Três esqueletos encontrados no fim de 2012, em Agudo, na Região Central, são os registros dos dinossauros de pescoço longo mais antigos do mundo. O achado, publicado nesta quarta-feira (21) no periódico científico britânico Biology Letters, é de 225 milhões de anos atrás (período Triássico) e traz informações importantes sobre esse grupo de animais. Os fósseis, bastante preservados nas rochas, também se destacam por serem os primeiros esqueletos completos de dinossauros encontrados no Brasil.
Batizado de Macrocollum itaquii, o dinossauro media cerca de 3,5 metros e trazia como principal característica o pescoço alongado, que, conforme o paleontólogo e um dos autores do estudo Rodrigo Temp Müller, do Centro de Apoio a Pesquisa Paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), facilitou a disseminação desses animais pela Terra.
— A partir dessa descoberta, começamos a entender características-chave: primeiro, o pescoço alongado, que ajudou na alimentação, depois a adaptação na dentição para se alimentar de plantas. É provável que, como se alimentavam de vegetação, se espalharam pelo planeta todo, pois não tinham que competir com outros animais.
Achados juntos, os esqueletos também trazem pistas sobre o comportamento desses animais, chamado de gregarismo.
— Indica que eles morreram juntos. Se morreram juntos, possivelmente, viveram juntos, sinalizando que viviam em grupos — completa Müller.
A escolha do nome tem relação ao pescoço comprido (Macrocollum) e também faz uma homenagem a José Jerundino Machado Itaqui, um dos principais responsáveis pela criação do Centro de Apoio a Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia, onde os fósseis do dinossauro estão preservados. O estudo também contou com a participação de Max Cardoso Langer, professor da Universidade de São Paulo (USP) e Sérgio Dias da Silva, professor da UFSM.
Marco Brandalise, professor da Escola de Ciências da PUCRS, destaca que um dos aspectos mais importantes desse achado é o estado de preservação dos fósseis, que permitiu fazer uma melhor análise da evolução desses animais.
— Esse material é espetacular. A preservação tridimensional do crânio é fabulosa, o que é realmente fora do comum. Esse bicho está preservado do focinho até a cauda — comemora o pesquisador, que também é curador da coleção de fósseis do Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS.
Segundo ele, essa nova espécie representa um dos primeiros registros das mudanças dos dinossauros, que antes não tinham cabeça pequena nem pescoço longo:
— Ele apresenta características que ajudam a explicar esses dinossauros com pescoço comprido e crânio pequeno, como os braquiossauros e diplodocos, que são os maiores dentre eles.
RS e Argentina guardam relíquias de milhões de anos
Com frequência, o Rio Grande do Sul e a Argentina são citados em descobertas de dinossauros e animais que habitaram a Terra há milhões de anos. Não faz muito tempo, pesquisadores divulgaram o Bagualosaurus agudoensis e o Siriusgnathus niemeyerorum, animais cujos fósseis foram achados em Agudo. Em julho, no país vizinho, também foi anunciada a descoberta de um fóssil gigante, com mais de 200 milhões de anos. Mas o por que essas regiões são uma mina para esses achados?
Müller acredita que, possivelmente, os dinossauros surgiram nessa área do mundo, segundo indicativos das rochas dessas regiões.
— A partir daí (de 225 milhões de anos), começaram a ir para a região leste da pangeia, onde hoje fica a Índia — supõe.