O Ministério Público denunciou Alexsandro Alves Gunsch, 48 anos, pelo assassinato da personal trainer Débora Michels Rodrigues da Silva, 30 anos, em Montenegro, no Vale do Caí. Na análise do promotor Paulo Eduardo de Almeida Vieira, o crime foi premeditado. Na madrugada de 26 de janeiro, o corpo da mulher foi abandonado na frente da casa dos pais dela. Mais tarde, o companheiro confessou o crime.
Gunsch está preso de forma preventiva. O Judiciário confirmou no início da tarde desta sexta-feira (9) que aceitou a denúncia e que Gunsch se tornou réu no processo.
Segundo a denúncia apresentada pelo MP, naquela madrugada, por volta das 3h, na residência que pertencia ao casal, Gunsch, por estar irresignado com o término da relação, assassinou a vítima. Conforme a família, Débora tinha decidido se separar, e pretendia se mudar no dia seguinte para um apartamento alugado. A mudança já estava sendo finalizada, com a ajuda da família.
Ainda de acordo com a acusação, “de caso pensado” e de “forma premeditada”, após fazer uso de cocaína, por estar irritado pelo término do relacionamento, Gunsch esganou Débora. Logo depois, segundo o MP, o homem teria colocado o corpo de Débora já desfalecido dentro do carro dele e levado até a casa dos pais dela. No documento, o promotor considera que isso foi uma demonstração de “indiferença, ousadia e completo desprezo”.
A acusação entendeu que se trata de feminicídio qualificado. Uma das qualificadoras se dá, segundo a denúncia, pelo fato de o crime ter sido cometido por motivo torpe, em razão do sentimento de posse que o homem teria sobre a mulher, por não aceitar o término e nem as relações sociais mantidas pela vítima.
O assassinato, ainda segundo o MP, teve emprego de asfixia, confirmada pela certidão de óbito, e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, pois Gunsch teria se valido da superioridade física e, “de inopino”, ou seja de forma inesperada, “esganou a vítima, levantando-a do solo até a destruição de sua vida, dificultando, dessa forma, possibilidade hábil de defesa ou reação”.
O documento ressalta ainda que o crime foi cometido contra mulher, por razões da condição do sexo feminino, envolvendo violência doméstica e familiar, “uma vez que a vítima era companheira do denunciado, coabitando, inclusive, na mesma residência, guardando o delito relação com desavenças conjugais”.
— Um caso extremamente grave, caracterizado pela brutalidade e pela insensibilidade moral, que merecerá, por certo, pelo Tribunal do Júri, ali na frente, a devida censura, na medida da gravidade — disse o promotor sobre a denúncia.
A juíza Anabel Pereira, de Montenegro, aceitou nesta sexta-feira a denúncia contra Gunsch. Segundo a decisão da magistrada "há indícios de autoria e da existência dos fatos por meio de elementos informativos na fase inquisitorial”. O réu segue preso na Penitenciária Estadual de Canoas I.
Versão do autor confesso
Quando foi ouvido na Polícia Civil, Gunsch confessou ter assassinado Débora. No entanto, narrou que o crime teria acontecido durante uma briga, quando ele teria pego a companheira pelo pescoço, levantado e arremessado contra um guarda-roupas, e ela teria perdido a consciência na sequência. O homem alegou que colocou a vítima dentro do veículo, com intuito de buscar socorro médico, e que no trajeto ela teria morrido. No entanto, a denúncia do MP contraria essa versão do autor confesso.
Familiares de Débora não acreditavam na versão de que os dois tivessem brigado naquela madrugada. Isso porque, segundo os parentes, Gunsch teria até então demonstrado que havia aceitado a separação e Débora acreditava que essa questão estava resolvida. A família também questionava o fato de o homem não ter levado Débora até uma unidade hospitalar e decidido abandonar o corpo em frente à casa dos pais.
