A Polícia Civil detalhou, nesta quarta-feira (30), a prisão de André Lorscheitter Baptista, 48 anos, suspeito de matar a esposa, Patricia Rosa dos Santos, 41 anos, utilizando medicamentos restritos.
A investigação aponta que, há dois anos, André Lorscheitter já havia tentado abortar o filho.
— Patricia teve o filho, que nasceu saudável e hoje tem 2 anos. Ele a dopou administrando uma medicação e inseriu instrumentos médicos no interior do útero com o objetivo de causar o aborto — conta o delegado de homicídios de Canoas, Arthur Reguse.
Em coletiva de imprensa, Reguse disse que Lorscheitter teria utilizado o medicamento Zolpidem, um indutor de sono, para fazer a vítima dormir. Na sequência teria aplicado dois remédios injetáveis: Midazolam e Succitrat, que teriam provocado uma parada cardiorrespiratória na vítima.
Segundo o delegado, o investigado é uma "pessoa fria, desconexa e com dificuldade de se expressar".
— Ele não tinha comportamento de uma pessoa que havia recém perdido a esposa, também constatamos que o local do crime estava com uma organização diferente da que ele havia descrito. Ele não soube explicar a razão de ter a medicação em casa. Além disso, ele é médico emergencista do Samu, mas não teria realizado manobras cardiorrespiratórias para salvá-la, ainda que tenha conseguido um laudo de outro médico apontando a causa da morte como natural, por infarto agudo no miocárdio — conta o delegado.
Em depoimento, Lorscheitter contou à polícia que a esposa havia dormido no sofá do imóvel após comer sorvete, mas ela foi encontrada morta em outro cômodo da casa. Após perícia na sobremesa, foi encontrado Zolpidem no pote, que a investigação indica que foi usado para fazer a vítima dormir.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) encontrou marcas de injeção em um dos braços e em um dos pés da vítima, que a polícia acredita que foi por onde o médico administrou os outros remédios. Gaze com sangue também foi identificada.
Uma mochila foi localizada com os frascos e dos remédios e seringas vazios. Ele alegou que usava os produtos para treinar médicos que estavam começando.
— Nós acreditamos que ele usou Midazolam para fazer a vítima não sentir dor e o Succitrat para matá-la, que é uma medicação que exige ventilação imediata — explica Reguse, já que os remédios exigem a entubação do paciente para evitar a morte.
A polícia foi acionada após a família de Patrícia desconfiar do relato de morte natural.
Serão investigadas também possíveis falhas logísticas do Samu de Canoas que permitiram que o médico usasse os medicamentos para uso pessoal. Tanto o Midazolam quanto o Succitrat têm uso exclusivo hospitalar.
Motivação para o crime
Para a Polícia Civil, ainda não está claro o que motivou o médico a matar a esposa. No entanto, ao longo da investigação, um episódio entre o casal chamou a atenção das autoridades: ele já teria dopado a esposa anteriormente, mas com o objetivo de forçar um aborto. A manobra não deu certo.
— O suspeito não queria ter tido um filho. Os familiares informaram que ele dopou ela em outra oportunidade usando dois abocaths (cateter flexível). O filho nasceu com vida, os familiares narraram que ela era um bom pai, mas tinha atitudes estranhas.
Segundo familiares dela, não haveria histórico de violência entre os dois além desse caso. Não há informações a respeito de um possível desacerto entre eles, como um término do relacionamento, também. A Polícia Civil segue investigando a ocorrência.
Zolpidem
Indicada para tratamentos com o prazo máximo de quatro semanas, a droga age no sistema nervoso central e induz o sono em menos de 30 minutos.
O aumento do número de relatos de uso irregular e abusivo relacionados ao Zolpidem fez com que o medicamento ganhasse uma nova classificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desde agosto, a disponibilização só é permitida mediante prescrição médica do tipo azul, de controle mais rigoroso que a tarja vermelha (como eram comercializadas as caixas com doses de 5mg e 10mg até então).
O que diz a defesa de André Lorscheitter Baptista
Em atenção à imprensa e à sociedade, e considerando a veiculação de notícias imprecisas e especulações sobre a morte de Patrícia Rosa dos Santos, Andre Lorscheitter Baptista, por meio de sua defesa técnica, representada pelo advogado Luiz Felipe Mallmann de Magalhães, declara ser absolutamente inocente de todas as graves imputações que estão sendo feitas. Além disso, assegura que o que ocorreu com Patrícia Rosa dos Santos foi uma tragédia, mas jamais um crime de homicídio.
Percebe-se que houve precipitação nas declarações veiculadas pelos órgãos competentes, visto que os fatos relacionados à morte da senhora Patrícia Rosa dos Santos ainda não foram devidamente esclarecidos. Qualquer especulação que presuma a culpabilidade do investigado, sem as provas necessárias, viola o princípio constitucional da presunção de inocência, além de acarretar sérios prejuízos à imagem do investigado e de sua família, que jamais poderão ser revertidos.
Esses são os esclarecimentos que a defesa técnica de Andre Lorscheitter Baptista considera necessários no momento.