Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (1º), a delegada Tatiana Bastos, da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), afirmou que as agressões sofridas pelo porteiro Rodinei Antônio Xavier, 53 anos, em condomínio do bairro Rio Branco, em Porto Alegre, teriam motivação racista. O morador que agrediu o porteiro foi ouvido pela Polícia Civil nesta sexta, antes da coletiva de imprensa. O suspeito não teve o nome divulgado e é investigado por injúria racial, lesão corporal e ameaça.
Conforme a delegada, testemunhas foram ouvidas ao longo da semana, e nenhuma disse ter ouvido xingamentos racistas ao porteiro. Xavier, por sua vez, relata que as ofensas foram proferidas por telefone, antes do morador ir até a entrada do condomínio, onde foi atacado fisicamente.
Mesmo assim, Tatiana reforçou que a agressividade do morador, atrelada ao seu comportamento, estariam relacionadas ao crime racial.
— O racismo é justamente o fator motivacional. A lesão e a ameaça têm, por base ou por motivação, o racismo. Tanto é que a lei de racismo exige não só o dolo, a vontade de agir, mas um dolo que a gente chama de especial, ou seja, o fator motivacional — explicou a delegada.
Em seu depoimento à polícia, o suspeito admitiu os fatos, exceto de ter cometido injúria racial. Admitiu ser uma pessoa agressiva, que estava "descontrolado" e que xingou o porteiro com palavrões, de acordo com a delegada.
O caso aconteceu na noite de 21 de fevereiro, em um condomínio na Rua Professor Álvaro Alvim. Conforme o relato de Xavier, um entregador chegou à portaria do condomínio com uma encomenda, mas não soube dizer qual a torre do imóvel. O porteiro afirma ter procurado na agenda e interfonado para o morador, mas o equipamento estaria estragado. Assim, o entregador acabou indo embora sem concluir a entrega, o que gerou a briga que culminou nas agressões do morador ao funcionário do prédio.
Um outro motoboy que realizava outra entrega no momento em que o porteiro foi atacado deve ser ouvido pela polícia nos próximos dias.
— O agressor se aproveitou da desatenção da vítima, no momento em que esse outro entregador chegou, para agredi-lo pelas costas. Além disso, está sendo investigado por ameaça, por ter dito ao síndico que, enquanto Rodinei não fosse demitido, faria a vida do porteiro "um inferno" — afirmou a delegada Tatiana.
Xavier está afastado do trabalho para receber tratamento médico e psiquiátrico. Ele foi atingido com socos na cabeça e no olho. O porteiro sofre de glaucoma e ainda pode ter sequelas. Um laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) deve apontar se ele teve lesões consideradas leves ou graves.