A Polícia Civil prendeu preventivamente, nesta sexta-feira (9), os influenciadores digitais Gladison Pieri e Pamela Pavão, suspeitos de praticar o golpe da rifa virtual em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre.
A dupla foi alvo de uma operação policial contra o esquema na última terça (6). Na ocasião, os dois foram detidos por posse irregular de arma de fogo.
Na delegacia, Pieri foi preso em flagrante, pois disse que a arma de fogo era de sua propriedade, mas pagou fiança de R$ 100 mil e foi liberado. Pamela foi liberada após prestar depoimento.
Os dois são investigados por crimes de exploração de jogos de azar, contra a economia popular, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
A Justiça decretou as prisões porque, apesar de saber que estão sendo investigados, continuaram realizando as rifas ilegais. O delegado Cristiano Reschke conta que um dos prêmios divulgados após a operação é uma BMW — veículo que foi apreendido durante a ação da polícia.
Contraponto
A defesa do casal se manifestou por meio de nota:
"Os advogados André Callegari e Marília Fontenele, que defendem o casal Gladison e Pamela, afirmam que foram surpreendidos pela decretação de prisão, medida reconhecidamente desnecessária pelo juízo quando da deflagração da operação há dois dias atrás.
Decretar uma prisão por suposta reiteração criminosa sem que sequer fossem implementadas as cautelares alternativas à prisão, foge a boa aplicação do Código de Processo Penal."
Casal se manifestou após primeira prisão
Após a operação da terça-feira, o casal se manifestou nas redes sociais alegando que só tinha ido à delegacia para prestar esclarecimentos a respeito da época em que "não eram regularizados" e que, agora, são "100% regularizados". A Polícia Civil contesta a afirmação.
Conforme a legislação brasileira, rifas virtuais são ilegais. Exceto haja uma autorização expressa do Ministério da Fazenda, todo e qualquer tipo de sorteio, seja envolvendo rifa ou qualquer outro jogo de azar, é tido como um "ato ilícito". Geralmente, há permissão para causas filantrópicas, mas apenas de prêmio e brindes — não de dinheiro.
Além disso, a investigação policial aponta que, até 2023, o dinheiro pago pelo público interessado nas rifas ia direto para as contas do casal, o que é irregular. A partir deste ano, a dupla teria contratado uma "empresa de título de capitalização". Só que, por lei, os títulos precisam estar vinculados a uma entidade beneficente, explica a Polícia Civil.
A Polícia Civil aponta, ainda, que há indícios de manipulação dos números sorteados. O site no qual as rifas ficavam hospedadas foi alvo de ordens judiciais. A análise vai apontar se houve fraude em sorteios, inclusive com a disponibilização de mais números para venda do que os que participavam do sorteio.
A investigação sustenta que nem todos os prêmios eram entregues. Há ainda suspeita de que pessoas próximas, como familiares, eram sorteadas. Há um caso já identificado de um homem próximo ao casal que ganhou o prêmio duas vezes.
Veículos milionários
A Polícia Civil apreendeu ao menos 15 carros durante a operação contra o casal. Na frota de veículos recolhidos, aparecem marcas de luxo como Porsche, BMW e Corvette. Os modelos chegam a superar R$ 1 milhão cada, conforme apurou a investigação.
"Os indivíduos ostentam vida de luxo nas redes sociais, com veículos avaliados em mais de R$ 1 milhão, viagens ao Exterior e aquisição de apartamento luxuoso em conhecido balneário de Santa Catarina", disse a Polícia Civil.
As rifas
De acordo com a investigação, os suspeitos sorteavam casas, apartamentos, motocicletas, motos aquáticas, dinheiro e carros, mas os prêmios seriam entregues a pessoas próximas a eles. Há indícios de que o casal pagava "laranjas", Brasil afora, que apareciam em transmissões on-line se passando por vencedores.
O valor de uma "cota" para participar das rifas podia ser de R$ 0,10. Os influenciadores têm mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais. A polícia identificou que o casal movimentava milhões de reais em suas contas bancárias.
A investigação também aponta para a prática do crime de lavagem de dinheiro. Esses valores, segundo a investigação, seriam misturados com o faturamento das empresas dos influenciadores, voltadas à prestação de serviços e à venda de produtos paralelos.
Além disso, foi identificada a propriedade de bens que não estão registrados em nome dos suspeitos. Com a mistura do capital e a ocultação dos ativos obtidos ilegalmente, os investigados lavariam o dinheiro ilícito.