Moradores do bairro Chácara das Pedras, na zona norte de Porto Alegre, relatam insegurança por conta de arrombamentos frequentes que vêm acontecendo na região. Em março, foram registradas cinco ocorrências de furto no bairro, e três pessoas foram presas por furto e arrombamento, conforme a Brigada Militar (BM). De acordo com o comandante do 11° Batalhão da BM, tenente-coronel Daniel Araújo, o número é considerado "aceitável" e "controlado".
Victor Barreto, morador do bairro há 25 anos, relata que há cerca de um mês houve um arrombamento em uma casa na esquina da rua onde ele mora, entre os bairros Chácara das Pedras e Três Figueiras. Depois disso, houve uma tentativa de invasão à sua residência, sem sucesso. Uma semana depois, na madrugada de uma segunda-feira (25), o arrombamento foi concretizado.
Criminosos entraram na casa por meio de uma obra no terreno do lado. Arrebentaram a tranca da garagem e roubaram um ar-condicionado split e um carrinho de mão. Barreto foi avisado por vizinhos, na manhã seguinte.
— O que assusta é ser diário, a recorrência — conta o morador.
Segundo Barreto, relatos de roubos e arrombamentos eram raros e estavam relacionados a imóveis comerciais. Para ele, a vulnerabilidade de algumas casas mais antigas do bairro e o alto poder aquisitivo dos moradores também podem estar atraindo os criminosos. O morador vive com a esposa, o filho e a sogra.
— A gente está muito preocupado. Vivíamos aqui, até então, de uma forma muito tranquila, não tinha receio. Hoje em dia, o cachorro espirra e a pessoa acorda, acabou com a tranquilidade e paz — relata. — E a gente não vê uma ronda, uma viatura passar por aqui. Eles agem como se estivessem na Disneylândia. Eu vi o cara que assaltou passar na frente da minha casa, sempre passam. Às vezes, tocam a campainha para ver se tem gente — afirma.
"A gente fechou a janela com tijolo, colocou cercas"
Lisandra Lima foi outra vítima. Sua casa foi invadida quando ela estava de férias em Garopaba (SC) com o marido, Ciro Bressiani. Morador do bairro há 50 anos, ele nunca havia passado por uma ocorrência.
A casa foi invadida na madrugada de 12 de março, quando os criminosos pularam a cerca da residência ao lado e invadiram a casa pelo telhado do sótão. Para entrar no imóvel, precisaram quebrar a parede. Ao olhar as câmeras de casa, o casal viu garrafas, comidas e roupas espalhadas. Então, deixaram Garopaba, chegaram em casa e chamaram a Brigada Militar e a Polícia Civil. Foi feita uma perícia na residência.
— Está bem difícil. Dormi três dias em um hotel porque ficamos com medo. A gente fechou a janela com tijolo, fechou tudo, colocou cercas — conta Lisandra.
Os ladrões levaram uma TV de 55 polegadas, óculos de sol, uma furadeira, serras e tênis. No dia que a polícia fez a perícia, prenderam um homem no local, que havia sido visto em câmeras carregando uma televisão.
— A gente está apreensivo de estar aqui, sempre foi um bairro tranquilo — relata a moradora.
"O problema é a impunidade"
— A nossa rua tem sido, noturnamente, alvo de arrombamento. É uma coisa que está fora do normal — relata a moradora Ludymylla Almeida.
Ela conta que o portão da garagem de sua casa havia sido forçado duas vezes antes de ser arrombado. Criminosos ainda apontaram a câmera para cima, às 22h46min do dia 29. Foram roubadas duas portas de alumínio no pátio. Ludymylla soube do furto no dia seguinte, às 6h, quando foi avisada pelo vizinho Barreto de que seu portão estava aberto pela metade.
Os ladrões ainda levaram os ovos de páscoa que seriam dados ao filho de Ludymylla, um jogo de panelas de pedra e uma sacola de mantimentos que a família ia levar para a praia, mas acabou não indo porque a criança estava doente.
— Todo santo dia a gente vê alguém falando — diz a moradora. — O problema é a impunidade. As pessoas têm câmeras, a gente vê as fotografias desses ladrões, eles são presos e no outro dia já vemos eles nas ruas — acrescenta.
Ludymylla conta que ela e outros moradores já tinham passado por furtos de itens que ficam do lado externo das residências, como placas de numeração e outros objetos, mas nunca ouviu relatos de pessoas entrando nas casas.
— A minha vontade é colocar a casa à venda e ir para um apartamento, mas é um absurdo ter que sair de casa porque o poder público não consegue dar segurança — lamenta a moradora.
Situação está "controlada", diz BM
De acordo com o comandante do 11º Batalhão da Brigada Militar, coronel Daniel Araújo, o número de arrombamentos registrados na região é considerado aceitável e controlado. Além disso, a BM diz que tem mantido policiamento permanente, tanto com efetivo quanto com drones, e contato direto com os moradores por meio de grupos de WhatsApp:
— A gente sabe que para quem sofre a ação é ruim, traumatizante, mas como um todo esse número é muito pequeno.
De acordo com ele, muitas vezes, esses criminosos são andarilhos que estão passando pela região e cometem os furtos.
Investigações na Polícia Civil
A Polícia Civil também afirma que não observa aumento de casos no bairro. De acordo com a delegada Luciana Smith, episódios de furto e arrombamento ocorrem em diversas regiões da cidade. Contudo, as equipes mantêm investigações dos casos em andamento.
— A gente trabalha em todas essas ocorrências, e as prisões feitas passam pela delegacia. No entanto, com um efetivo reduzido, priorizamos a investigação de crimes mais graves, como o de latrocínio (roubo com morte), em que duas pessoas foram baleadas em fevereiro — pontua a delegada, titular da 14ª delegacia da Capital, que atende o bairro.
Ela se refere ao episódio registrado em 22 de fevereiro, em que três criminosos invadiram a moradia de um casal que havia chegado há pouco em casa, no bairro Chácara das Pedras. O trio aproveitou que o portão da garagem estava aberto, ingressou no pátio e entrou pela porta da frente, surpreendendo o casal já dentro da casa. Um deles estava armado com uma pistola e disparou repetidas vezes contra as vítimas. O casal, dono da residência, foi baleado e segue hospitalizado. Mais de um mês depois, eles seguem internados, segundo a delegada. Segundo a Polícia Civil, que investiga o caso, o objetivo dos criminosos era assaltar o local.
A delegada orienta que moradores que perceberem movimentação estranha acionem a Brigada Militar — o que pode ser feito pelo telefone 190. Para vítimas de furtos ou arrombamentos, a orientação é chamar a polícia imediatamente e não mexer no local de crime, já que a perícia, por meio de vestígios, pode ajudar a identificar autores do crime, levando a responsabilização.