Um caso de agressão a um porteiro de um condomínio do bairro Rio Branco foi flagrado por câmeras de segurança nesta semana em Porto Alegre. Rodinei Antônio Xavier, 53 anos, foi atingido por socos na cabeça desferidos por um morador na noite de quarta-feira (21).
O motivo teria sido um desentendimento envolvendo uma telentrega na portaria. O caso foi atendido e registrado pela Brigada Militar. Xavier chegou a fazer exame de corpo de delito para comprovar as agressões e foi afastado do trabalho para se recuperar em licença médica. A reportagem de GZH foi até o condomínio, mas o agressor não estava em casa.
Em entrevista, Xavier disse que um entregador chegou com uma encomenda na portaria com o número do apartamento, mas não tinha a informação sobre qual torre fica o imóvel. Então, relatou ter procurado na agenda e interfonado para o morador, mas o equipamento estava estragado. Em seguida, a esposa do agressor ligou para o telefone da portaria, contou. Rodinei disse que o entregador esteve lá, mas que foi embora.
Então, o homem teria começado a xingar o porteiro ainda pelo telefone. Segundo o porteiro, o homem teria utilizado termos racistas para atacá-lo.
— Ele disse "negro macaco, negro de merda, vou descer aí agora e já falo contigo". Então, ele desceu e ficou lá até que aconteceram as agressões. Antes, ainda passou na torre onde mora o síndico e levou até lá. Tudo que ele fez foi na presença do síndico. Não se intimidou em nenhum momento — afirmou Xavier.
Nas imagens das câmeras, é possível ver o homem indo em direção à guarita onde Xavier estava. Eles discutem por cerca de cinco minutos até que o morador atinge o porteiro com socos. Outros dois homens que estavam próximos seguram e detêm o agressor.
Lesão corporal
O caso foi atendido pela Brigada Militar (BM ) que registrou uma ocorrência por lesão corporal. Segundo Xavier, ele não foi ouvido pelos policiais durante o atendimento:
— Eles não ouviram o meu relato. Só sabiam que fui agredido dentro do condomínio.
O síndico do condomínio, que presenciou a agressão, também não estava em casa quando a reportagem foi ao local. Conforme relatos colhidos com vizinhos, ele mora no condomínio há anos.
O porteiro diz que está emocionalmente abalado e tem medo de retornar ao trabalho. Neste momento, está afastado por licença médica, mas não quer retornar ao condomínio por receio de retaliações do agressor.
GZH tentou contato com o morador, mas ele não foi localizado. Caso se pronuncie, este texto será atualizado.
BM se manifesta
Em nota, o Comando do 9º Batalhão de Polícia Militar confirma o atendimento à ocorrência, mas diz que "em momento algum foi referido aos policiais que antes da agressão teriam ocorrido ligações via telefone com xingamentos de cunho racial ou qualquer outro fato envolvendo crime de racismo." O texto diz ainda que a corporação "reafirma seu compromisso com toda comunidade e seu total repúdio a quaisquer atos de violência, discriminação e racismo". Veja a nota na íntegra abaixo:
NOTA À IMPRENSA
O Comando do 9º Batalhão de Polícia Militar tem conhecimento da ocorrência atendida na noite de quarta-feira (21/02) na Rua Professor Álvaro Alvim, no Bairro Rio Branco, onde o porteiro de um prédio informa ter sido agredido por um morador.
No local, a guarnição fez contato com o porteiro que informou se tratar de um desentendimento referente a entrega de um lanche em que um morador descontente com a situação foi até a portaria, onde houve uma discussão que terminou em agressão, momento em que morador desferiu socos no profissional.
Em momento algum foi referido aos policiais que antes da agressão teriam ocorrido ligações via telefone com xingamentos de cunho racial ou qualquer outro fato envolvendo crime de racismo, razão pela qual foi lavrado boletim de ocorrência do tipo comunicação de ocorrência policial (BO-COP) pelo crime de lesão corporal.
A Brigada Militar, como instituição dedicada a proteção e segurança de toda a sociedade, reafirma seu compromisso com toda comunidade e seu total repúdio a quaisquer atos de violência, discriminação e racismo, intoleráveis e incompatíveis com a doutrina, missão e valores da instituição.
Ten Cel Fábio da Silva Schmitt
Comandante 9ºBPM
Sindicato pede Justiça
O Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios do Rio Grande do Sul emitiu uma nota em repúdio e diz que acompanha o caso.
"O Sindef RS, na condição de sindicato de representação da categoria vem monitorando o caso com o seu departamento jurídico e diretores e, desde já, sinaliza para a grande possibilidade de encaminhar um movimento sindical para a próxima semana em ato público em frente ao condomínio. A busca por parte da diretoria da entidade sindical seria de reivindicar justiça, além de ampliar o debate público com foco nestas ocorrências que vem sendo reincidentes contra porteiros e zeladores. A entidade de representação de classe, Sindef RS, manifesta que é de extrema importância apontar para uma reparação direta ao trabalhador, tanto no campo emocional como no âmbito da justiça criminal. No atual momento, o trabalhador vem recebendo acompanhamento médico, onde imediatamente recebeu também a dispensa das atividades por meio de atestado médico que o resguardou e garantiu tempo de recuperação, ainda assim Rodinei passou por um exame de corpo de delito, 1h15min após o ocorrido."