Moradores da Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre, bloquearam a Rua Dona Otília em protesto nesta sexta-feira (30). O grupo queimou móveis sobre a pista, em uma manifestação que começou às 14h e terminou por volta das 16h. Segundo participantes, o motivo foi a morte de um jovem de 19 anos, baleado pela Brigada Militar (BM) na noite de quinta-feira (29).
A Brigada afirma que o rapaz, cujo nome não foi divulgado, morreu em confronto com PMs. Segundo a corporação, durante o patrulhamento os policiais se depararam com o suspeito portando uma arma na Rua Dona Otília. A BM diz que ele reagiu à abordagem, gerando o confronto. Baleado, ele teria sido socorrido, mas não resistiu. Não houve feridos entre os PMs.
Conforme a líder comunitária Tatty Cardoso, esse episódio foi o que desencadeou o protesto desta sexta.
— É violência abusiva, não ostensiva. Os policiais devem fazer o trabalho deles. Mas, se a pessoa faz algo de errado, precisa ser conduzida à delegacia, não morta. A Brigada diz proteger a comunidade, mas quem protege a comunidade da polícia? — disse Tatty Cardoso.
Ainda na tarde de quarta-feira (28), um outro suspeito já havia morrido em confronto com a BM no bairro Nonoai, também na Zona Sul. De acordo com o 1º Batalhão de Polícia Militar (1º BPM), os policiais faziam a ronda na Rua Octávio de Souza quando o homem teria atirado contra eles, que revidaram.
Durante o protesto desta sexta, duas mulheres foram conduzidas à delegacia. Segundo a BM, elas estariam "colocando fogo em via pública, obstruindo a passagem de veículos e tirando o direito de ir e vir das pessoas".
Na delegacia, as duas negaram participação e foram liberadas.
Suspeitos atiraram primeiro, diz BM
Segundo o major Ademir Henz, subcomandante do 1º BPM, o jovem morto na quinta-feira abriu fogo contra os PMs ao receber voz de prisão. Ele era considerado foragido e teria consigo uma pistola.
— Ele não aceitou a abordagem, estava em um beco, e aí houve o confronto. Se ele tivesse se rendido não teria havido o confronto — descreve o major.
O homem que morreu na quarta-feira também teria antecedentes.
— Quem decide pelo confronto é o criminoso. No decorrer dos últimos 10 dias houve diversas apreensões, inclusive prisões por porte ilegal de arma e tráfico de drogas. Aqueles que se renderam foram presos e aqueles que acabaram ousando enfrentar o poder do Estado tiveram uma resposta letal, que é legitimada pelo poder estatal — afirma Henz.
A Brigada Militar reforçou o policiamento na zona sul da Capital desde o último dia 18, quando três homens foram executados durante um jogo de futebol no bairro Camaquã. O reforço conta também com PMs do Batalhão de Choque.
* Produção: Camila Mendes