No dia 2 de setembro deste ano não teve churrasco na casa de João Felipe Alves da Silva, no bairro Restinga. A data, que costumava ser marcada pela alegria do aniversário do morador da zona sul de Porto Alegre, agora reside apenas na memória da família do vigilante, que foi morto a tiros em 11 de março.
O vigilante foi assassinado à luz do dia na Vila Conceição, onde trabalhava, ao tentar impedir o assalto a um entregador. Seis meses após o crime, Andryun Soares da Silva e Fernando Miguel Serafim da Silva, os dois acusados pelo crime, seguem presos preventivamente.
Apaixonado por churrasco e figura ativa na comunidade, Felipão, como era conhecido pelos amigos, deixou a esposa Evanise Silva e três filhos. Ela conta que o casal se conheceu em 1996, quando começaram a namorar. Eles se casaram em 2001.
Apesar da saudade do marido, a mulher segue com os estudos na área de enfermagem, que ela havia retomado por influência dele, que também se dedicava aos estudos na área do Direito.
— Tenho que seguir a vida, não posso parar, mas tem que ter justiça — diz Evanise.
Na última terça-feira (17), ocorreu a audiência de instrução dos dois réus, ocasião em que puderam ser ouvidas as testemunhas de defesa e acusação, além dos acusados. Na ocasião, prestaram depoimentos os policiais militares Andressa Quadros Ickert e Pablo dos Santos Gomes. O processo corre em segredo de Justiça e a sessão foi fechada.
Como o crime aconteceu
Por volta do meio-dia daquela segunda-feira, 11 de março, Silva presenciou um assalto na Rua Professor Ildelfonso Gomes, na Vila Conceição, onde ele atuava como vigilante pela empresa STV há 10 meses.
Segundo a polícia, dois homens haviam assaltado um entregador no local e transferiam a mercadoria do furgão de uma empresa para o automóvel Gol que usavam. Quando percebeu a ação, o vigilante deu ordem para que os três se deitassem no chão, já que não sabia quem era a vítima do roubo.
O entregador e os dois criminosos obedeceram ao comando e se deitaram na via. Silva conseguiu render a dupla de assaltantes pois simulou que estava armado. O vigilante ainda conseguiu utilizar o seu celular para registrar uma foto dos três durante a abordagem.
A imagem foi enviada para o supervisor do vigilante que acionou a Brigada Militar. Na sequência, Silva foi atingido por três disparos. A foto registrou o rosto de um dos criminosos e a placa do carro usado no crime.
Buscas e captura
As informações do veículo foram inseridas no cercamento eletrônico, sistema em que câmeras espalhadas pela cidade fazem uma “varredura” em busca de veículos que estejam irregulares, por meio de um banco de dados.
O veículo dos criminosos foi localizado pelo sistema pouco tempo depois na Avenida Bento Gonçalves, já perto de Viamão, emitindo um alerta. Equipes da Capital avisaram as do município. A dupla que fugia no veículo passou a ser monitorada e foi capturada cerca de uma hora depois de cometer o crime. Eles foram localizados na casa de um familiar, no bairro São Lucas, em Viamão.
Com os investigados, foram apreendidos itens roubados do entregador, que dirigia um furgão de uma empresa de logística que entrega compras feitas online. Foram levados objetos como fraldas, lenços umedecidos, almofadas, eletrodomésticos, livros, material de higiene e suplementos alimentares.
Contraponto
Os réus são representados pela Defensoria Pública do Estado (DPE), que informa que só se manifestará nos autos do processo.