A Polícia Civil apreendeu R$ 20 milhões em bens dos influenciadores Gladison Pieri e Pamela Pavão, presos preventivamente em casa na manhã desta sexta-feira (9), em Canoas, na Região Metropolitana. O casal é suspeito dos crimes de exploração de jogos de azar, contra a economia popular, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Conforme o delegado Cristiano Reschke, durante a Operação Dubai, deflagrada na terça-feira (6), foram apreendidos 50 carros de alto padrão com o casal, entre os quais há um Chevrolet Corvette avaliado em R$ 1,5 milhão, duas BMW X6, de R$ 1,1 milhão cada, e um Audi A8, de R$ 850 mil. Além disso, foram apreendidas quatro motos aquáticas avaliadas em mais de R$ 150 mil cada, reboques e um barco que está na Marina de Porto Belo, em Santa Catarina.
Também foram apreendidos cerca de R$ 600 mil em espécie. Segundo o delegado, havia notas em real, moeda árabe e dólares.
Na quinta-feira (9), foi cumprido um novo mandado de busca e apreensão, desta vez em São Paulo. Um Porsche avaliado em R$ 2 milhões, que seria customizado para Pamela, foi apreendido. Conforme o delegado, o apartamento do casal, em Balneário Camboriú, no litoral catarinense, é avaliado em R$ 15 milhões.
Segundo Reschke, a quebra de sigilo bancário apontou que, pelas contas dos influenciadores, circulavam mais de R$ 10 milhões. A polícia investiga a não entrega de veículos que foram sorteados, a entrega dos veículos a conhecidos do casal e a mescla de capital do faturamento com a renda da oficina e da loja de roupas do casal, que caracterizaria lavagem de dinheiro, uma vez que o valor das rifas viria de uma prática ilícita.
O delegado diz que já foi feito o pedido de alienação dos bens apreendidos. Os automóveis estão retidos em um depósito do Detran.
Pedido de prisão
A prisão preventiva foi protocolada na manhã de quinta-feira (9), segundo o delegado, entre outros motivos, pelo fato de que, menos de duas horas após ser liberado da prisão em flagrante por porte de arma, na noite de terça-feira (6), mediante pagamento de finaça, Gladison anunciou nas redes sociais um novo sorteio.
Conforme o delegado, a Pieri Prêmios, empresa dos influenciadores, não está atuando dentro das normas legais. Além disso, a polícia pediu a derrubada do perfil no site de rifas e do Instagram da empresa. Cientes disso, os influenciadores teriam criado uma nova conta.
— Eles anunciaram um outro perfil. Começaram um novo anúncio de rifas e anunciam, inclusive, uma BMW I8 que foi apreendida na operação. Eles não tinham a menor possibilidade de entregar aquele veículo. Isso é um golpe, entregar ou anunciar um veículo que está preso judicialmente — diz o delegado.
O pedido foi embasado, conforme Reschke, em uma solicitação de garantia da ordem econômica. Ele também pontua que os vídeos publicados pelos influenciadores nas redes sociais “desdenham do sistema de Justiça Criminal”:
— Fizeram uma live dizendo “bateu na trave”, entre outros vídeos que eles colocam, com outras falas. A prisão foi feita pela garantia da aplicação da lei penal e também por conveniência da instituição criminal, pois eles não estão colaborando com a investigação.
Investigação
De acordo com Reschke, a investigação teve início em julho de 2023, a partir de dezenas de denúncias. A apuração da polícia aponta que os suspeitos sorteavam casas, apartamentos, motocicletas, motos aquáticas, dinheiro e carros.
Contudo, esses prêmios eram entregues a pessoas próximas a eles ou não eram entregues aos vencedores. O delegado pontua que alguns veículos são entregues com o objetivo de induzir os demais apostadores ao erro.
Susep aponta irregularidade
No perfil da Pieri Prêmios nas redes sociais consta que as ações da empresa são "100% legalizadas com autorização da Susep (Superintendência de Seguros Privados)", órgão do governo federal que é responsável pela autorização das operações das Sociedades de Capitalização.
Procurada por Zero Hora, a autarquia federal informou que "embora a empresa comente que ela é 100% regular, ela não tem autorização da Susep para operar como sociedade de capitalização". Na nota, a Susep pontua que "ao verificar o site da empresa, eles apresentam informações de uma empresa autorizada pela Susep, a ViaCap Capitalização S.A., além de informarem tratar-se de um Título de Capitalização da Modalidade Filantropia Premiável. Entretanto, não há informações adicionais de como se dá essa relação ou o número do processo Susep que autorizou o Título de Capitalização."
A autarquia federal explica que o título de capitalização é um contrato de adesão e a sua comercialização fica condicionada à aprovação do mesmo por parte da Susep, somente podendo ocorrer por sociedades de capitalização (constituídas como sociedades anônimas) devidamente autorizadas a operar. A nota frisa que "a comercialização de títulos de capitalização em desrespeito às condições acima é enquadrada como atividade ilegal/ irregular, sujeita às penalidades cabíveis".
Quando não atendidas as condições estipuladas, a Susep afirma que poderá determinar à sociedade de capitalização a recusa ou a suspensão do contrato com distribuidor.
O que diz a defesa
A defesa do casal se manifestou por meio de nota.
"A defesa conduzida pelos advogados André Callegari e Marília Fontenele afirmam o seguinte:
1. Todos os prêmios foram entregues e há comprovação documental disso.
2. A operação estava regular e legalizada. Não há nada de ilícito quando o sorteio é feito através de títulos de capitalização.
3. A defesa considera a medida de prisão extrema e desnecessária diante dos fatos supostamente imputados. Havia uma determinação de cautelares alternativas à prisão que sequer foram implementadas por falha da polícia. Em seguida e sem necessidade foi decretada a preventiva. Por isso pediremos a liberdade."