Em razão de uma reforma no teto do Palácio da Polícia, servidores que trabalham no terceiro andar do local precisam ser deslocados temporariamente. Uma das possibilidades em análise é alocar parte dos agentes no museu da corporação, que fica ao lado. Por causa do reduzido espaço físico para comportar acervo histórico e servidores, pesquisadores demonstram preocupação de que as atividades de pesquisa desenvolvidas no local acabem comprometidas, assim como itens históricos que precisam de armazenamento adequado.
O museu foi reaberto no fim de 2020, depois de um intenso trabalho das equipes para recuperar peças que até então estavam encaixotadas, em um depósito. Foi necessário investimento de cerca de R$ 30 mil para adequar a sala onde ele funciona e adquirir móveis, entre outros gastos.
Procurada, a chefia da Polícia Civil garante que, mesmo se a mudança ocorrer, o museu seguirá com os itens expostos adequadamente e sem prejuízos a atividades de pesquisa.
A possibilidade de mudar para o museu passou a ser debatida porque o telhado do Palácio da Polícia precisa passar por reformas. Segundo a corporação, a estrutura superior já apresenta problemas há algum tempo, mas a situação se agravou em dezembro do ano passado, durante temporal que atingiu Porto Alegre.
Uma parte do forro do museu também foi atingida, mas não há necessidade de desocupar este espaço para a reforma. O acervo não sofreu perdas em razão da chuvarada.
O trabalho deve levar ao menos um semestre. A polícia não informou quando a obra deve começar, mas afirma que a previsão é que tenha início nos próximos meses. O valor da reforma e o nome da empresa responsável não foram divulgados.
Para o conserto, o terceiro andar precisa ser totalmente esvaziado. A maior parte dos servidores já foi realocado — alguns foram para a sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP), no bairro Navegantes, e outros para a Cidade da Polícia, no Partenon. Faltam apenas os integrantes do departamento de Comunicação Social da polícia, que podem ser removidos ao museu.
Mudança pode comprometer os itens históricos, alerta professora
O espaço tem em andamento projetos com docentes e alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), como o de digitalização do acervo. A professora Cláudia Mauch, do departamento de História da UFRGS, pondera que a mudança pode comprometer os itens históricos, que precisam de condições corretas de armazenamento.
— Não é um espaço grande, nos preocupa que o acervo acabe voltando para as caixas, sendo que precisam de armazenamento adequado. Estamos falando de um acervo precioso, muito importante, um patrimônio cultural do Estado que pode se perder, não pode ficar exposto a intempéries. Parte desse material já foi perdido anteriormente, justamente por não estar exposto de forma correta. Causa uma enorme preocupação e certa indignação que questão culturais acabem sempre sendo relegadas, como se fossem secundárias.
A docente também pontua que a mudança pode resultar em prejuízo a pesquisas que estão em desenvolvimento. Outra preocupação é que o trabalho de reforma se estenda e, por fim, o museu acabe fechando as portas por tempo indefinido.
— Se acontecer essa mudança, certamente haverá impacto nos projetos que estão em andamento. Prejudica alunos, professores, doutorandos, e também os servidores que atuam no museu. É um trabalho muito sério e importante para parar mais uma vez. Acho catastrófico. Claro que a se entende que a atividade policial precisa seguir, mas será que em Porto Alegre não há nenhuma outra possibilidade de alocar esses servidores? — questiona a professora.
O chefe da Polícia Civil, Fernando Sodré, destaca que outra alternativa seria alugar outro espaço para acomodar a equipe, mas é preciso verificar "custos e necessidade".
— Ainda não batemos o martelo, estamos vendo as possibilidades. Se essa equipe ficar no museu, ele não será fechado, é algo temporário. Será desocupado após a conclusão da obra — destacou.
Atualmente, o museu recebe estudantes e pesquisadores que buscam informações sobre a história da polícia e do crime no Estado. A visitação ao público em geral está fechada desde dezembro do ano passado em razão do problema no forro, e deve ser retomada após o conserto.
Viaturas, revistas e 400 armas históricas
O museu foi reaberto em outubro de 2020, no intuito de expor os itens para população, estudantes e pesquisadores. Antes, por anos, o acervo ficou em um depósito na Azenha — ali, sem as condições ideais, parte dos objetos foi perdida.
Após um trabalho feito por equipes do museu, os objetos foram voltaram a ser expostos em uma sala reformulada. Atualmente, quatro pessoas são responsáveis pelo acervo.
O acervo é composto por cerca de 4 mil peças, sendo mais de 400 armas históricas, viaturas e diversos itens usados em investigações ou obtidos em apreensões ao longo dos anos, como uma bengala que esconde uma arma e um gravador portátil analógico utilizado pela ditadura no Brasil para grampear telefones de pessoas.
Há ainda o acervo de documentos, em que é possível encontrar arquivos, por exemplo, da censura sofrida por artistas de Porto Alegre. Um deles é o Registro de Artistas do Gabinete de Censura, da década de 1940. Nele, eram armazenadas informações sobre os artistas que se apresentavam na cidade, como nome, foto, nacionalidade e tipo de atividade desenvolvida.
Um dos temas que mais atrai pesquisadores é o combate ao nazismo — uma das bandeiras do patrono da Polícia Civil, Plínio Brasil Milano. Dentre os materiais raros, estão as 84 edições da revista Vida Policial, que trata do período da Segunda Guerra Mundial e de como se deram investigações policiais da época e perseguições.
Criado em 1937 como um museu didático da Academia de Polícia (Acadepol), o Museu da Polícia Civil foi inicialmente chamado de Museu do Crime. Funcionou durante anos na antiga sede da Acadepol, sendo provisoriamente fechado em 2017, quando a academia rumou para novo prédio.
Como visitar
O Museu da Policia Civil está localizado na Rua Professor Freitas de Castro, 740, junto ao Palácio da Polícia. Está fechado para visitação do público geral desde dezembro, enquanto aguarda pela reforma. A atividade de pesquisa segue ocorrendo e o agendamento pode ser feito pelo e-mail museu@pc.rs.gov.br.