25 de fevereiro de 2012, um incêndio iniciado na praça de máquinas de Ferraz matou dois militares, destruiu 70% do módulo principal e provocou um prejuízo de R$ 24 milhões.
A nova estação possui 4,5 mil metros quadrados (quase o dobro da anterior), tem capacidade para 65 pesquisadores que trabalharão em 17 laboratórios (14 internos e três externos). O custo total da construção chegou a US$ 99,6 milhões.
Em entrevista recente a GaúchaZH, o almirante Sérgio Guida, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), disse que a inauguração da nova estrutura representa o entendimento do Brasil sobre a importância da Antártica para o país. Confira a entrevista:
O que representa a inauguração da nova estação para a pesquisa brasileira?
Nosso programa antártico se solidifica. O Brasil começa a entender, com esse investimento, a importância da Antártica para o país. Somos o sexto país mais próximo do continente, que é o grande ar-condicionado do hemisfério sul e do planeta. Na Antártica, temos um continente com área equivalente a uma vez e meia o tamanho do Brasil, onde a espessura média de gelo equivale a três quilômetros. Certa vez, fui à Antártica com um grupo de parlamentares. Um deputado da bancada ruralista virou pra mim e falou: "Comandante, isso aqui é tudo muito bonito, mas o que isso importa pra mim?" Eu falei: "O senhor tem fazenda, né? Só chove na sua fazenda por causa disso aqui (as frentes frias que se formam na Antártica)". Não temos a noção da importância da Antártica para o nosso dia a a dia: as correntes frias, se no seu Estado faz frio é por causa da Antártica, se o clima é regular é em função da circulação oceânica que a Antártica regula. Além disso, há todo um potencial. Hoje, a Fiocruz está trabalhando com a gente, faz parte do Programa Antártico na área de pesquisa de medicina.
Hoje, se percebe todo o potencial biotecnológico da Antártica, muito mais do que qualquer potencial mineral?
Sempre se pensou na Antártica como um novo continente, como um dia foi América do Sul, a África e a Ásia para exploração de commodities e minerais de lá. Na Antártica, nesse sentido, há pouca possibilidade, mas o potencial biológico da Antártica é fabuloso: temos lá a possibilidade de descobrir anticongelantes, está se congelando fungos para curas de doenças tropicais, alterações de DNA que podem fazer com que nossas lavouras possam ser mais resistentes a geadas, por exemplo.
Quais os cuidados em segurança que foram tomados para a nova edificação?
A nossa antiga base, quando nasceu, em 1982, tinha seis contêineres. Primeiro, cresceu para 16 contêineres, depois chegou no limite de 33. Esses contêineres foram cobertos e compreendiam uma área de cerca de 2,5 mil metros quadrados. Era um monte de puxadinho, como se você fosse construindo uma casa e pensasse: "Agora, vou fazer um cômodo aqui e outro ali". Realmente, houve a fatalidade do incêndio. Não era uma estação construída para ser científica. Não tinha os requisitos para uma estação científica e, naquela época, até requisitos de segurança eram improvisados. Fomos crescendo ao longo do tempo. Hoje, não. Temos uma estação construída para ser científica. Os próprios cientistas dizem que temos a instalação científica mais preparada da Península Antártica. Temos uma estação científica hoje à altura do Brasil.
A estação ficará plenamente operacional a partir do dia 14, com os militares e pesquisadores já morando nela?
O grupo base muda para dentro da estação (antes estavam nos chamados módulos antárticos operacionais, estruturas temporárias). No ano passado, ficamos com a estação em vida vegetativa. Já estava pronta em março de 2019, mas precisávamos colocar no interior os equipamentos de pesquisa, que foram adquiridos ao longo desse ano e instalados neste verão. Para o inverno, estamos prevendo o oposto, o grupo base se muda para a estação, e o módulo antártico emergencial fica vegetativo.