Depois de anos atuando com uma estratégia agressiva para ingressar no mercado de transporte por aplicativo nos países onde passou a atuar, incluindo diversas cidades do Brasil, o Uber está disposto a mudar sua abordagem no serviço de viagens aéreas que planeja oferecer a partir de 2023. Agora, a ideia é atuar em parceria com algumas prefeituras desde o início para tornar o serviço possível, trabalhando nos aspectos legais antes de tornar o chamado uberAIR disponível para a população. A proposta de "carros voadores" da empresa foi apresentada na terça-feira (8), em uma conferência em Los Angeles.
Por enquanto, apenas a região de Dallas (Dallas-Fort Worth/Frisco), no Texas, e Los Angeles, na Califórnia, ambas nos Estados Unidos, estão nos planos da espécie de táxi aéreo que a empresa planeja tornar disponível dentro de cinco anos. Nesta quarta-feira (9), porém, a Uber anunciou um convite aberto a cidades de outros países para que se candidatem a também receber o serviço.
— Queremos ouvir as cidades. Queremos saber o que podemos descobrir juntos. Queremos que vocês nos digam se querem esse serviço — afirmou Justin Erlich, responsável pela área de legislação na empresa, em tom e proposta bastante diferentes do que marcou o ingresso do aplicativo no Brasil.
As cidades que quiserem se candidatar devem ter mais de 2 milhões de habitantes, alta densidade populacional, um aeroporto nas proximidades e capacidade para promover importantes mudanças na forma com que as pessoas poderão fazer uso do transporte, conforme a empresa.
Essa busca por parcerias com as cidades também marcou o discurso do encarregado dos planos de aviação do Uber, Eric Allison, em entrevista exclusiva concedida ao GaúchaZH em Los Angeles, onde a empresa realiza a convenção Uber Elevate para apresentar seu projeto de transporte pelos ares. Confira os principais trechos:
É realmente possível oferecer esse serviço dentro de cinco anos?
Gostamos de missões difíceis. Sabemos que são objetivos ambiciosos, mas com base no que temos de informação até agora, nos parece que estamos no caminho certo. Muito ainda depende do desenvolvimento dos veículos, que serão feitos pelos nossos parceiros. Os primeiros voos serão apenas para demonstração, em 2020. Mas, dependendo de certificação, achamos que temos, sim, tempo para oferecer esse serviço a partir de 2023.
Qual será o modelo escolhido?
Não temos uma preferência. Desde que nossas especificações em relação a barulho, custo e preocupação com o ambiente sejam atendidas, vamos incluí-lo na nossa frota. E muitos fabricantes vão poder entrar nesse mercado, é a estratégia que decidimos adotar. Acreditamos que teremos muitos parceiros produzindo esses veículos e, desde que atendam às especificações, vamos gostar.
A empresa estima que haverá demanda que justifique o serviço de transporte aéreo?
Acreditamos que sim. Descobrir qual será a demanda é algo muito importante. E ela vai existir. As pessoas realmente estão em busca de melhores maneiras de se mover pela cidade – e creio que todo mundo gostaria de voar de helicóptero por aí, mas isso é muito caro. Nossa visão é que, com a tecnologia de veículos voadores e a mentalidade de compartilhar viagens, conseguiremos fazer um preço competitivo, ao menos comparável com o custo de ser proprietário de um carro.
Por que é importante tornar essa ideia de "carros voadores" realidade?
Estamos a todo momento pensando no futuro. E isso é tão "pensar no futuro do transporte" quanto possível no momento. Queremos realmente integrar muitas pessoas a esse ecossistema e trabalhar de maneira integrada para tornar esse sonho realidade. E estamos mais perto disso do que nunca.
Temos equipes trabalhando com legislação em praticamente todos os mercados locais em que atuamos. Não será diferente com o uberAIR.
ERIC ALLISON
Encarregado dos planos de aviação do Uber
A legislação necessária para tornar esse serviço possível não será um impeditivo?
Levamos isso muito a sério. Temos equipes trabalhando com legislação em praticamente todos os mercados locais em que atuamos. Não será diferente com o uberAIR. Inclusive já estamos levando em consideração algumas preocupações que virão da população, principalmente em relação ao barulho e o aspecto visual desses veículos. Estamos procurando cidades que nos queiram. Os parceiros que já escolhemos (as cidades norte-americanas de Dallas, no Texas, e Los Angeles, na Califórnia) realmente querem estar conosco. E continuaremos buscando isso.
* O repórter viajou a convite do Uber.
A proposta de carro voador da Uber:
— Velocidade de cruzeiro: 240 km/h a 320 km/h
— Altitude de cruzeiro: de 300 a 600 metros
— Veículo 100% elétrico
— Vida útil da bateria: cerca de 96 quilômetros por carga
— Recarga feita em cerca de cinco minutos
— No começo, os veículos serão pilotados, mas o objetivo é torna-los autônomos
— A cabine tem lugares para quatro passageiros, com espaço para bagagem
Estimativa de preço do uberAIR (em dólares, por passageiro):
Longo prazo: US$ 0,44 por milha*
Médio prazo: US$ 1,84 por milha
Curto prazo (no lançamento): US$ 5,73 por milha
Helicóptero (para comparação): US$ 8,93 por milha
* Uma milha equivale a 1,6 quilômetro