A Polícia Civil prendeu cinco pessoas e apreendeu 20 automóveis durante a Operação Arsenal, deflagrada pela Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Leopoldo, na manhã desta sexta-feira (30).
A ofensiva mirou esquema de lavagem de dinheiro gerido a partir do clube de tiro M16, localizado em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Segundo a polícia, o estabelecimento estaria sendo administrado por laranjas, ligados a uma facção sediada no Vale do Sinos.
O proprietário do M16 foi preso nesta manhã, em casa, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Segundo a polícia, o homem escondeu três celulares dentro de parede falsa no seu quarto para impedir que fossem apreendidos, uma vez que a Operação Arsenal obteve quebra de sigilo telefônico dos investigados.
Contudo, um dos aparelhos despertou, denunciando sua localização. Em razão disso, o homem, que seria o líder do esquema, foi preso por obstrução da Justiça.
Além dele, outros quatro investigados foram presos em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Capela de Santana. Os nomes deles não foram divulgados.
Os quatro são suspeitos pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Entre os antecedentes dos presos há registros por associação criminosa, furto qualificado, estelionato e porte ilegal de arma de fogo.
Durante a investida, também foram apreendidas 62 armas, entre as quais há fuzis caibre 5.56, espingardas, pistolas e munições. A polícia também recolheu cerca de R$ 30 mil em dinheiro, além de eletrônicos, computadores e telefones.
Entre os carros apreendidos, há modelos como BMW 320i e uma Land Rover, que custam na faixa de R$ 300 mil cada. Com o homem preso em flagrante em Capela de Santana foi apreendida uma moto BMW S 1000 RR que custa cerca de R$ 100 mil.
Os veículos foram levados provisoriamente para um depósito judicial do Detran. A polícia diz que pretende solicitar a alienação antecipada dos veículos para Justiça, assim como os cinco imóveis que foram sequestrados judicialmente.
Reclamações de clientes
A apuração da polícia aponta que a 2ª DP de Novo Hamburgo recebeu diversos registros de estelionato contra o ex-proprietário do clube de tiros, que estaria vendendo armas, mas não as entregava. Em 2022, o homem vendeu o estabelecimento.
Zero Hora conversou com pelo menos cinco pessoas que foram lesadas pelo ex-proprietário entre 2021 e 2022. Alguns relataram espera de até um ano para receber a arma adquirida pelo site da empresa.
No site Reclame Aqui, há 29 reclamações registradas devido a não entrega de armas ou falta de quitação de valores por parte do M16.
Em um grupo em um aplicativo de mensagens, vítimas criaram uma lista com nomes de mais de 20 pessoas lesadas. Elas apontam que só tiveram uma resposta efetiva, com solução dos problemas, após registro de ocorrência policial ou junto ao Procon. Segundo as vítimas, as pendências foram resolvidas pelo novo proprietário do clube.
Embora o relacionamento com os clientes tenha sido pacificado com a nova gestão, a polícia identificou novas irregularidades. Durante a fase de instrução do inquérito, apresentou-se como proprietário do clube de tiro um homem com renda declarada de R$ 1 mil, que atua como chapeador e caldeireiro, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
No entanto, uma testemunha apontou à polícia que o proprietário do M16 seria, na verdade, o filho deste homem. Conforme a investigação, ele teria antecedente por tentativa de fraude documental, uma prisão em flagrante, além de indiciamentos por receptação e roubo de cargas.
Esse filho se apresentou às autoridades como empresário, proprietário de um minimercado em São Leopoldo. Segundo a polícia, ele seria conhecido na região por envolvimento em receptação e roubo de cargas, inclusive tendo sido processado por esses crimes. A polícia diz ainda que ele tem envolvimento com uma facção sediada no Vale do Sinos.
Após identificar transações suspeitas, os investigadores pediram à Justiça a quebra de sigilo bancário e telefônico de 38 pessoas. As interceptações levaram à identificação de novos suspeitos, além de estabelecer vínculo entre o esquema com a facção criminosa.
Em áudio interceptado, a polícia identificou uma transação de drogas praticada pela companheira do principal investigado.
Contraponto
Zero Hora tenta contato com o clube de tiro M16, mas até o momento, não obteve sucesso. O espaço segue aberto para manifestação.