Em agosto do ano passado, Gabriel Souza Machado, 17 anos, deixou uma festa, em Caxias do Sul, acompanhado de amigos. O grupo caminhava pela RS-122, quando foi abordado por assaltantes armados, que saltaram de um veículo. O adolescente tentou escapar correndo, mas foi alcançado e alvejado a tiros. Os bandidos fugiram levando dele o celular, um par de tênis e um moletom. Em março deste ano, três réus foram condenados pela morte do jovem.
É esse tipo de desfecho trágico que tem se buscado evitar com a redução dos roubos a pedestres no Estado. Além de gerar prejuízo e trauma à vítima, esse tipo de assalto é um crime que preocupa as forças policiais por poder desencadear outro delito ainda mais grave: o latrocínio. É quando resulta na morte da vítima.
Em outubro deste ano, o Rio Grande do Sul alcançou marco histórico na redução dos registros de assaltos desse tipo. Foram 1.105 ocorrências, enquanto no mesmo período do ano passado tinham sido 1.858 – queda de 40,5%. Quando se olha para anos anteriores essa diminuição é ainda mais acentuada. Ao menos desde 2010 (quando as estatísticas foram revisadas), não havia sido registrado um outubro com menos casos de roubos a pedestres.
— O roubo é o passo que antecede o latrocínio. Uma pessoa, por nervosismo, faz algum movimento que é entendido pelo criminoso como uma reação, e aí acontece o que ninguém quer, que é a morte do cidadão. Muitas vezes, esse criminoso para tomar coragem para os roubos faz uso de drogas, o que potencializa o risco em qualquer movimento — afirma o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli.
Secretário de Segurança Pública do Estado, Sandro Caron detalha que o combate a esse tipo de crime está entre as três prioridades para a diminuição da violência no Estado. Uma delas é a queda nos homicídios, com foco no enfrentamento às facções e ao tráfico de drogas, a segunda é a busca por reduzir os feminicídios, que são os assassinatos de mulheres em contexto de gênero, e a terceira envolve os crimes violentos contra o patrimônio. Em especial, os roubos de veículos e roubos a pedestres.
— São crimes que afetam em muito a sensação de segurança do cidadão e que podem evoluir para um latrocínio, que é algo muito grave. Então, a gente anuncia a redução, mas a estratégia segue. A gente entende que precisa avançar e reduzir mais ainda — analisa.
A evolução dos números
Quando se olha a série histórica dos registros de roubos a pedestres é possível perceber que o ápice desse tipo de crime se deu no período de 2015 a 2018. Nesses anos, somente no mês de outubro foram registradas cerca de 5 mil ocorrências – uma média de 168 pedestres roubados por dia. No ano seguinte, esses números começaram a cair, com redução de 800 notificações de roubos a pedestres em outubro de 2019.
Em fevereiro daquele ano, havia sido lançado o programa RS Seguro, uma estratégia do governo do Estado para coibir a criminalidade violenta. Para isso, foram elencados os municípios onde havia maior concentração de crimes como homicídios, latrocínios e os próprios roubos – com base em dados de análise criminal. A partir daí, foram elaboradas estratégias para atacar essa criminalidade em cada cidade.
Entre as medidas adotadas em relação ao policiamento nas ruas, está a de aumentar o efetivo nos locais onde há maior incidência de casos. A aposta é de que a maior presença policial em locais como o centro de Porto Alegre, por exemplo, tanto inibe a ação dos criminosos, como permite que a resposta seja mais rápida, caso o roubo venha a se concretizar. O videomonitoramento também ajuda na identificação dos ladrões e a entender a forma como agem.
— Fizemos várias prisões, onde, integrando a nossa inteligência com a Polícia Civil, conseguimos, com prova robusta, que esses criminosos permanecessem presos. O resultado é muito disso: a permanência na cadeia desses presos que cometiam roubos a pedestres de maneira contumaz. Isso fez diferença — avalia o comandante-geral da BM.
Segundo a polícia, esse tipo de ocorrência ainda tem maior concentração nos centros de grandes cidades, como a própria Capital, outras cidades da Região Metropolitana, Caxias do Sul, na Serra, e Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
— Quando se consegue reduzir nesses municípios onde há maior número de casos, vai diminuir no Estado inteiro — diz Feoli.
Celular é o bem mais visado
O celular ainda é apontado como o item mais visado pelos ladrões especializados nesse tipo de crime. Muitas vezes, segundo a polícia, os criminosos nem tentam levar outros pertences. Abordam a vítima, tomam o aparelho e fogem na sequência. Em inúmeros casos, os bandidos já sabem para onde vão repassar os telefones roubados.
