
A Justiça agendou para o dia 25 de abril audiência sobre o caso das duas gêmeas mortas em Igrejinha, no Vale do Paranhana, em outubro do ano passado. As irmãs Manuela e Antônia Pereira, de seis anos, morreram com intervalo de oito dias de diferença. A mãe das meninas, Gisele Beatriz Dias, 43 anos, é ré pelos assassinatos das filhas, mas nega o crime. Na sessão, serão ouvidos médicos, policiais envolvidos na investigação, o pai das crianças e uma irmã, entre outras testemunhas.
A audiência é a primeira prevista para ser realizada desde que a mãe das meninas passou a responder pela morte das filhas. Gisele está presa de forma preventiva, na Penitenciária Feminina de Guaíba. Na mesma decisão, o juiz Diogo Bononi Freitas, de Igrejinha, optou por manter a prisão dela. Para a acusação, a mulher matou as duas filhas, por sufocamento.
Estão previstas 33 testemunhas para serem ouvidas na sessão, que deve se iniciar às 8 horas. A primeira delas é o delegado Ivanir Caliari, responsável pelo inquérito. Em dezembro, a polícia concluiu a apuração do caso e indiciou a mãe pelas mortes. Naquele momento, a investigação tinha como principal hipótese o envenenamento, mas as perícias ainda não tinham sido finalizadas.
A perícia não conseguiu identificar nenhuma substância nos corpos das meninas compatível com envenenamento. O Ministério Público sustenta que a morte se deu por sufocamento e que existem outros indícios que levaram a mãe a ser acusada pelas mortes.
Três peritos, entre eles um médico legista, estão previstos para serem ouvidos como testemunhas. Há ainda 11 profissionais da saúde que falarão durante a audiência, entre eles médicos, psiquiatras, psicólogos e enfermeiros que atenderam Gisele ou as meninas.
Outras pessoas próximas da família estão indicadas como testemunhas, como parentes e vizinhos. O pai das crianças, Michel Persival Pereira, 43 anos, é uma delas. Ele vivia com Gisele, na mesma casa onde as meninas morreram, em Igrejinha. Uma irmã de Antônia e Manuela também será ouvida — ela não morava com os pais.
Na decisão, o juiz indicou ainda que deverá ser realizado o interrogatório de Gisele na mesma audiência. No entanto, em razão do elevado número de testemunhas é possível que seja agendada nova data para finalizar os testemunhos.
O caso
Foi a morte de Antonia, em 15 de outubro do ano passado, que fez a polícia suspeitar que pudesse estar diante de um crime. Em 7 de outubro, Manuela havia morrido, e teve a causa apontada como hemorragia pulmonar. As meninas viviam com a mãe e o pai, no bairro Morada Verde. Desde o início, uma das principais suspeitas era de envenenamento, apontado inclusive pela equipe médica como uma possibilidade.
O pai das gêmeas foi ouvido no inquérito como testemunha, não sendo considerado suspeito. Ainda em outubro, a Polícia Civil apontou que ele mantinha relacionamento afetuoso e comprometido com o bem-estar das filhas.
Já a mãe, devido ao histórico e por ser, segundo a apuração, a última a estar com as filhas, passou a ser investigada como principal suspeita. Gisele foi presa em outubro, vindo a ser indiciada e denunciada ainda em dezembro. A polícia optou por finalizar o indiciamento antes da conclusão das perícias.
No entanto, as análises realizadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) não identificaram, entre centenas de substâncias testadas, veneno ou medicamento que pudesse ter provocado a morte das irmãs. A acusação sustenta que Gisele pode ter sufocado as filhas, usando algum objeto macio, como um travesseiro, ou mesmo saco plástico, por exemplo.
Em fevereiro, o Tribunal de Justiça negou o pedido de soltura de Gisele. Em sua análise, a desembargadora Viviane de Faria Miranda, relatora do pedido, afirmou que, embora não tenha sido identificada substância que possa ter causado a morte das meninas, existem outros elementos e provas que devem ser considerados.
O que diz a defesa
O advogado José Paulo Schneider, responsável pela defesa de Gisele, nega que ela tenha sido a responsável pelas mortes das filhas.
— A defesa espera a partir da instrução poder esclarecer alguns pontos ainda controversos da denúncia, especialmente sobre as questões da perícia médica legal. E também confrontar algumas contradições que apareceram durante as investigações — diz o advogado.
Após o TJ negar a liberdade para a mãe, a defesa ingressou com um recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e aguarda julgamento.