Após a morte de Débora, a família da personal teve acesso a um áudio, que foi repassado à Polícia Civil. Nele, um homem, que seria Gunsch, conversa com um amigo e diz que irá “resolver um assunto”. Na troca de mensagem, repassa a senha do celular e solicita ao amigo que entre em contato com alguns familiares dele e peça para “me perdoar pelo que eu vou fazer”. Pessoas próximas à Débora suspeitam de que essa mensagem indicasse que o companheiro planejava o crime.
A Polícia Civil indiciou Gunsch no início desta semana, mas ainda aguarda o laudo de necropsia do Instituto-Geral de Perícias (IGP), que deve detalhar a causa da morte da vítima. Segundo a polícia, o indiciamento teve como base a perícia realizada no local do crime, o laudo preliminar sobre a morte e o depoimento do autor confesso.
Quem era a vítima
Debby, como era conhecida, atuava como personal trainer desde 2011. Nas redes sociais, ela compartilhava dicas de treinos e rotina na academia. Formada em Educação Física pela Unisinos, trabalhava numa academia em Montenegro. Dedicada aos cuidados com o corpo, também chegou a vencer competições de fisiculturismo. Alexsandro também é fisiculturista.
— Quando ela estava na faculdade de Educação Física, dava instrução para ele na academia. Se conheceram lá, se relacionaram, se apaixonaram. Eles viviam 24 horas juntos. Trabalhavam na mesma academia havia anos — relatou o pai de Débora, Davi Rodrigues da Silva, 71 anos, à Rádio Gaúcha, logo após o crime.
Ao longo do período em que mantiveram o relacionamento, os familiares não chegaram a perceber qualquer tipo de abuso por parte do companheiro. Era comum o casal frequentar a casa dos parentes da personal trainer, especialmente aos fins de semana. O companheiro teria um comportamento um pouco mais reservado, segundo a família de Débora. Já a personal era mais extrovertida. Ao decidir se separar, ela não teria detalhado o motivo.
Dois dias antes de ser encontrada morta, Débora havia feito a vistoria no imóvel onde planejava recomeçar a vida. Na sexta-feira, a mãe pretendia ajudá-la a arrumar os últimos itens da mudança prevista para o dia seguinte. Segundo a polícia, não havia ocorrência da vítima relatando qualquer tipo de violência doméstica por parte do companheiro e ela nunca havia solicitado medida protetiva.
Contraponto
GZH tenta contato com a defesa de Gunsch. No início desta semana, após o indiciamento, a advogada Daniela Schneider Couto afirmou que se manifestará somente nos autos do processo e que ainda não teve acesso ao inquérito.
Como pedir ajuda
Brigada Militar – 190
- Se a violência estiver acontecendo, a vítima ou qualquer outra pessoa deve ligar imediatamente para o 190. O atendimento é 24 horas em todo o Estado.
Polícia Civil
- Se a violência já aconteceu, a vítima deverá ir, preferencialmente à Delegacia da Mulher, onde houver, ou a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência e solicitar as medidas protetivas.
- Em Porto Alegre, a Delegacia da Mulher na Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências).
- As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado. Confira a lista neste link.
Delegacia Online
- É possível registrar o fato pela Delegacia Online, sem ter que ir até a delegacia, o que também facilita a solicitação de medidas protetivas de urgência.
Central de Atendimento à Mulher 24 Horas – Disque 180
- Recebe denúncias ou relatos de violência contra a mulher, reclamações sobre os serviços de rede, orienta sobre direitos e acerca dos locais onde a vítima pode receber atendimento. A denúncia será investigada e a vítima receberá atendimento necessário, inclusive medidas protetivas, se for o caso. A denúncia pode ser anônima. A Central funciona diariamente, 24 horas, e pode ser acionada de qualquer lugar do Brasil.
Defensoria Pública – Disque 0800-644-5556
- Para orientação quanto aos seus direitos e deveres, a vítima poderá procurar a Defensoria Pública, na sua cidade ou, se for o caso, consultar advogado(a).
Centros de Referência de Atendimento à Mulher
- Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência.