Não há espaço para pessimismo nas declarações de Mark Moore, diretor de engenharia do Uber, ao falar sobre os planos de oferecer transporte aéreo nas grandes cidades com o uso de "carros voadores" – termo de que ele admite não gostar, apesar de não ter encontrado uma alternativa melhor para descrevê-los.
Depois de trabalhar por 32 anos na Nasa, a agência espacial norte-americana, Moore tem se dedicado a tornar possível que veículos elétricos, silenciosos e relativamente pequenos, voem por sobre o tráfego em grandes centros urbanos. O engenheiro considera plausível que, dentro de cinco anos, como pretende o Uber, essa opção, chamada uberAIR, esteja disponível para os primeiros usuários no mundo.
Em entrevista exclusiva ao GaúchaZH, concedida nesta quarta-feira (9) em Los Angeles, Moore garante que esse serviço será uma realidade em breve, e compara a expectativa em torno do atual momento aos feitos da época em que surgiu a aviação.
Esses veículos são grandes drones, pequenos aviões, helicópteros menores, carros voadores? Como defini-los?
Só não gosto de "carros voadores", porque faz parecer que esses veículos podem transitar no chão, e eles não podem. São otimizados para voar de um terraço para outro. Gosto de chamá-los de "eVTOLs" (sigla em inglês para veículo elétrico com decolagem e aterrissagem verticais) mesmo, mas sou engenheiro, então o termo é bastante descritivo para mim. Ainda não descobri um nome melhor para eles. Mas, com o tempo, acredito que algum nome vai prevalecer, mas ainda não sei qual a melhor descrição.
Já temos a tecnologia necessária para tornar esses veículos disponíveis a curto prazo?
Temos a tecnologia necessária para começar. Ainda não temos toda a tecnologia que gostaríamos de ter, por exemplo, em relação às baterias, que ainda não são exatamente como queremos. Agora, temos que tornar os veículos muito eficientes em cruzeiro e quando estiverem pairando, para que as baterias durem tanto quanto for necessário. No futuro, os veículos poderão voar ainda mais longe, com ainda mais eficiência.
O que torna esses veículos mais adequados para o tráfego aéreo urbano do que helicópteros?
A diferença fundamental entre esses sistemas elétricos e as turbinas, por exemplo, que já existem há muito tempo, é que os motores elétricos independem de escala. A eficiência é alta independentemente do tamanho. Fazer uma turbina pequena, em comparação, torna ela muito pouco eficiente. Por isso helicópteros e aviões geralmente só usam um ou, no máximo, dois motores: porque eles precisam ser grandes para serem eficientes e confiáveis. Com motores elétricos, é diferente.
Qual a parte mais difícil de desenvolver em um veículo para transporte aéreo urbano?
A mais fácil é que tudo é elétrico, então funciona muito bem: todos os sistemas são digitais, não há partes mecânicas, como nos aviões ou helicópteros. Assim, a comunicação entre todos os diferentes componentes fica mais fácil. A parte mais difícil é fazer uma máquina silenciosa. E esse é um dos nossos focos. Para que esses veículos sejam "abraçados" pelas comunidades, é preciso que o barulho não incomode.
Será que eventualmente teremos esses veículos para uso pessoal?
Acho que isso não faz sentido. Esses veículos serão muito caros, na ordem de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões, dependendo de quantos serão feitos por ano. Seria pouco produtivo, não muito diferente de comprar um carro e não o utilizar. Estamos convencidos de que esses veículos serão usados quase exclusivamente para viagens compartilhadas.
Ver a proximidade do uso de um veículo aéreo para transporte urbano é como um sonho realizado?
É incrível ver o quão rápido isso está andando. É, sim, como um sonho. Há dois, três anos, quando eu estava falando sobre isso na Nasa, o mundo ainda estava cético. E agora sabemos que isso vai acontecer. A tecnologia está aí. Nós podemos tornar isso uma realidade. A sensação é ótima. Durante toda minha carreira na Nasa, me concentrei nessa tecnologia. Sempre com a esperança, até pouco tempo distante, de que um dia veria tudo acontecer. Fico feliz de saber que verei isso ser realizado antes de me aposentar. Há uma maravilhosa confluência de tecnologias se unindo para tornar tudo real. Isso poderia estar acontecendo daqui a 10 anos, mas está acontecendo agora. É um pouco como viver na geração dos pais da aviação.
* O repórter viajou a convite da Uber.
A proposta de carro voador da Uber:
— Velocidade de cruzeiro: 240 km/h a 320 km/h
— Altitude de cruzeiro: de 300 a 600 metros
— Veículo 100% elétrico
— Vida útil da bateria: cerca de 96 quilômetros por carga
— Recarga feita em cerca de cinco minutos
— No começo, os veículos serão pilotados, mas o objetivo é torna-los autônomos
— A cabine tem lugares para quatro passageiros, com espaço para bagagem
Estimativa de preço do uberAIR (em dólares, por passageiro):
Longo prazo: US$ 0,44 por milha*
Médio prazo: US$ 1,84 por milha
Curto prazo (no lançamento): US$ 5,73 por milha
Helicóptero (para comparação): US$ 8,93 por milha
* Uma milha equivale a 1,6 quilômetro