Mãe de um menino de três anos, Janice Rodrigues Lima, 37 anos, foi a primeira vítima de feminicídio em Caxias do Sul neste ano. O corpo da mulher foi encontrado por volta das 9h deste domingo (24), caído ao lado da cama, em uma casa na Rua Argentino Schio, no bairro Fátima. O menino estava na casa onde a vítima morava com o namorado, de 20 anos, quando aconteceu o assassinato.
Conforme informações da família, o namorado foi preso na noite de domingo (24), em Flores da Cunha, suspeito de ter asfixiado Janice por volta das 23h de sábado (23). Por volta da 1h de domingo, ele teria pedido ajuda a familiares, enrolado a criança em um cobertor e deixado o filho de Janice com a namorada do pai biológico da criança, alegando que iam a uma festa.
Irmã relata agressões frequentes
A irmã da vítima, Andréia Rodrigues Lima, 27, descreveu Janice como sendo uma mulher alegre, batalhadora, vaidosa e que sempre fazia o que estivesse ao alcance dela pela felicidade do filho. Ela ressalta que a irmã mais velha tinha o sonho de ter uma família, mesmo que o relacionamento com o pai do menino não tenha dado certo.
Para a irmã, foi justamente esse fato que levou Janice a aguentar as agressões do namorado que, segundo ela, eram frequentes. O casal estava junto há um ano e dois meses, sendo que no começo do relacionamento ele demonstrava carinho com o menino. Segundo ela, no começo do namoro, o jovem agia normalmente. No entanto, esse comportamento mudou e, com o tempo, ele não deixava mais Janice sair de casa.
Andréia afirma ainda que, em todos os lugares que a irmã trabalhou durante o namoro, os colegas também percebiam as agressões.
— Todo mundo sempre perguntava o que estava acontecendo porque ela sempre estava com dor, machucada, mancando. A gente tentava conversar com ela. Mas ela queria ser feliz, suportava e negava as agressões. Ela nunca denunciou porque queria uma pessoa para casar e criar o filho. Minha irmã suportava tudo isso.
A família mora no mesmo terreno, mas não ouviu nenhum sinal do crime vindo da casa da vítima. Segundo Andréia, o namorado da irmã pediu ajuda aos familiares e tirou o menino da casa durante a madrugada:
— Ele esperou até por volta de 1h30min de domingo e, quando todo mundo da nossa família dormiu, vieram buscar ele. Ele enrolou meu sobrinho em um cobertor e levou até a casa da irmã dele, e depois deixou o menino com a namorada do pai biológico.
De manhã, por volta das 8h, uma familiar do suspeito ligou para Andréia e disse estar com peso na consciência. Ele contou que o homem havia dito que discutiu com Janice e que, sem querer, bateu a cabeça dela.
— Ela pediu para eu ir ver se minha irmã estava bem e a encontrei morta no quarto. Não encontrei meu sobrinho na casa e entrei em desepero. Tive medo de que ele tivesse matado a criança também. Liguei para a mãe do namorado da minha irmã e perguntei sobre o meu sobrinho. Ela disse que não sabia do menino. Então, conseguiu o contato do pai e o menino estava com ele.
Ela desabafa sobre a perda brutal da irmã:
— Não temos mais nossos pais. A mãe morreu em outubro de 2022 e nosso pai em agosto de 2021. Mesmo que ela tenha feito essa escolha de ficar com ele, não é motivo para um homem tirar a vida de uma mulher. Em briga de marido e mulher, se mete a colher, sim. Não importa se a pessoa nega — lamenta Andréia.
Janice está sendo velada na Capela Mortuária do bairro Fátima. O sepultamento está programado para as 15h30min desta segunda-feira (25), no Cemitério Público Municipal.
Jovem é preso em Flores da Cunha
O namorado de Janice, um jovem de 20 anos, foi preso por volta das 22h15min de domingo (24), em um camping no interior de Flores da Cunha. O mandado de prisão preventiva foi cumprido por policiais da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Caxias do Sul.
A titular da Deam, delegada Thalita Andrich, explica que a polícia ouviu o depoimento de testemunhas para que pudesse solicitar o pedido de prisão do suspeito. Ela afirma que desde o começo da manhã a Brigada Militar (BM) realizou buscas e, ao longo do dia, recebeu a informação de que o homem estava escondido em Flores da Cunha.
— Fizemos buscas em um camping, em uma área mais afastada da cidade, mas ele não tinha sido localizado. No final da tarde, com o auxílio da família dele, a gente conseguiu chegar. Ele quis se entregar também — destaca a delegada, salientando que para a Polícia Civil não há dúvidas de que foi feminicídio:
— Vamos ouvir o depoimento de todas as testemunhas e depois vamos interrogá-lo. Para nós está muito claro que é um feminicídio, até porque a perícia constatou a causa da morte, que seria por asfixia. A morte será confirmada pela necropsia mas, em razão de todo o contexto, não há dúvidas em relação a isso — garante Thalita.
ONDE BUSCAR AJUDA EM CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
- Patrulha Maria da Penha: (54) 98423-2154 (o número está disponível para ligações e mensagens de WhatsApp)
- Central de Atendimento à Mulher: telefone 180
- Brigada Militar: telefone 190
- Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam): (54) 3220-9280 ou 197
- Ministério Público: (54) 3216-5300
- Defensoria Pública: (54) 3228-2298
- Coordenadoria da Mulher: (54) 3218-6026