A Polícia Civil abriu inquérito, nesta segunda-feira (26), para apurar o caso de agressão contra o porteiro Rodinei Antônio Xavier, 53 anos, ferido a socos por um morador do condomínio onde trabalha, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, na noite de quarta (21). O agressor também teria proferido ofensas racistas, segundo a vítima. O nome do suspeito não foi divulgado pela polícia.
O caso é investigado como lesão corporal e injúria racial (dentro da lei de racismo), pela Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI) da Capital. A titular é a delegada Tatiana Bastos.
A investigação foi aberta nesta manhã, e tanto o porteiro como o morador devem prestar depoimento nos próximos dias. Equipes intimam testemunhas, que também serão ouvidas.
Os policiais buscam mais imagens de câmeras de segurança — além das que já foram recuperadas — que mostrem a dinâmica dos fatos.
Ocorrência foi retificada
O caso ocorreu por volta das 21h45min da última quarta, em um condomínio na Rua Professor Álvaro Alvim, no bairro Rio Branco. Após as agressões, que foram captadas por câmeras, a Brigada Militar foi acionada.
Segundo o 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM), não foi relatado aos policiais que atenderam a ocorrência que o porteiro também teria sofrido ofensas racistas. Assim, o boletim de ocorrência foi lavrado apenas pelo crime de lesão corporal.
Por isso, o porteiro procurou a polícia na noite de sábado (24) e registrou queixa também por ofensas raciais. A ocorrência foi retificada pela delegacia de Combate à Intolerância, que fará a investigação.
Segundo moradores do condomínio, Xavier está abalado e foi afastado do trabalho para se recuperar das lesões no rosto.
Discussão começou por causa de telentrega
Na noite daquela quarta, conforme o relato de Xavier, um entregador chegou a portaria do condomínio com uma encomenda. Ele tinha o número do apartamento, mas não soube dizer qual a torre do imóvel.
O porteiro afirma ter procurado na agenda e interfonado para o morador, mas o equipamento estaria estragado. Assim, o entregador acabou indo embora sem concluir a entrega.
Pouco depois disso, a esposa do suspeito teria ligado para o telefone da portaria, e Xavier teria explicado a situação. Na sequência, o morador teria começado a xingar o porteiro, ainda por telefone, usando termos racistas para atacá-lo.
— Ele disse "negro macaco, negro de merda, vou descer aí agora e já falo contigo" — relata Xavier.
O homem teria saído de seu apartamento e ido até a residência do síndico, pedindo que o acompanhasse. Ambos teriam se dirigido até a portaria, onde o morador teria voltado a xingar Xavier, conforme o relato da vítima.
Após cerca de cinco minutos de ofensas, o suspeito teria partido para cima do porteiro, atingindo-o com socos. O síndico e outro morador, que desceu para ajudar ao ouvir a gritaria, detiveram o homem.
— Tudo que ele fez foi na presença do síndico. Não se intimidou em nenhum momento — afirmou Xavier.
Sindicato pede Justiça
O Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios do Rio Grande do Sul emitiu uma nota em repúdio e diz que acompanha o caso.
"O Sindef RS, na condição de sindicato de representação da categoria vem monitorando o caso com o seu departamento jurídico e diretores e, desde já, sinaliza para a grande possibilidade de encaminhar um movimento sindical para a próxima semana em ato público em frente ao condomínio. A busca por parte da diretoria da entidade sindical seria de reivindicar justiça, além de ampliar o debate público com foco nestas ocorrências que vem sendo reincidentes contra porteiros e zeladores. A entidade de representação de classe, Sindef RS, manifesta que é de extrema importância apontar para uma reparação direta ao trabalhador, tanto no campo emocional como no âmbito da justiça criminal. No atual momento, o trabalhador vem recebendo acompanhamento médico, onde imediatamente recebeu também a dispensa das atividades por meio de atestado médico que o resguardou e garantiu tempo de recuperação, ainda assim Rodinei passou por um exame de corpo de delito, 1h15min após o ocorrido."