Preso em Bombinhas, em Santa Catarina, por suspeita de ser o mentor da loja virtual Tá Di Zueira, Anderson Boneti é investigado também por crime virtual que lesou uma empresa multinacional em mais de R$ 30 milhões. A ação envolve o ex-jogador da dupla Gre-Nal Anderson Luís de Abreu Oliveira, o Andershow.
Na loja virtual Tá Di Zueira, Boneti é suspeito de ter causado prejuízo a mais de 370 pessoas. Ele teria agido em parceria com o influenciador digital Nego Di — os casos não possuem relação e o influencer ainda não tinha sociedade com Boneti na época do crime.
Já a investigação sobre a operação Criptoshow foi desencadeada pelo Ministério Público em junho de 2020. Na época, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão. O alvo era um grupo criminoso que teria invadido o sistema do Banco Santander e por meio de outra conta conseguido movimentar o saldo que pertencia à empresa Gerdau.
Durante dois dias, os denunciados teriam feito 11 transferências milionárias para contas de laranja e tentado adquirir criptomoedas para ocultar os recursos. O valor foi restituído pelo banco à Gerdau, que preferiu não se manifestar sobre o assunto. No processo, consta que o Banco Santander conseguiu recuperar parte do valor, mas permanece com prejuízo milionário na operação.
Em agosto de 2021, oito pessoas foram denunciadas pelo MP por envolvimento na fraude. Entre elas, Boneti e o ex-jogador Anderson. Eles foram apontados como os responsáveis por ceder a conta bancária de uma empresa que pertencia a eles para receber parte dos recursos, para depois comprar as criptomoedas por meio de uma corretora.
Conforme a denúncia, a qual Zero Hora teve acesso, um dos réus, Fernando da Silva Magnus, estava cadastrado como usuário-master da conta do Santander de uma outra empresa. O documento não revela como foi possível acessar uma conta de terceiro, mas cita uma "invasão virtual".
"Invadiu, de forma virtual e clandestina, o sistema de internet banking da aludida instituição e a conta bancária e dali comandou, como se dela fosse titular, onze transferências eletrônicas - TEDs, no montante total de R$ 30 milhões, com destino às contas das pessoas jurídicas vinculadas aos comparsas antes mencionados ou por eles direcionadas", segundo consta na denúncia do MP.
O ex-jogador Anderson também é citado como um parceiro de Fernando Magnus em uma empresa que teria recebido o valor do furto e contribuído para a execução do furto, ao obter aos dados que "possibilitaram a invasão do sistema de internet banking da referida instituição bancária, e, consequentemente, a consumação da subtração".
Para dificultar o rastreamento dos valores, imediatamente os responsáveis pelas contas de passagem teriam adquirido, por meio de uma corretora, criptomoedas que eram destinadas a uma carteira de criptoativos de outro investigado.
Os oito réus respondem pelos crimes de furto qualificado, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O processo corre na 1ª Vara Estadual de Processo e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro e está na fase de instrução, com audiência marcada para o dia 18 de setembro para depoimento de testemunhas e interrogatório dos acusados.
Procurado, o Banco Santander ainda não se manifestou. A instituição atua como assistente de acusação no processo.
Contrapontos
O advogado Julio Cezar Coitinho Jr., que representa Anderson Boneti no processo das criptomoedas, diz que o seu cliente era um dos proprietários da empresa de venda de bitcoins, mas que ele não tinha conhecimento da origem do dinheiro investido.
— Se em uma concessionária de carros aparece lá uma pessoa para comprar um carro, tu não sabes se aquela pessoa ganhou honestamente o dinheiro para comprar aquele carro ou se ela saiu do banco. Tu não tens como saber. E foi isso que aconteceu. Eles venderam bitcoins, que era uma operação rotineira da empresa. E, posteriormente à essa venda, eles vieram a saber que esse dinheiro havia sido hackeado do Santander, da conta da Gerdau — explica o advogado.
Coitinho Jr. também representa o ex-jogador Anderson Luís de Abreu Oliveira neste caso e afirma que ele era apenas sócio financiador da empresa.
— O Anderson era simplesmente o sócio financiador. Na época, no Exterior, ele colocou US$ 1 milhão nessa empresa, o dinheiro dele ganho honestamente, na sua profissão, como jogador do Manchester United, onde ele jogou durante anos. Esse dinheiro ele trouxe via Banco Central, tudo declarado certinho e colocou dentro dessa empresa — diz o advogado.
O advogado Matheus Trindade, que defende Fernando Magnus, emitiu nota:
O caso ainda se encontra em fase de instrução. Pelo momento, o que se pode adiantar é que não houve esclarecimento por parte da Polícia e do Ministério Público acerca do modo que teria ocorrido a invasão do sistema bancário.
O empresário Fernando não possui formação e conhecimentos avançados de informática, motivo pelo qual não poderia realizar as transações descritas na denúncia.
A defesa segue confiante no esclarecimento dos fatos e na absolvição do cliente.