As investigações da Polícia Civil confirmaram que o estopim de um assassinato ocorrido na noite do último dia 16 em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, foi uma briga durante um jogo de cartas. Celso Ederson Siqueira Benta, 41 anos, foi morto a facadas. O autor dos golpes, um jovem de 23 anos, cujo nome não foi divulgado pela polícia, admitiu o crime, que teria ocorrido após uma discussão seguida por agressões físicas, em meio a uma partida de canastra.
Segundo o delegado Alessander Zucuni Garcia, da 2ª DP de Santa Cruz do Sul, o conflito ocorreu em um bar do bairro Progresso, por volta das 23h de um sábado (16). Após perder várias partidas, a vítima, que jogava canastra com um terceiro homem, teria iniciado uma discussão com o rapaz de 23 anos, acusando-o de ajudar seu oponente a derrotá-lo.
Em seu depoimento, o autor negou a suposta trapaça, alegando que sequer sabia jogar cartas. Ele teria, inclusive, confundindo o nome do jogo no depoimento à polícia.
Uma câmera de monitoramento flagrou o momento em que Benta agride o homem de 23 anos. Nas imagens, o mais novo aparece se afastando do local, após as agressões. Em depoimento, o rapaz confessou ter ido até sua casa, nas proximidades, para pegar uma faca antes de retornar ao bar. Ele alega que a levou para defesa própria.
As imagens mostram que a discussão reinicia com a volta do jovem. Testemunhas tentam separá-los, mas a briga continua e, desta vez, o suspeito desfere diversos golpes no pescoço de Benta.
Mesmo ferido e sangrando muito, o mais velho não recua e consegue derrubar o jovem. Neste momento, Benta se afasta cambaleando e cai perto da porta do bar. Ele foi encontrado pelos socorristas já sem vida. Toda a cena foi gravada pela câmera de vigilância.
O autor das facadas deixou o local assim que a vítima caiu desacordada, mas se apresentou na delegacia no dia seguinte.
Conforme o delegado, o rapaz afirmou que não tinha desavenças anteriores com a vítima, embora uma testemunha tenha mencionado, sem mais detalhes, uma intriga anterior entre ambos. Após confessar o crime, o autor das facadas precisou deixar o bairro, temendo represálias.
Em liberdade
Devido à ausência de elementos para pedir a prisão preventiva, e como o investigado não tinha antecedentes criminais, ele permanece em liberdade durante o andamento do inquérito.
O delegado Alessander Zucuni Garcia afirma que o jovem não está se escondendo e mantém contato com a 2ª DP. Garcia ressalta, contudo, que a alegação de legítima defesa não ficou clara neste caso.
— De certa forma, o autor não procurou evitar o conflito. Ele diz ter pegado a faca para sua defesa, mas se quisesse apenas se proteger poderia não ter voltado ao local — afirma o delegado.
"Assassinado covardemente"
Irmão de Celso Ederson, Márcio Benta descreve a vítima como uma pessoa brincalhona, que se importava com os outros e era amado por todos. Segundo ele, Benta nunca andava armado. Por isso, define o que aconteceu no dia 16 como “uma barbárie”.
— Meu irmão foi assassinado covardemente — afirma Márcio. — Tinha muita gente no local que não ajudou meu irmão com medo do assassino — acrescenta.
O irmão contesta a decisão da Polícia Civil, que não viu motivos para deixar o autor das facadas preso ou para pedir a prisão preventiva dele.
— Ele matou meu irmão com intenção, então ele é um risco à sociedade —argumenta.
Para Márcio, a tese de legítima defesa do suspeito não é verdadeira:
— O cara sai do local e volta armado com uma faca, mata meu irmão com várias facadas, alega legitima defesa e é liberado, como vou concordar?
Produção: Camila Mendes