A natureza bondosa e amorosa de Daiane Flores Souza Gomes, 40 anos, é uma característica destacada por familiares e amigos, que lamentam a sua partida. Amante de festividades, ela morreu no último sábado (9) na praia de Imbé, no Litoral Norte, fazendo o que tanto amava — confraternizar com pessoas próximas.
Daiane estava na casa de parentes, participando de um churrasco, quando o ex-companheiro, Lenoir José Gomes, 61 anos, decidiu ir até a comemoração conversar com ela. O policial militar da reserva, que não teria superado o término do relacionamento, efetuou cinco disparos contra Daiane quando ela se dirigia ao banheiro. A mulher acabou morrendo no local e, em seguida, ele se suicidou.
— Era uma mulher alegre, cheia de vida, com o sorriso contagiante. Tinha 40 anos, mas parecia que tinha 20. Era muito paciente e amorosa. Estamos todos muito entristecidos pelo o que aconteceu — destacou uma parente, que preferiu não se identificar.
Havia cerca de duas semanas que o relacionamento de 17 anos havia chegado ao fim. Daiane não tinha o interesse em reatar e havia se mudado para balneário de Albatroz para morar com a mãe. Segundo a familiar, ela era dona de casa, mas planejava mudanças de vida.
Amigos contam que ela chegou a atuar profissionalmente em uma empresa de segurança, sendo responsável pelo escritório e pela equipe de recursos humanos havia alguns anos. Na época, ela tinha o desejo de ter sucesso profissional.
"Coração de ouro"
Antigo colega de trabalho da vítima, Adelar Schindler, 59 anos, relembra que foi consolado pela amiga em um momento delicado de sua vida.
— Daiane foi uma jovem solidária e atenta às necessidades das pessoas. Eu e minha esposa víamos ela como uma filha. Em um momento difícil de minha vida, ela se preocupou em fazer um jantar de aniversário para que eu não ficasse triste. Ela soube na empresa que era meu aniversário e se preocupou em me proporcionar um dia melhor. Viverei com essa lembrança ímpar. Minha esposa estava cuidando a mãe com câncer no hospital e a Daiane, sempre atenta a tudo e a todos, teve a sensibilidade comigo — relata.
Daiane era uma mulher vaidosa, que gostava de frequentar a academia e realizar exercícios físicos. Torcia para o Internacional e se entusiasmava com futebol.
Conforme a amiga Geni Lippert, 65 anos, Daiane se relacionava bem com as pessoas. Com um círculo de amizade grande, gostava de se reunir para confraternizar.
— Sempre foi doce, muito família. Era alegre e atraia alegria. Daiane tinha um coração de ouro. Todos nós (os amigos) estamos em choque ainda. Foi uma tragédia — diz Geni.
Ciúme e crime
De acordo com a Polícia Civil, o ex-marido de Daiane, Lenoir José Gomes, queria reatar o relacionamento, mas a mulher não tinha o mesmo desejo. Sem aceitar a decisão da ex-companheira, ele decidiu efetuar cinco disparos contra Daiane e na sequência tirar a própria vida. O filho do casal, um adolescente de 16 anos, presenciou o crime.
O comportamento possessivo do homem para com Daiane, segundo amigos, não é recente. Um homem, que conhecia o casal havia mais de uma década, relatou que Gomes era tranquilo no trato com as demais pessoas, no entanto, sempre demonstrou "ciúme doentio" de Daiane e "não relutava em fazer ameaças na frente de terceiros".
A família de Daiane, que é de Gravataí, disse que já havia um histórico de violência psicológica por parte do ex-marido. Conforme a polícia, a vítima não havia feito nenhuma denúncia anterior e não havia solicitado medida protetiva contra o ex-companheiro.
O filho do casal foi encaminhado aos cuidados da família materna após o ocorrido.
Como pedir ajuda
Brigada Militar – 190
- Se a violência estiver acontecendo, a vítima ou qualquer outra pessoa deve ligar imediatamente para o 190. O atendimento é 24 horas em todo o Estado.
Polícia Civil
- Se a violência já aconteceu, a vítima deverá ir, preferencialmente à Delegacia da Mulher, onde houver, ou a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência e solicitar as medidas protetivas.
- Em Porto Alegre, há duas Delegacias da Mulher. Uma fica na Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências).
- A outra fica entre as zonas Leste e Norte, na Rua Tenente Ary Tarrago, 685, no Morro Santana. A repartição conta com uma equipe de sete policiais e funciona de segunda a sexta, das 8h30min ao meio-dia e das 13h30min às 18h.
- As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado. Confira a lista neste link.
Delegacia Online
- É possível registrar o fato pela Delegacia Online, sem ter que ir até a delegacia, o que também facilita a solicitação de medidas protetivas de urgência.
Central de Atendimento à Mulher 24 Horas – Disque 180
- Recebe denúncias ou relatos de violência contra a mulher, reclamações sobre os serviços de rede, orienta sobre direitos e acerca dos locais onde a vítima pode receber atendimento. A denúncia será investigada e a vítima receberá atendimento necessário, inclusive medidas protetivas, se for o caso. A denúncia pode ser anônima. A Central funciona diariamente, 24 horas, e pode ser acionada de qualquer lugar do Brasil.
Defensoria Pública – Disque 0800-644-5556
- Para orientação quanto aos seus direitos e deveres, a vítima poderá procurar a Defensoria Pública, na sua cidade ou, se for o caso, consultar advogado(a).
Centros de Referência de Atendimento à Mulher
- Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência.