Entenda a reportagem em cinco pontos
- Três cientistas foram anunciados como ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2019, por trabalhos na área da cosmologia.
- O canadense-americano James Peebles ficará com metade do prêmio, por descobertas teóricas sobre a história da evolução do espaço. Usando teorias e cálculos, Peebles interpretou os traços da "infância" do universo.
- A outra metade do prêmio irá para os suíços Michel Mayor e Didier Queloz, que identificaram em 1995 o primeiro planeta que orbita em torno de uma estrela que não seja o Sol.
- A cerimônia de premiação será realizada em dezembro.
O canadense-americano James Peebles e os suíços Michel Mayor e Didier Queloz foram anunciados, na manhã desta terça-feira (8), como ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2019. Eles foram agraciados em razão de trabalhos na área da cosmologia.
Segundo comunicado da Academia Real de Ciências da Suécia, metade do prêmio será entregue a Peebles, em decorrência de descobertas teóricas em cosmologia física. A outra metade caberá a Mayor e Queloz, pela primeira descoberta de um exoplaneta (planetas que orbitam estrelas que não sejam o Sol) ao redor de uma estrela de tipo solar.
Nascido no Canadá, Peebles tem 84 anos e naturalizou-se norte-americano. É professor de Física na Universidade Princeton e dedicou-se a estudar a história da evolução do universo, desenvolvendo teorias que estão na base da compreensão sobre o assunto.
Os astrônomos Mayor, 77 anos, e Queloz, 53 anos, são ligados à Universidade de Genebra e descobriram o primeiro exoplaneta, em 1995, dando início a uma busca que já revelou a existência de mais de 4 mil corpos desse tipo.
— Os três ganhadores de 2019 transformaram nossas ideias sobre o universo. Enquanto as descobertas teóricas de Peebles contribuíram para nosso entendimento de como o Universo evoluiu depois do Big Bang, Mayor e Queloz exploraram nossa vizinhança cósmica em busca de planetas desconhecidos. Suas descobertas mudaram para sempre nossa concepção do mundo — afirma um comunicado do Prêmio Nobel.
Nesta segunda-feira (7), foi anunciado o prêmio de Medicina e, nesta quarta, será a vez do de Química (3).
A pesquisa de James Peebles tornou-se a base para a transformação da cosmologia nos últimos 50 anos, que evoluiu da especulação para a ciência. É também a base para os conceitos atuais do universo.
O modelo do Big Bang descreve o universo desde seus primeiros momentos, há cerca de 14 bilhões de anos, quando o cosmo estava extremamente quente e denso. Desde então, ele vem se expandindo, tornando-se maior e mais frio. Quase 400 mil anos antes do Big Bang, o universo se tornou transparente, e raios de luz conseguiam viajar pelo espaço.
Mesmo hoje, esses raios de luz antigos seguem viajando pelo espaço, e muitos dos segredos do universo estão escondidos nela. Usando suas ferramentas teóricas e cálculos, James Peebles conseguiu interpretar esses traços da "infância" do universo. Seus resultados mostraram um universo no qual apenas 5% de seu conteúdo são conhecidos, ou seja, a matéria que constitui estrelas, planetas, árvores e o ser humano. O restante, 95%, é formado pelas desconhecidas matéria escura e energia escura.
Já Michel Mayor e Didier Queloz anunciaram a primeira descoberta de um planeta fora do Sistema Solar, o chamado exoplaneta, que orbitava uma estrela do tipo solar localizada, assim como o Sol, na Via Láctea.
No Observatório Haute-Provence, no sul da França, usando instrumentos improvisados, os cientistas conseguiram observar o planeta 51 Pegasi b, uma bola gasosa comparável a Júpiter, o maior planeta gasoso do Sistema Solar.
A descoberta deu início a uma revolução na astronomia. Quase 4 mil exoplanetas foram descobertos desde então na Via Láctea. Novos mundos de diferentes tamanhos, formatos e órbitas continuam sendo identificados.
Mayor e Queloz desafiaram os conceitos preexistentes sobre sistemas planetários e forçaram os cientistas a revisar suas teorias sobre os processos físicos por trás da origem dos planetas. Com tantos projetos dedicados a procurar exoplanetas, a resposta para a pergunta sobre se há vida fora da Terra pode ser um dia respondida.
A cerimônia de premiação propriamente dita dos vencedores deste ano só ocorre em dezembro.
Reconhecimentos anteriores
Em 2018, o Nobel de Física foi entregue ao americano Arthur Ashki, à canadense Donna Strickland e ao francês Gérard Mourou, por suas pesquisas com laser.
Ashkin, ligado aos Laboratórios Bell (Estados Unidos), foi premiado com metade do valor do prêmio por sua pesquisa com as chamadas pinças ópticas. Com 96 anos, ele se tornou o vencedor mais velho da história.
Mourou, da École Polytechnique (França), e Donna, da Universidade de Walterloo (Canadá), dividiram a outra metade por seu método de gerar pulsos ópticos supercurtos de alta intensidade.
Strickland foi apenas a terceira mulher a vencer o prêmio de física. Antes dela, foram laureadas Marie Curie (1903) e Maria Goeppert-Mayer (1963).
Em 2017, os vencedores foram os cientistas que realizaram a primeira detecção das ondas gravitacionais. Previstas pelo físico Albert Einstein (1879-1955) há um século, essas ondas são perturbações no tecido que os físicos denominam espaço-tempo e se propagam na velocidade da luz.
Entre os cientistas premiados no passado estão Max Planck (1918), por ter lançado as bases da física quântica; Albert Einstein (1921), pela descoberta do efeito fotoelétrico; Niels Bohr (1922), por suas contribuições para o entendimento da estrutura atômica e Paul Dirac e Erwin Schrödinger (1933), pelo desenvolvimento de novas versões da teoria quântica.
Foram premiados, ainda, Arno Penzias e Robert Wilson (1978), pela descoberta e detecção da radiação de fundo do Universo; o trio William Bradford Shockley, John Bardeen e Walter Houser Brattain (1956), por pesquisa na área de semicondutores e pela descoberta do efeito transistor, e a dupla Peter W. Higgs e François Englert (2013) por seus trabalhos sobre como as partículas adquirem massa.
O físico brasileiro César Lattes (1924-2005) teve participação decisiva em uma das descobertas científicas mais importantes do século passado: a detecção do méson pi (ou píon), partícula que mantém prótons e nêutrons unidos no núcleo dos átomos. Ele foi indicado ao Nobel de Física sete vezes, mas nunca levou o prêmio.
Como é a escolha
A escolha do vencedor do prêmio mais importante da área é feita pela Academia Real Sueca de Ciências, na Suécia, escolhida por Alfred Nobel em seu testamento para eleger e premiar com a láurea o os autores de feitos notáveis para a humanidade.
Podem indicar nomes membros do comitê do Nobel do Instituto Karolinska, membros da Academia Real Sueca de Ciências, vencedores dos Nobéis de física, professores titulares de física de instituições suecas, norueguesas, finlandesas, islandesas ou dinamarquesas e acadêmicos e cientistas selecionados pelo comitê do Nobel — autoindicações são desconsideradas.