Quando o aparelho não pode ser vendido, por estar bloqueado por exemplo, o caminho é a destruição. O celular é desmontado e as peças são vendidas separadamente. São adquiridas por pessoas que fazem consertos. Outro caminho bastante comum é roubar para trocar em pontos de tráfico por drogas.
— Os criminosos, normalmente, agem isoladamente, mas eventualmente nós temos quadrilhas. E atuamos fortemente. Várias dessas quadrilhas foram presas, inclusive em flagrante, com restituição de vários aparelhos aos proprietários. O crime cai porque muitos são criminosos contumazes, que praticam várias vezes a mesma conduta. Então, quando você prende um grupo desse que é especializado em fazer roubos, a pedestres, seja por celular, seja por relógio, tudo isso acaba diminuindo também os índices — afirma o chefe da Polícia Civil do RS, delegado Fernando Sodré.
Além da investigação dessas quadrilhas, entre as medidas adotadas para reduzir a incidência de ataques a pedestres pelos criminosos está a chamada Operação Mobile. Essa ofensiva permanente foi criada para identificar e reprimir pontos de receptação de produtos roubados, especialmente os celulares. A ação é realizada pela Secretaria de Segurança de forma integrada pela BM, com os bombeiros e órgãos de fiscalização da Capital.
— O policial militar vai até os locais de venda conhecidos e aqueles que a inteligência alcançou e faz a verificação dos IMEIs (código que identifica o aparelho) dos celulares que estão para vender. Para verificar se coincidem com os que têm registro de roubo — explica Feoli.
Na Capital, queda é de 37,6%
A Capital também vem reduzindo o número de casos de roubos a pedestres ao longo dos últimos anos. Ainda assim, o Centro Histórico de Porto Alegre segue considerado o local de maior incidência desse tipo de crime no Estado, segundo a BM.
O Comando de Policiamento da Capital (CPC) adotou medidas nos últimos anos para coibir a prática, como a instalação de pontos de visibilidade da BM, a presença do policiamento a pé e em duplas, o patrulhamento com PMs em motocicletas e a presença de viaturas em pontos estratégicos, para agir em casos de ocorrências.
No ranking das cidades com maior número de casos de roubos a pedestres, a Capital aparece em primeiro lugar, seguida por Alvorada, Caxias do Sul, Viamão e Novo Hamburgo. No comparativo entre outubro de 2024 e de 2023, a Capital teve redução de 37,6% nesse tipo de delito – foram 580 registros, enquanto no mesmo período do ano passado tinham sido 930.
Como agem
Para atacar as vítimas, ladrões se aproveitam dos horários de movimentação, como o fim de tarde, onde muitas vezes os pedestres estão mais cansados e desatentos, no retorno do trabalho. Os assaltantes atacam tanto quando as pessoas caminham pela rua, como enquanto aguardam em paradas de ônibus.
Em duplas ou trios, agem de maneira rápida e planejada. Enquanto um aborda a vítima, outros se aproximam e levam os pertences. Em alguns casos cercam a vítima, que é empurrada, agredida ou ameaçada de forma violenta. No Centro Histórico, a maioria utiliza facas para intimidar ou finge estar com arma de fogo. Em uma abordagem policial, a arma pode resultar numa prisão em flagrante. A faca também pode ser escondida mais facilmente.
É frequente ainda que ladrões contumazes usem pontos de apoio. Estabelecimentos já foram inclusive alvo de operações policiais no Centro. O criminoso, em geral jovem e com antecedentes, comete o roubo, corre para o local, troca de roupa e retorna para as ruas pronto para novos assaltos. Para mudar de aparência e evitar a identificação por parte da vítima, usam bonés, capuz e outras roupas que possam trocar de forma ágil.
Dicas
- Não manuseie aparelhos celulares em locais de grande concentração de pessoas. Isso faz com que a própria vítima perca atenção ao seu redor e também desperta a atenção dos bandidos;
- Se precisar utilizar o celular na rua, procure ingressar em algum comércio, como uma loja;
- Evite deixar expostos itens como joias ou relógios, que podem despertar o interesse dos criminosos;
- Cuide para que bolsas e mochilas permaneçam fechadas e no seu campo de visão. O ideal é que elas sejam usadas na frente do corpo;
- Evite permanecer sozinho em paradas de ônibus, especialmente à noite;
- Quando estiver caminhando pela rua, fique atento a quem está ao seu redor. Se possível, evite trechos com pouco movimento ou baixa iluminação;
- Se for vítima de roubo, tente manter a calma, e evite reagir. Procure a Brigada Militar ou a Polícia Civil e registre o fato. É possível também fazer a comunicação por meio da Delegacia Online.
Fonte: Brigada Militar