No lugar de linhas tortas, indicando o caminho por uma série de ruas e avenidas que é totalmente afetado pelo tráfego e suscetível a bloqueios e acidentes, a tela do aplicativo mostra uma suave curva até o destino da viagem. O ícone, em vez de mostrar um carro popular ou um grande veículo executivo, mostra o que parece um híbrido entre um drone e um avião de pequeno porte.
É com essa imagem que o Uber pretende criar uma nova categoria de transporte nas grandes cidades: pelo ar, através de um carro voador semelhante a um helicóptero que, pelos planos da empresa, deve começar a ser utilizado já em 2023.
Para isso, contudo, ainda há muitas etapas a vencer. A Uber apresentou detalhes estratégicos do projeto chamado Elevate nesta terça-feira (8) em Los Angeles, meses depois de anunciar a intenção de investir no mercado do transporte aéreo com um veículo próprio. O modelo ainda não foi demonstrado ao público, mas o objetivo é fazer os primeiros voos daqui a apenas dois anos.
— Não vai ser fácil, mas tenho 100% de certeza de que vamos conseguir — garante Eric Allison, coordenador dos programas de aviação na Uber.
A partir de entrevistas com integrantes envolvidos no projeto de transporte aéreo por aplicativo, GaúchaZH destacou algumas dificuldades que precisarão ser vencidas para tornar o sonho de carros voadores realidade. Confira:
Custo do serviço
O transporte aéreo é caro: há custos com infraestrutura, combustível, formação profissional, segurança. Para tornar esses carros voadores uma alternativa muito mais barata que voos de avião e helicóptero, o Uber pretende garantir economia em todas as áreas. A segurança seria feita no próprio aplicativo, garantindo que o usuário esteja autorizado a voar e que encontre o veículo que chamou. Em vez de motores, as máquinas do uberAIR seriam totalmente elétricas, usando baterias de rápida recarga. Anos depois do lançamento, os carros voadores se tornariam autônomos, evitando a necessidade de um piloto.
Preço para o usuário
A estimativa de preço, como não poderia deixar de ser, começa em um ponto muito alto, caindo gradualmente ao mesmo tempo em que aumentam o número de usuários e a quantidade de locais que oferecem o serviço. Para tornar o projeto acessível, o voo precisaria sair muito mais barato do que o transporte via avião ou helicóptero. E a empresa acredita que isso é possível: a ideia é que o preço seja compatível com o custo de ter um carro – a curto e médio prazos, a Uber nem estima que o preço seja competitivo com o dos serviços já oferecidos por terra. A longo prazo, a perspectiva é de tornar o carro voador uma alternativa para o Uber Black, serviço de carros executivos da empresa. Seria ainda muito mais amigável para o bolso compartilhar a viagem, indo em grupos, diferentemente do que acontece na maioria das viagens por aplicativo atualmente.
Passageiro indo ao encontro do carro
Atualmente, é possível chamar um carro, nas grandes cidades, praticamente onde quer que haja asfalto. Pelo ar, essa prática mudaria: seria preciso se dirigir até o local onde estariam concentrados os carros voadores, como em um grande estacionamento cheio de pequenos helipontos. Se esse local não for acessível, será pouco produtivo ter de pegar um carro até a "garagem-aeroporto" para então voar.
Tecnologia
Apenas imagens e curtos vídeos de simulação foram apresentados ao público pela Uber até agora. Pouco se sabe sobre a capacidade desses carros voadores de carregar pessoas com segurança, de ter autonomia suficiente para longas distâncias – como teriam de ser as viagens feitos pelo ar, para justificar seu uso –, de viajar apenas com baterias como as de um carro elétrico e, eventualmente, tornar tudo isso algo aceitável sem a presença de um piloto, como planeja a Uber – isso enquanto os carros autônomos por terra ainda sequer se tornaram uma realidade.
Onde estacionar
Mesmo em grandes cidades, são poucos os locais com helipontos – e, onde eles existem, geralmente há espaço para apenas um helicóptero. Como, então, criar locais de onde poderão partir dezenas, centenas, milhares de voos todos os dias? A Uber ainda não tem uma resposta, mas entre as alternativas encontradas está a criação de grandes garagens verticais. De uma dessas propostas, conforme o coordenador dos programas de aviação na Uber, Eric Allison, será possível fazer até mil partidas por hora. Seja como for, a empresa ainda precisará encontrar apoio das cidades onde pretende atuar pelo ar – algo em que não obteve pleno sucesso mesmo após anos em atividade em terra.
* O repórter viajou a convite da Uber.
Estimativa de preço do uberAIR (em dólares, por passageiro)
Longo prazo: US$ 0,44 por milha
Médio prazo: US$ 1,84 por milha
Curto prazo (no lançamento): US$ 5,73 por milha
Helicóptero (para comparação): US$ 8,93 por milha
*Uma milha equivale a 1,6 quilômetro
A proposta de carro voador da Uber:
— Velocidade de cruzeiro: 240 km/h a 320 kkm/h
— Altitude de cruzeiro: de 300 a 600 metros
— Veículo 100% elétrico
— Vida útil da bateria: cerca de 96 quilômetros por carga
— Recarga feita em cerca de cinco minutos
— No começo, os veículos serão pilotados, mas o objetivo é torna-los autônomos
— A cabine tem espaço para quatro passageiros, com espaço para bagagem