Foi em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, que a polícia gaúcha conseguiu encontrar um foragido investigado por suspeita de envolvimento numa série de homicídios na zona norte de Porto Alegre. Jeferson Pires dos Santos, 31 anos, o Shox, é irmão de outro preso, apontado como líder de uma facção, envolvido num conflito no ano passado. Procurado desde o começo do ano, ele teve o paradeiro desvendado pela equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) no fim da última semana.
Shox é irmão de Maicon Donizete Pires dos Santos, 32 anos, o Red Nose, preso em fevereiro deste ano, também pela equipe do DHPP, em Santa Catarina. Quando foi encontrado, Red Nose já era procurado havia mais de seis meses, apontado como responsável por uma série de homicídios no Rio Grande do Sul, principalmente na Região Metropolitana.
Segundo as investigações da Polícia Civil, ele teria tentado promover uma espécie de "golpe de Estado" para ascender dentro da facção nascida no bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital, da qual fazia parte. Depois disso, deixou o grupo criminoso e criou uma nova quadrilha, que passou a promover uma série de homicídios e ataques violentos na Capital, conforme apurado pela polícia. A estimativa é de que essa organização tenha tido influência em pelo menos 30 homicídios.
O irmão, preso na última sexta-feira (13), é apontado como espécie de braço direito, que ocuparia o segundo lugar na hierarquia do novo grupo criminoso. Para chegar ao paradeiro dele, os policiais passaram os últimos meses tentando rastrear os locais onde Shox poderia ter se escondido. Red Nose havia sido preso numa farmácia em Garopaba, no sul de Santa Catarina — a cerca de 55 quilômetros de Palhoça.
Malas prontas
Após uma série de levantamentos, há cerca de três semanas, a polícia gaúcha chegou à conclusão de que Shox, assim como o irmão havia feito, estava escondido em Santa Catarina. Os policiais conseguiram descobrir alguns endereços onde o foragido poderia estar abrigado.
Na quinta-feira, dia 12, quatro agentes da 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), coordenados pelo delegado Thiago Zaidan, viajaram até Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, a 440 quilômetros de Porto alegre. Os policiais passaram a fazer levantamento dos locais onde o foragido poderia estar.
No segundo dia de campana, na tarde da sexta-feira, dia 13, localizaram Shox saindo de uma dessas residências. Tratava-se de uma casa alugada, na qual ele estaria se escondendo, segundo a polícia. Quando foi encontrado pelos policiais, Shox estava de malas prontas, caso precisasse deixar o local às pressas.
Segundo a polícia, o próprio foragido admitiu que pretendia escapar para outro Estado em breve. O foragido estava sozinho e não tentou reagir à abordagem dos agentes. Com o suspeito foi localizado somente o telefone celular.
O homem estaria escondido em Santa Catarina desde o início do ano. Os policiais não descartam, no entanto, que ele tenha trocado de endereço nesse período.
— Ele era considerado um dos nossos alvos prioritários. Essa captura foi fundamental para causar mais prejuízo ao crime organizado pelas mortes ordenadas no final do ano passado no RS — afirma o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.
Recrutamento e ataques
Segundo apurado pela polícia durante as investigações, Red Nose e Shox atuariam juntos na mesma organização criminosa. Um dos papéis exercidos pelos dois seria identificar membros da facção rival — da qual já tinham feito parte — que pudessem ser recrutados para trocar de lado.
Aqueles que se negavam a abandonar a facção, segundo a polícia, acabavam alvo de ataques violentos. Esses ataques seriam coordenados pelos irmãos. Foi isso que teria acontecido, por exemplo, com um familiar de um criminoso, que foi vítima de um ataque a tiros na zona norte da Capital, no fim de setembro do ano passado.
Inicialmente, segundo a polícia, os criminosos exigiram que o traficante mudasse de facção e passasse a integrar a deles. No entanto, como ele teria se recusado, passaram a fazer uma série de ameaças à família.
Depois disso, decidiram atacar o sobrinho dele, que não tinha envolvimento com o mundo do crime. O adolescente foi alvejado a tiros na frente de casa, na presença da mãe. O garoto sobreviveu ao ataque.
Três semanas depois, em outubro passado, teriam promovido outra empreitada criminosa, dessa vez causando a morte do homem que havia se negado a mudar de facção.
Foi por este crime que, segundo a polícia, ele teve a prisão decretada pela 2ª Vara do Juri de Porto Alegre. Ele também possui uma condenação por tráfico de drogas. Shox ainda seria responsável, segundo a polícia, por gerenciar o tráfico de entorpecentes. Ele já tinha passagens anteriores pelo sistema prisional gaúcho, e possui antecedentes por homicídio e tráfico de drogas.
Contraponto
Conforme informações da Polícia Civil, o preso ainda não chegou a ser ouvido sobre os crimes dos quais é suspeito, e não havia apresentado advogado até o momento.