A série de assassinatos em Antônio Prado, com cinco mortes desde o começo de 2024, causa apreensão entre os moradores do município, distante 50 quilômetros de Caxias do Sul. O caso mais recente foi um duplo homicídio registrado na Rua Trento, na área central, por volta das 18h30min de domingo (17). Na casa de alvenaria ainda há sinais do assassinato dos jovens Emanuel Antonio, 20 anos, e Bruno da Silva Martins, 22.
Antônio, argentino, morreu no local. Ele estava trabalhando como safrista na cidade. Já Martins foi socorrido, mas morreu logo depois de dar entrada no hospital. Outro homem de 20 anos segue internado.
Na manhã desta terça-feira (19), o clima era de apreensão na Rua Trento. Por medo, os vizinhos preferiram não se identificar. Uma moradora de 74 anos conta que morou 20 anos em Caxias do Sul. Ela perdeu um filha de 16 anos assassinada e, em busca de uma cidade mais tranquila, mudou-se para Antônio Prado.
— Vim para tentar ter mais segurança, mas não é o que temos visto. Eu estava sentada no sofá quando ouvi os tiros. Foi um atrás do outro e vi os guris correndo, tentando se salvar. É triste e muito cruel — lamenta.
Outra moradora, de 75 anos, também teme pela segurança.
— Ouvi os tiros e achei que eram foguetes. Depois, vi os vizinhos correndo e fui ver o que era. Antônio Prado é uma cidade que se dormia de porta aberta e agora mudou muito. Quem não fica com medo diante de uma situação como essa? — questiona.
Medo em outras áreas da cidade
A escalada da violência também preocupa os demais moradores da cidade. Na área central, o assunto era dominante entre amigos. Sentado em um banco, um homem de 60 anos falou sobre a preocupação com o número de mortes em Antônio Prado:
— Sabemos que há dois grupos criminosos na cidade. Agora, eles começaram uma guerra e estão acertando as contas. Olha a situação a que chegamos, com cinco mortes em três meses.
Dois funcionários públicos que cruzavam a praça para verificar os enfeites de Páscoa também falavam sobre o assunto:
— Pelo que a gente nota, proporcionalmente, o número de mortes está maior que nas cidades grandes — diz o homem de 63 anos.
A colega dele falava justamente do medo até de atravessar a praça quando começa a escurecer.
— Como os assassinatos de domingo foram durante o dia, o pavor é imenso. A forma que o tráfico age parece ser para colocar realmente medo nas pessoas — ressalta a mulher de 39 anos.
Ela completa:
— Tu não sabe o que a pessoa que está ao lado fez. E se acontece uma execução ou um acerto de contas em um lugar público? Tem risco de bala perdida. É horrível ter esse sentimento ao sair na rua.
Forças de segurança irão intensificar ações
O número de 2024 chama a atenção, uma vez que em todo o ano passado Antônio Prado registrou um feminicídio e nenhum outro crime contra a vida. Diante desse aumento, a Polícia Civil intensificou as ações contra o tráfico de drogas. As forças de segurança atribuem parte dos assassinatos a uma disputa por território para a venda de drogas por grupos rivais que atuam na Serra.
A motivação e a autoria do crime mais recente ainda estão em investigação. Segundo o delegado Luciano Righes Pereira, os policiais passaram a segunda-feira (18) nas ruas para tentar avançar. Ele ressalta que o jovem argentino não morava na casa e tinha ido até lá para visitar amigos. Ainda não se sabe se ele era realmente o alvo ou se foi morto por estar com os irmãos. O delegado reforça ainda que nenhuma linha de investigação é descartada.
Para o tenente-coronel Giovani Gomes, à frente do 36° Batalhão de Polícia Militar (BPM), o tráfico de drogas é um dos panos de fundo para o aumento da criminalidade na cidade.
— Nós temos intensificado as ações operacionais, principalmente, as de inteligência, em conjunto com a Polícia Civil. Atuamos com repressão qualificada. Tivemos dois cumprimentos de mandado de prisão referente às primeiras ações criminosas de homicídio e agora estamos trocando informações e mantendo as operações para que a cidade fique tranquila.
Prefeitura mostra preocupação
Em nota divulgada nesta terça-feira, a prefeitura de Antônio Prado destaca que "acompanha com preocupação os índices de segurança pública da cidade" e que "não mede esforços para combater a violência. Conforme o comunicado, recentemente o efetivo da Brigada Militar da cidade foi reforçado com três profissionais e que há "diálogo constante junto ao Governo do Estado, buscando acréscimo aos efetivos dos órgãos da segurança pública, como a BM e a Polícia Civil".
Em dezembro do ano passado, ainda conforme a nota do Executivo, o município pediu à Secretaria da Segurança Pública a nomeação de um delegado titular, já que Antônio Prado é atualmente atendida por um delegado de Caxias do Sul. "Recentemente, os órgãos de segurança pública do município receberam duas novas viaturas para incrementar a segurança à população. Além disso, a Prefeitura apoia o Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública, o Consepro, em âmbito administrativo e financeiro. O repasse de valores ao Consepro foi retomado após quatro anos", finaliza a nota.